Os sete municípios do Grande ABC somam mais de 2,7 milhões de habitantes e um PIB (Produto Interno Bruto) superior a R$ 114 bilhões. Os destaques são as cadeias produtivas da indústria automotiva, da química e da petroquímica. Ainda que enfrente a diminuição relativa da indústria de transformação no produto total e, possivelmente, a substituição de elos da cadeia produtiva pela importação, o Grande ABC é, e permanecerá, uma região industrial. Como expusemos em trabalho publicado na última Carta de Conjuntura do Observatório da USCS, a região apresentou, desde os anos 1980, assim como o município de São Paulo, perda de ocupações nas atividades de transformação industrial e o aumento das ocupações nos serviços. Entretanto, os serviços sofisticados, como o setor financeiro e empresas de consultoria e marketing, e desenvolvimento tecnológico estão mais concentrados naquele município – como atesta o mercado acionário brasileiro na Bolsa de Valores, ou a presença das sedes dos principais bancos que operam no País.
Se ainda não preocupa, a maior participação dos serviços, no mínimo, levanta dúvidas sobre a trajetória da economia do Grande ABC, em particular, como irá evoluir o emprego e a renda? Já há indícios da sobre-educação, pessoas que exercem funções que exigem menor nível de qualificação do que possuem, e, mantida a tendência – aumento na participação de serviços tradicionais no PIB regional –, a diminuição do rendimento médio do trabalho.
Uma estimativa setorial, para o ano de 2010, calculou em R$ 106 bilhões o PIB regional. Considerando a fabricação de automóveis, e a fabricação de peças e assessórios, quase um terço da economia do Grande ABC naquele ano deveu-se à automotiva. O primeiro desses três setores tem importante multiplicador de emprego e de produto, considerando o parâmetro da indústria nacional. Ou seja, o investimento neste setor gera empregos diretos e muitos empregos indiretos, além de elevar a renda bem acima do próprio investimento inicial – devido aos efeitos sobre a cadeia produtiva. O setor de comércio, segundo que mais contribui para o PIB, ao contrário, tem multiplicador de produto pequeno. O mesmo pode ser verificado quanto aos multiplicadores de renda e salários.
Em geral, admite-se que os serviços com menor grau de sofisticação, como o comércio, têm sua renda derivada da renda industrial. Ou seja, como apresentam pouca intensidade tecnológica e poucas oportunidades para o ganho de escala, esses serviços dependem da elevação da renda industrial, convertida em maior demanda por serviços, para aumentarem sua renda.
No Grande ABC, os serviços mais elaborados têm, aparentemente, menor participação no PIB regional do que a contrapartida no PIB nacional: por exemplo, a intermediação financeira, que representava 2,4% na região e 6,8% no PIB nacional, em 2010. Atividades jurídicas, serviços de arquitetura e engenharia e outras atividades profissionais e científicas representavam 1,3%, 0,8% e 0,2% do PIB regional, e 2,4%, 0,9% e 0,6% do PIB nacional.
Por que isso acontece? Os dois fatores citados, isso é, a importância relativa de São Paulo e a ausência de elos na cadeia produtiva industrial, são parte da explicação. Em tese, os serviços mais sofisticados acompanham a produção industrial. São serviços de natureza intermediária, prestados às empresas muito mais do que às pessoas físicas. Entre eles, podemos citar a área de TI, projetos, design, serviços de arquitetura, jurídicos, engenharia, finanças, marketing, contabilidade e consultoria, entre outros. Contudo, diferentemente da capital industrial, instalado fisicamente em uma localidade, o capital dos serviços mais sofisticados é, principalmente, o capital humano. E as pessoas têm muito mais mobilidade que a indústria.
É desejável que se aumente a participação desses serviços, de modo que a mudança estrutural que atinge o Brasil e o Grande ABC, a menor participação da indústria no PIB, não seja acompanhada de queda no rendimento médio. A agenda de pesquisa futura passa pela identificação dos segmentos que potencialmente poderão emergir ou instalar-se no Grande ABC. Mas, apenas como exercício mental, citamos a aproximação dos institutos de pesquisa ao setor industrial, as possibilidades abertas pela tecnologia de informação, startups, a economia criativa.
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