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Montadoras fazem feirões para tentar diminuir os estoques
Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
13/07/2002 | 18:05
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As montadoras que investiram US$ 26 bilhões no Brasil nos últimos anos talvez imaginassem, olhando no mapa, que com tamanha população (170 milhões) e tal renda por cabeça fosse possível vender até mais veículos do que os 3,2 milhões de unidades que a indústria automobilística já é capaz de produzir. Mas o tímido crescimento econômico do país e a alta concentração de renda produzem consumidores desconfiados, que não aceitam financiamentos nem mesmo a juros quase zero, como os bancados pelas mesmas montadoras.

Uma onda de pessimismo – para usar as palavras do presidente da associação das montadoras, Ricardo Carvalho – surgiu no fim do primeiro trimestre deste ano e começou a afetar os planos das montadoras que, céticas, já esperavam crescimento moderado, mas nem tanto. O vice-presidente da GM, José Carlos Pinheiro Neto, confessou em maio que não conseguira descobrir o motivo do silêncio do consumidor às “fantásticas” ofertas das montadoras. Ele foi o primeiro a revisar as projeções de vendas para este ano.

Neste fim de semana começa um novo festival de feirões para tentar diminuir os estoques das fábricas. Sindicatos de trabalhadores torcem para que dê certo, porque as montadoras começam a anunciar férias coletivas e programas de demissão no momento do ano e no tipo de período pré-eleitoral em que sempre contratam, como garante o presidente da FEM (Federação Estadual dos Metalúrgicos), Adi dos Santos Lima.

Elementar – Para o economista José Eduardo Favaretto, especializado em indústria automobilística, a razão é “elementar”. “A renda média está bastante baixa. Por outro lado, o preço do veículo é inflado por uma carga tributária muito alta e uma altíssima taxa de juros, que encarece demais o financiamento. Além disso, os consumidores estão preocupados com relação ao futuro. Ninguém sabe se estará empregado daqui a um ano. Isso inibe o volume de vendas no mercado.”

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra no censo 2000 que, na última década, cresceu 40% o número de domicílios que têm carro na garagem. Com 14 montadoras de veículos leves instaladas e outras tantas importadoras independentes, o carro do brasileiro ainda leva mais gente do que na Argentina, no Chile e no Uruguai. Mas a estimativa da idade da frota apontada pelo Sindipeças (Sindicato Nacional dos Fabricantes de Componentes para Veículos Automotores) faz lembrar a velha Belina, depois trocada por um Monza, utilizada pelos personagens do seriado de TV A Grande Família. Aumenta o número de carros com idade entre quatro e dez anos, embora tenha ocorrido até agora uma redução gradual do número de velhinhos com 11 anos ou mais. Favaretto acredita que o prolongamento destes meses fracos de vendas vai provocar um envelhecimento ainda maior da frota, embora haja uma saída “expressiva” de veículos para desmanches.




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