Os negros brasileiros de classe média alta, financeiramente bem sucedidos, rejeitam produtos étnicos como roupas coloridas e turbantes chamativos, de linha afro. Mais concentrados em Sao Paulo do que no Rio, nao se alinham nem se envolvem com o movimento negro, cujas açoes consideram pouco eficazes e até preconceituosas. Nao simpatizam também com ambientes exclusivos para negros, comuns no modelo americano. Desejam sobretudo a plena integraçao social, com negros e brancos convivendo nos mesmos espaços.

Essas sao algumas indicaçoes da pesquisa realizada por Janaína Soares para a tese de mestrado em administraçao e marketing Profissionais liberais negros: espaço, identidade e consumo. "Eles querem, por exemplo, entrar num prédio de classe média ou alta como moradores ou como visitantes, sem causar estranheza nem serem confundidos com os empregados", diz.

Qualidade - Sao pessoas que cultivam a elegância clássica e sao exigentes quanto ao que usam. Preferem a qualidade à marca, embora a etiqueta possa ter algum valor. Apreciam bebidas de linhagem, seja uísque de 12 anos, seja vinho de safra nobre. Mas nao dispensam a cerveja, embora nao em botequins. Gostam de boa música, inclusive o samba de raiz, mas rejeitam o pagode comercial, de letra e melodia pobres. Na culinária, querem a mesa farta, com preferência acentuada pelo peixe, embora, vez por outra, haja espaço para a feijoada.

Esse negro, profissional liberal e rico, ainda é um emergente. "Ele representa o começo de uma nova geraçao socialmente bem sucedida, dentro de uma família que, em geral, tem origem modesta. É uma classe média em ascensao, que valoriza muito essa conquista", afirma Janaína Soares.