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Tempo de novidade no jazz

Cantora Leila Maria aposta em repertório inédito e autoral em sua obra mais ousada

Daniela Pegoraro
28/11/2018 | 07:00
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Divulgação


“Quanto tempo falta para entender/Que a falta que te faz é tempo para viver?”. Ritmado pela poesia, são estes os versos que abrem o novo disco de Leila Maria, Tempo (Biscoito Fino, R$ 30, em média). Trata-se apenas de uma pitada da reflexão sentimental e existencial que se seguem nas faixas seguintes do projeto.

A cantora carioca de jazz classifica o álbum como o mais ousado da carreira, justamente por estar recheado com canções originais – apenas a faixa Poeira e Solidão é regravada da original de Sueli Costa. Em vista dos projetos musicais anteriores, enxerga que a voz também se modificou, especialmente porque grande parte de seu trabalho era interpretações de repertórios de grandes músicas do jazz, da música popular brasileira e do pop. “Isso exige do cantor um certo rigor e muita segurança. Mas em Tempo me vi despreocupada. A maioria das canções nunca tinha sido gravada, estava criando o padrão, que podia ser o que meu coração mandasse na hora. Talvez, para alguns fãs desse rigor que eu imprimi aos meus discos anteriores, a emissão da minha voz neste CD seja uma surpresa”, diz a artista.

Assim como o título sugere, a temática temporal foi pensada como um todo e se encontra presente em praticamente todas as dez canções. “Quando começamos a reunir repertório para o disco, percebemos que muitas das músicas faziam alusão ao tempo, nominalmente ou em sua abordagem. E não é possível falar desses nossos tempos sem fazer algum tipo de crítica. Como diz um verso da música Poeira e Solidão: ‘Que triste é o nosso tempo’”, comenta Leila.

O disco é projeto autoral e inédito em parceria com o produtor Rodrigo Braga, este responsável por adicionar traços da música brasileira ao trabalho. “Quando conheci o Rodrigo, ele não tocava jazz habitualmente. A linguagem musical dele era dedicada ao samba, jongo e às suas próprias músicas no grupo do qual fazia parte. Enquanto nossa amizade e o trabalho progrediam, fomos achando forma de cantar e tocar jazz que misturava essa pegada dele. É resultado bastante interessante e surpreendente”, revela.

O jazz veio como paixão na vida da artista desde pequena. O pai era oficial da Marinha Mercante e trazia de suas viagens discos de bandas e cantores do estilo musical que hoje incorporou na carreira. Mas não foi apenas o jazz que fez parte de suas referências. “Desde pequena convivi com esse som e com o idioma também. Isso se harmonizava com as cantoras e cantores do rádio, que minha mãe ouvia sem parcimônia”, explica. “Então eram Ângela Maria e Elizeth Cardoso misturadas com Ella Fitzgerald e Billie Holiday, Nat King Cole com Nelson Gonçalves, Waldir Calmon e Count Basie, por aí. Depois isso tudo ainda se misturou mais ainda com as minhas descobertas adolescentes: Beatles, Joplin, o som da Motown, Gal Costa, Maria Bethânia e Elis Regina.”

Parte das referências que a moldaram pode ser vista também em Leila Maria Canta Billie Holiday in Rio (2015), seu projeto anterior. Com ele, ela foi reconhecida e recebeu o Prêmio da Música Brasileira na categoria de melhor disco em língua estrangeira.




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