Dar atenção ao Mídia Ciência, uma linha de pesquisa para desenvolvimento do jornalismo científico no país, e à microeletrônica serão novidades de sua gestão. Outra seria a consolidação da doação de um terreno da Ceagesp feita pelo presidente Fernando Henrique em maio deste ano, quando a Fapesp fez 40 anos.
O terreno abrigaria museus de lazer científico e serviria de fonte de recursos para a Fundação. “O Ministério do Planejamento está verificando os procedimentos para concretizar o gesto do presidente. É uma cebola com várias camadas de problemas e temos de descascá-las por níveis”, afirma Vogt. São 700 mil m² na Zona Oeste de São Paulo.
Vogt lembra que ele e o presidente foram usuários da Fapesp. “O então professor Fernando Henrique foi bolsista nos anos 60. Eu mesmo, em 1969, recebi bolsa para me formar na França visando desenvolver o Departamento de Lingüística da Unicamp, que depois virou o Instituto de Estudos da Linguagem. Eu ainda sou usuário, pois dirijo o Mídia Ciência e o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, da Unicamp, com verbas da Fapesp”.
O orçamento para 2002 deve ser aproximadamente o mesmo do ano passado. Ciências humanas e sociais é a quarta das 13 áreas em recebimento de recursos na Fapesp. “É minha área, quero trabalhar para que cresça, tenha projetos. Tradicionalmente tem presença ativa e massa crítica importante”.
Alguns projetos culturais criados a partir de pesquisas com recursos da Fapesp nos anos 90 são o Lume, núcleo de pesquisas teatrais da Unicamp, e os documentários São Paulo Sinfonia e Cacofonia e São Paulo Cinemacidade, projetos de resgate da memória cinematográfica que se tornaram filmes.
A massa de pesquisas em humanidades é uma tradição da Fapesp iniciada em 1962 pelo professor doutor, crítico literário e ensaísta Antonio Candido. “De fato ele foi um dos primeiros pesquisadores a usar o sistema para orientandos dele. A Fapesp se instalava com apoio amplo a todas as áreas do conhecimento, e não só ao seu grupo criador, ligado a biologia”.
Para Vogt, os empresários estão mais próximos da Fapesp do que há dez anos. “Mas instalar uma cultura de mecenas, de desprendimento, como é comum nos Estados Unidos, passa por uma mudança na cultura empresarial. Quando uma família como Standford cria uma universidade nos Estados Unidos, cria também a idéia de que o desenvolvimento passa pela formação constante. Significa instalarmos no país um novo modelo. Não há desenvolvimento tecnológico sem formação de competência”.
Um exemplo é a atuação da Fapesp e seus programas de parceria com empresas agrícolas na decodificação genética da bactéria causadora do cancro cítrico, a Xylella fastisiosa, e no melhoramento genético da cana-de-açúcar e do eucalipto. A Fapesp não despeja recursos nos projetos que envolvem genoma, que ficam com 6% dos investimentos em biologia. No entanto, eles são as estrelas da mídia. “Vamos estudar as condições que permitam não só produzir conhecimento e difundi-lo, mas transformá-lo em riqueza, com valor econômico e social”. Em um país como o Brasil, com problemas estruturais, isso é um desafio e tanto.
“O dia tem 24 horas”, afirma Vogt. Isso quer dizer que ele manterá suas atividades de diretor de redação da revista eletrônica ComCiência, produzida pelo Labjor, que dirige, e editor-chefe da revista Ciência e Cultura, da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), onde é vice-presidente. Este mês lança seu sexto livro, Ilhas Brasil, pela Ateliê Editorial, com poemas inéditos. Junto com o livro, um CD-ROM que reúne tecnologia e linguagem poética produzido pelo artista gráfico João Batista da Costa Aguiar.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.