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‘Objetivo principal é quebrar barreiras’, diz gerente de Educação Inclusiva
Tauana Marin
05/11/2018 | 07:26
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Claudinei Plaza/DGABC


A inclusão de alunos com deficiência vai muito além do lugar reservado em sala de aula. A rede municipal de Educação de Santo André reúne ações e dribla as adversidades em prol do desenvolvimento de cada aluno. Visando a interface entre Educação e Saúde, a rede conta com equipe técnica multidisciplinar que contribui com o desenvolvimentos dos alunos e garante mais dignidade àqueles que precisam de assistência. 

Segundo a gerente de Educação Inclusiva da rede, Sandramara Morando Gerbelli, 40 anos, trata-se de processo contínuo e que muitos munícipes não conhecem o serviço gratuito disponibilizado. 

Quantos alunos com deficiência há na rede municipal de Educação de Santo André?

Hoje, conforme atualização feita em julho, são 1.040 alunos com algum tipo de deficiência. Desse total, a maior parcela refere-se aos deficientes intelectuais, depois vêm alunos com TEA (Transtorno do Espectro Autista), seguido dos deficientes físicos. Na Educação Infantil, referente a alunos da creche e entre 4 e 5 anos, temos aproximadamente 17 mil matriculados, desses, 1,5% tem alguma deficiência. No Ensino Fundamental, também com cerca de 17 mil alunos, temos 3,3% deles com deficiência. Já na EJA (Educação de Jovens e Adultos) são 6% de alunos com deficiência, de universo de quase 4.000 matriculados. Portanto, proporcionalmente, temos mais jovens e adultos com deficiência. Já no parâmetro quantitativo, temos parcela maior na Educação Infantil e no Fundamental. Esses dados nos mostram que precisamos nos atentar ao número de alunos com deficiência por sala. 

Atualmente, o que a rede pública oferece aos alunos?

A rede educacional de Santo André oferece estrutura significativa para atender às necessidades do aluno com deficiência. Desde fralda, alimentação específica, material adaptado – as escolas têm verba e autonomia para fazer essas adaptações, como, por exemplo, a compra de maca – no caso de a criança não andar e precisar fazer a higienização – até a adequação de um lápis para que consiga manusear. Além disso, temos equipe multidisciplinar, como fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo, terapeuta ocupacional e psicopedagogo, que são profissionais da Saúde, da Fundação do ABC, mas quem faz a gestão desse pessoal somos nós, da Prefeitura. Esses profissionais têm o foco educacional, trabalham pensando no que podem fazer na escola para favorecer a inclusão. Se precisar adaptar um copo, isso será feito, da mesma forma se precisar de apoio de pé ou a confecção de uma calça da vovó (tipo de almofada que ajuda a criança a ficar sentada, no caso de falta de controle do tronco). Essa equipe vai até a escola mediante a solicitação do professor assessor de Educação Inclusiva, Paei, ou da professora do atendimento educacional especializado, a Paee, em sala de recursos. 

O que é Paei e o que a professora de sala de recursos faz?

A Paei é a professora assessora de educação inclusiva. Essa profissional é aquela que senta com o professor, pensa no aluno com deficiência, em quais objetivos serão traçados a esse estudante e quais as adaptações necessárias em se fazer, as estratégicas, conteúdos abordados. Ela quem fala com a família, que orienta toda a equipe escolar, faz formações, além da ponte com a Saúde. Ou seja, mediante entrevista com os familiares vai saber se esse aluno precisa de algum encaminhamento à fonoaudióloga, por exemplo, ou a qualquer outro tipo de profissional. Neste ano, ampliamos o número de Paeis, de 30 para 35, já que a cada vez que uma escola é aberta, reinaugurada ou municipalizada precisamos de mais profissionais para fazer a gestão da unidade (como coordenadora pedagógica e diretora), inclusive das Paies. Em 11 anos o número de alunos aumentou, o volume de escolas também, nada mais justo do que ampliar o número de professores assessores da Educação Inclusiva. Antes, se orientava até seis escolas, hoje a Paei faz o trabalho em duas ou três. Isso traz qualidade e eficiência. Temos ainda o AEE (Atendimento Educacional Especializado). Hoje temos 20 polos das 92 unidades escolares, que são as salas de recursos, oferecidas em contraturno, ou seja, se o aluno estuda pela manhã, faz o atendimento à tarde. Entre uma ou duas vezes por semana, com atendimento, em média, de uma hora, esse estudante tem professora que atua diretamente com ele. O objetivo principal é quebrar as barreiras. Temos as salas de recursos multifuncionais para todos os tipos de diagnóstico. 

Quais são os serviços que norteiam esse aluno?

Além da professora assessora de Educação Inclusiva e do AEE, temos locais específicos para cada deficiência. Por exemplo, os alunos com cegueira são encaminhados para a Emeif Carlos Drummond de Andrade, no bairro Silveira, onde aprendem o Braile. Temos o Polo Bilíngue, com trabalho acerca da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Português na modalidade escrita, destinado ao aprendizado aos estudantes surdos. O polo é constituído pela Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) Professor Nicolau Moraes de Barros, Creche Yone Cintra de Souza e o Centro Público de Formação Profissional Valdemar Matei, na Vila Pires. Hoje, atendemos 23 alunos nessas condições. Temos também o atendimento domiciliar, para aqueles alunos que por encaminhamentos médicos e restrições de saúde não conseguem ir até a unidade escolar. Nesses casos, os mesmos têm aulas em casa, com professores da escola regular. Atualmente são 22 atendimentos domiciliares. Destes, 13 alunos recebem o atendimento educacional especializado. Há também no município o atendimento hospitalar, já que temos dois estudantes que moram no centro hospitalar. Agendes de inclusão escolar e estagiários são profissionais que dão suporte e apoio nessa cadeia toda. Eles são aqueles que recebem orientações dos Paeis, a fim de mediar algumas situações, fazer higiene e troca, realizar a alimentação nos casos de alunos que não se alimentam sozinhos, além de ajudarem na locomoção dos estudantes que fazem uso de cadeira de rodas ou possuem mobilidade reduzida, como o uso de andadores, mas, sempre, sob a supervisão da professora da sala regular. A Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) é quem fornece a alimentação específica. Temos cerca de 70 casos de disfagia na rede, alunos que possuem problemas de deglutição. Isso significa que esse aluno terá o suporte da Saúde por meio da escola. O Paei pode encaminhá-lo também ao Crem (Centro de Reabilitação Municipal), onde há fisioterapia, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. Temos também o Nanasa (Núcleo de Natação Adaptada de Santo André), hoje, com 148 pessoas frequentando. Nesses casos a escola, mais uma vez, é quem pode fazer o encaminhamento. Dos atendimentos, 70% são alunos da rede escolar e 30% são munícipes. Temos fila de espera, mas, em geral, as pessoas são contempladas. Sempre olhamos para o caso, o aluno, individualmente. Temos também parceria com Emprego Apoiado para tentar inserir alunos jovens e adultos no mercado de trabalho, outra parceria gratuita. Dentro das escolas esse pessoal avalia os alunos e faz ponte com as empresas para possível inserção no mercado de trabalho. Essa parceria iniciou neste ano. A Prefeitura realiza transporte adaptado a 153 alunos, mas ainda temos 40 em fila de espera. Como dá para sentir, atualmente nossa maior dificuldade é o profissional de apoio. O recursos humanos é nosso maior desafio, porque o aluno com deficiência precisa de gente atuando. No ano passado vieram 20 novos profissionais e, neste ano, 35 a mais, pois temos demanda constante e crescente. Estamos lutando, junto ao prefeito, para amenizarmos todos esses gargalos. 

Todas as escolas da rede têm esse suporte ou direcionam para algumas unidades escolares?

Todas as escolas municipais podem e fazem a inclusão. A única especialidade é o Polo Bilíngue, onde são encaminhados os alunos com surdez, e a Emeif Carlos Drummond, onde há a sala de recursos para os alunos com cegueira. A criança surda, por exemplo, só não será encaminhada ao polo caso tenha outra deficiência e não consiga aprender Libras, por exemplo. Nesses casos, pode ser matriculada em qualquer unidade da rede, onde receberá todo o apoio já citado. Temos caso recente de aluno com surdez que mora em Paranapiacaba. Conseguimos organizar o transporte e ele vem ao polo aprender Libras e sua família o acompanha para aprender também. 

Os profissionais do polo são como os professores da rede, concursados?

A equipe técnica, intérpretes e instrutores (da Fundação Santo André), por exemplo, são profissionais contratados. Professoras são concursadas. 

Alguns desses serviços são oferecidos aos alunos sem deficiência?

Temos o Caem (Centro de Atendimento Educacional Multidisciplinar) de Santo André, onde são encaminhados os alunos com alguma queixa relacionada a questões comportamentais, emocionais ou ao desenvolvimento de aprendizagem. Nesses casos, esses estudantes são avaliados por profissionais multidisciplinares. Quando diagnosticados com algum tipo de transtorno funcional específico, no caso de transtorno de ansiedade, de linguagem, de depressão infantil, por exemplo. Esse aluno, por meio dessa avaliação, pode fazer o tratamento no próprio Caem, com profissionais da área da Saúde, por meio das terapias. Agora, se for aluno com deficiência intelectual, automaticamente é encaminhado à unidade da Saúde da Vila Guiomar. Pioneiramente, temos alguns alunos bem pequenos que já estão na estimulação precoce. Vale mencionar que as intervenções no Caem são para os alunos com transtorno funcional específico e não par aos alunos com deficiência. 

Há quanto tempo está na gerência?

Desde janeiro de 2017. Eu já fazia parte da equipe como professora assessora de Educação Inclusiva desde 2007. Quando entrei tinha ainda o prédio do Cade (Centro de Atenção ao Desenvolvimento Educacional), o que foi instituído como serviço quando foram criados esses cargos. Os professores eram concursados desde 1996/1997, quando vieram esses alunos para a rede, na gestão Celso Daniel (1951-2002). Foi aí que começaram a pensar nesse serviço de itinerância. Em 2007, houve a criação de 30 cargos para professora assessora de Educação Inclusiva e fui contemplada. Foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Queria me aposentar como Paei, mas, nesta gestão, fui convidada a assumir a gerência e topei o desafio. É preciso entender que, muitas vezes, não damos escolha às pessoas com deficiência. É preciso sentir dentro de sala do que eles são capazes. Quando não conseguem se desenvolver academicamente, por exemplo, o que pode ser explorado? Precisamos ampliar os horizontes e pensar para além da Educação, envolvendo Cultura, lazer, outros aprendizados como aulas de música, artesanato, por exemplo. É preciso fomentar, cada vez mais, as políticas públicas. Precisamos ver que anterior ao aluno há o ser humano, com todos os direitos que lhe cabe. 




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