Anne Rice poe vampiros na companhia de anjos e pinturas florentinos em Vittorio, o Vampiro (Rocco, 208 págs., R$ 23). Seriam novas crônicas vampirescas da autora de Entrevista com o Vampiro se nao fosse a mesma Anne Rice esforçando-se para espremer criatividade neste novo romance pop de terror. A fórmula, que deu certo com os personagens Lestat, Armand e cia., cambaleia. Talvez por isso ela tenha floreado seu universo sobrenatural introduzindo anjos. Seria a semente de crônicas celestiais?

Toda a história se passa na Florença renascentista do século XV. A arte italiana da época é lembrada nas telas que reproduzem anjos e santos de Fra Filippo Lippi (1406-1469), cujas obras exprimem sua natureza em conflito (monge e pecador). Estes trabalhos sao adorados por Vittorio, ele próprio dividido em duas naturezas: humano e vampiro. A narraçao é do personagem, 500 anos depois dos acontecimentos, adotando a mesma postura dos vampiros de Anne Rice: seriam pessoas comuns, se nao se alimentassem de seres humanos.

Vittorio é um fidalgo adolescente de 16 anos que viu sua família ser dizimada por uma horda de vampiros em seu castelo na regiao de Florença. O pai havia se recusado a pagar-lhes uma cota de crianças aleijadas e doentes, velhos, mendigos etc. Ursula, vampira desse séquito, tenta salvar-lhe da morte. Uma paixao que, bem mais tarde, torna-se aterrorizante.

O jovem busca vingança contra os vampiros Godric e Lorde Florian, líderes do grupo que assaltou sua casa. Semi-vampirizado, ainda com sangue humano, Vittorio invoca os céus. Com a ajuda dos anjos Mastema, Ramiel e Setheus, semelhantes às pinturas de Filippo, segue seu destino.

Os vampiros estao mais abjetos, e a autora, mais católica. Nunca Deus foi tao invocado e nem se viu tanta intervençao divina numa história de vampiros como essa. Nem o ritmo esteve tao irregular, com descriçoes e seqüências que ora lembram tramas dos livrinhos tipo Sabrina e Júlia, ora se aproximam da boa literatura. Vampiros, anjos, Vittorio e Ursula carecem de uma gênese mais completa. Uma brecha para a autora explorar esses personagens em outras obras, como fez com Lestat.

Com a necessidade editorial de lançar um título após o outro para abastecer seus sedentos fas, Anne Rice já dava sinais de enfraquecimento criativo em sua bibliografia que inclui uma trilogia sobre bruxas. Vittorio, o Vampiro nao é diferente. Os novos elementos funcionam como adereços de entretenimento e nada mais. Os nao-iniciados percorrerao as páginas como vampiros deslizando na sombra. Os fas terao em Vittorio apenas mais um membro da coleçao.