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Mutarelli lança hoje 'Miguel e os Demônios'
06/10/2009 | 07:00
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Divulgação


No ano passado, quando lançou "A Arte de Produzir Efeito Sem Causa", um dos finalistas do prêmio Portugal Telecom de 2009, Lourenço Mutarelli afirmava experimentar o melhor momento de sua vida. Mas ele temia o que estava por vir. "Tenho uma sensação muito grande de que vou me perder, falo isso para a minha mulher. Me desculpa, eu sinto que estou me perdendo em mim", disse à época.

Sua intuição estava certa. "Depois de lançar esse romance, vivi um bloqueio criativo", ele diz, passado mais de um ano. "Afundei muito, tive um período terrível." Críticas ao seu último livro o machucaram. "É tão fácil vir a público destruir o trabalho do outro."

Mas o pior parece ter passado, o autor reconhece, com o lançamento de uma obra inédita, "Miguel e os Demônios" (120 págs., R$ 34), e com a nova edição de "O Natimorto" (136 págs., R$ 36), ambos editados pela Companhia das Letras. O autor autografa as duas obras na Livraria da Vila (tel.: 3814-5811), a partir das 18h30 de hoje.

Miguel e os Demônios nasceu como encomenda para o cinema. Mutarelli tinha de inventar a história de um policial apaixonado por um travesti. Com a estrutura de roteiro cinematográfico, foi escrito entre 2006 e 2007.

Foi finalizado no fim do ano passado, quando Mutarelli tirou os excessos de citações de outros autores, fator que dava um teor muito teórico à ficção.

Miguel, o protagonista, é investigador. Namora Sueli, manicure cujo ex-marido é um pedófilo e cuja filha rói as quinas da parede. Seu interesse afetivo encontra novo destino quando conhece Cibele, um transexual.

"O homossexualismo é um tema geralmente tratado com fetiche e agressividade", diz. "Quis explorar com discrição o conflito desse cara que se sente atraído pelo semelhante."

Mutarelli diz que Miguel faz uma escolha: ele não pagará o preço social do seu desejo nem o abandonará. "Ele vai manter velado o seu drama interior."

A maioria dos fatos escabrosos deste romance, Mutarelli a escutou em casa - seu pai e seu irmão são do mundo policial. Mesmo sendo difícil distanciar obra e autor, Lourenço Mutarelli considera Miguel o personagem menos autobiográfico de sua produção literária.

"Ele é forte, distante, reservado, você não consegue compreendê-lo." O escritor destaca o paralelismo entre os protagonistas de A Arte de Produzir Efeito Sem Causa e de Miguel e os Demônios.

Eles são homens com mais de 30 anos que voltam a morar com os pais. Estão à beira de um colapso, que fará a vida desandar. "A narrativa desses dois livros acompanha um pedaço desse processo de distúrbio."

A diferença é que, em A Arte..., não existem elementos cômicos, presentes em larga medida, ainda que pouco explícitos, em Miguel e os Demônios. "Os policiais e os médicos têm de exercitar o humor, porque a barra deles é muito pesada", diz. "Só assim para suportar o mundo perturbador onde atuam."

Com uma narrativa fragmentada, Miguel e os Demônios discute o sentido do mal. Para Mutarelli, a maldade é um dado concreto, fruto das fraquezas humanas, como a inveja e a insegurança.

"As pessoas, ao conquistarem pequenos poderes, usam isso contra os outros", ele diz. "Existe uma maldade que não é humana, mas que é essencial - e ela está na natureza."




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