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Mercado aposta em queda de juro básico
Julio Brant
Do InvestShop.com
02/09/2000 | 17:31
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Apesar de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ter decidido manter a taxa de juros básica da economia (Selic) em 16,5% ao ano, o mercado continua apostando na queda até o fim do ano, em funçao da política monetária adotada pelo governo. A forte migraçao de fundos tradicionais atrelados aos juros, como os DI, para os mais agressivos, como os derivativos (livres), já mostra que os investidores apostam na queda, buscando uma relaçao prêmio x risco melhor. Segundo a Associaçao Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), em agosto, enquanto os derivativos ou livres tiveram captaçao de R$ 55,35 milhoes, os DI tiveram captaçao negativa, ou seja, mais saques do que depósitos, de R$ 678,02 milhoes.

Segundo Julius Buchenrode, diretor da Andib, os fundos de renda fixa sao a aplicaçao mais procurada pelos investidores, em funçao de ser menos arriscada do que as outras e mais rentável do que o DI. "No entanto, a procura maior é por fundos de renda fixa com perfil mais agressivo", explicou. De acordo com ele, apesar da manutençao da taxa, o investidor continuará a migrar para fundos que remunerem melhor seu dinheiro. "A tendência de queda se mantém, portanto, nao há motivos para nao continuar procurando fundos mais agressivos".

Alguns gestores consultados pelo InvestShop.com concluíram que nao há motivos para nao acreditar que as taxas continuarao caindo. Segundo Alexandre Bittencourt, gestor de renda variável do Banif, a atitude do Banco Central foi correta em relaçao ao momento da economia e mostra o comprometimento do BC com o mecanismo de meta inflacionária. "Entretanto, isso nao significa que o BC nao vai continuar baixando. Pelo contrário, a tendência é de queda. Portanto, o investidor deve procurar diversificar, buscando opçoes mais agressivas."

Já Antônio Machado Filho, administrador de Renda Variável do Opportunity, acredita que o BC foi muito inteligente em mostrar que está de olho na inflaçao e deu um sinal de comprometimento para o mercado. "Mas, apesar da decisao, é fácil dizer que os juros cairao e que o investidor nao pode deixar de buscar melhor rendimento", afirmou.

Veja como, na opiniao de gestores, ficam os principais investimentos:

Livres ou derivativos - A mais nova queridinha dos investidores, a aplicaçao em derivativos tem ganhado cada vez mais a simpatia dos investidores. Apesar da manutençao dos juros, os derivativos continuarao com boa captaçao. Segundo analistas, há uma tendência para que essa aplicaçao se torne mais rentável do que os outros tipos mais conservadores.

De acordo com Antônio Machado Filho, administrador de Renda Variável do Opportunity, a maior migraçao e a tendência de melhor rentabilidade está diretamente ligada com a tendência de mais queda nos juros. "Apesar de o Banco Central nao ter reduzido a taxa agora, há uma tendência de reduçao, portanto, os fundos mais conservadores começam a perder atratividade", explicou. Antônio acha que os investidores começam a querer melhor remuneraçao para seu dinheiro. "Por isso, mesmo mais agressivos, os derivativos estao sendo mais procurados. E é uma boa saída", afirmou.

Multicarteira - Os fundos multicarteira, devido a sua grande flexibilidade, pois podem incluir quase todo tipo de ativo (dólar, títulos públicos, açoes e derivativos), também têm boa recomendaçao por parte do mercado. Apesar da manutençao, acreditam os analistas, nao haverá mudança de planos e os investidores continuarao buscando maior rentabilidade por meio das modalidades mais agressivas.

Para Julius Buchenrode, diretor da Anbid, os fundos multicarteira sao mais fáceis de ser entendidos pelos investidores e, por esse motivo, acabam tendo mais captaçao do que os derivativos, por exemplo. "Esses fundos sao uma ótima alternativa para quem quer buscar mais rentabilidade", disse. Alexandre Bittencourt, do Banif, concorda e diz que, em breve, os multicarteira serao mais participativos no mercado. "Os investidores começam a ser atraídos por sua rentabilidade", afirmou.

Fundos de renda fixa - "Os fundos de renda fixa mais tradicionais continuarao perdendo rentabilidade e, como conseqüência, captaçao", é o que afirmou Alexandre Bittencourt, gestor de Renda Variável do Banif. Segundo ele, o caminho de migraçao para renda variável é sem retorno, e será mais intenso ao longo de seis meses a um ano. "A manutençao de juros nao impedirá essa tendência", disse, acrescentando que havia uma parte do mercado que acreditava na manutençao em funçao do cenário atual, mas que a tendência de queda continua.

De acordo com Julius Buchenrode, diretor de Anbid, os fundos de renda fixa continuam captando bem, mas os investidores estao procurando aqueles com perfil mais agressivo.

Fundos DI - A atitude conservadora do Banco Central de manter a taxa de juros sem nem mesmo mexer no viés nao muda a opiniao dos analistas de mercado, que acreditam que a tendência até o fim do ano é de queda de juros.

"Com a continuidade da queda dos juros, os fundos DI ficarao cada vez menos atrativos", afirmou Antônio Machado Filho, administrador de Renda Variável do Opportunity. Para Alexandre Bittencourt, do Banif, vai ficar cada vez mais difícil para o gestor remunerar bem em DI. "Com apenas 5% para conseguir melhores rendimentos, vai ficar cada vez mais complicado para o gestor conseguir taxas superiores à média", disse.

Para Julius Buchenrode, diretor da Anbid, os fundos DI continuarao importantes para a indústria de fundos, mas deixarao de ser o ator principal. "Os DI sao tradicionais, nao vao deixar de existir. Mas passarao a dividir a cena com outros fundos de perfis mais agressivos", analisou.

Fundos de açoes - Com a queda das taxas de juros, o crescimento econômico e a melhora dos balanços das empresas, os investimentos em bolsa começam a ganhar mais atençao. Para Bittencourt, do Opportunity, a bolsa vai dar bons ganhos e o investidor deveria apostar mais nesses fundos. "Com o crescimento econômico, a partir de um cenário de juros baixos, há uma forte possibilidade de os negócios em bolsa subirem", disse. Para ele, isso facilitará a vida dos gestores, que terao mais opçoes para montar suas carteiras. "Com o ciclo virtuoso que se vislumbra, dará para fazer um bom stock picking (escolha de açoes com melhores perspectivas de ganho)."




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