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Demitidos da Prometeon fazem ato por reintegração

Ao todo, 85 sequelados perderam emprego; sindicato afirma que eles têm direito à estabilidade

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
16/10/2018 | 07:14
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André Henriques/DGABC


Dos 85 trabalhadores demitidos da fábrica de pneus Prometeon (antiga Pirelli), 25 realizaram ontem ato em frente ao Fórum Trabalhista de Santo André, no Centro. O objetivo da manifestação foi chamar atenção de advogados da empresa que estavam no local, assim como de juízes, para o pedido de reintegração à companhia.

Esses profissionais sofreram acidente de trabalho ou tiveram doenças em decorrência da atividade desenvolvida na fabricante e, portanto, teriam direito à estabilidade no trabalho. Segundo o presidente do Sindicato dos Borracheiros da Grande São Paulo, Márcio Ferreira, que não participou do ato porque, segundo ele, não foi convidado, a Prometeon está agindo de maneira errada ao dispensá-los.

“O acordo coletivo da categoria, válido até 2020, possui cláusula de estabilidade. Após a reforma trabalhista (aprovada em novembro), porém, não existe mais a necessidade de fazer a homologação junto ao sindicato, ela pode ser feita na própria empresa, então não temos mais o controle de quantos estão sendo demitidos injustamente. No entanto, não fosse por nós, eles não teriam aprovada essa cláusula. Cabe entrar com ação na Justiça pedindo a reintegração, mas muitos deles têm seus próprios advogados”, dispara.

Segundo ele, caso o juiz dê ganho de causa, o processo pode levar entre um e quatro meses. “Mas tudo depende da vara de onde cair o processo”, completa.

Um dos profissionais demitidos, que pediu sigilo do nome, entretanto, diz que a cláusula não está mais no acordo deste ano, por isso eles foram dispensados, mesmo tendo dificuldades para exercer a profissão devido às lesões e cirurgias. “Muitos dos dispensados pararam de fazer a homologação no sindicato porque eles estavam nos pedindo para assinar ressalva concordando com a demissão e isentando o sindicato de qualquer responsabilidade. Ou seja, não nos resta outra opção que não a Justiça”, conta.

O dia para a manifestação, a propósito, foi escolhido porque havia julgamento de ações trabalhistas de sequelados que perderam o emprego antes deles, no início do ano. Em fevereiro, a fábrica deixou de trabalhar ininterruptamente para seis dias por semana, devido à redução na demanda, o que gerou o fim do contrato por tempo determinado de 180 profissionais.

EXCEDENTE - Os manifestantes temem que, até o fim do ano, o número de cortes, dos 85 reabilitados desde julho, chegue a 150 no fim do ano. Ferreira não descarta a possibilidade, ao citar que, dos cerca de 2.100 funcionários atuais, 250 são sequelados. Além disso, o mercado não está reagindo, o que colabora para haver volume excedente de produção, aponta o sindicalista.

“A Prometeon tem estoque suficiente para um ano. Há pneu estocado para tudo quanto é lado. O centro de distribuição da Casas Bahia em Santo André está lotado, assim como o de Jandira (Interior) e, recentemente, foi alugado outro espaço, de 14 mil metros quadrados, cujo endereço ainda não foi divulgado, para colocar mais pneus. Por isso não podemos paralisar a produção, pois não fará falta, não haverá impacto. Então, as demissões serão mais facilitadas, por isso a insegurança aumenta. É uma situação muito complicada”, assinala.


Pneumática dará férias coletivas em novembro

O presidente do Sindicato dos Borracheiros da Grande São Paulo, Márcio Ferreira, revela que, em decorrência desse cenário de queda nos pedidos e estoque elevado, a pneumática irá conceder, em novembro, férias coletivas a cerca de 200 operários que atuam na produção de pneus de trator. O afastamento deve durar 15 dias. Vale lembrar que a planta andreense confecciona pneumáticos agrícolas (60% da produção) e pesados (40%).

Inclusive, em agosto de 2017 a Prometeon anunciou aporte de R$ 80 milhões na região, e conclusão de ciclo de investimento de R$ 30 milhões na linha agrícola da unidade. Ao todo, portanto, R$ 110 milhões, serão injetados no local até 2019.

Questionada novamente, a fabricante manteve posicionamento de quinta-feira, quando foi perguntada sobre as 85 demissões desde julho. “A Prometeon informa que todo desligamento segue critérios internos, que estão de acordo com regras de compliance (conjunto de disciplinas para fazer cumprir normas legais) e, também, com a legislação trabalhista do País. Nos últimos meses, a empresa teve turnover (rotatividade) natural da operação, que segue a demanda de mercado”. As outras questões não foram comentadas.

MOVIMENTO AMPLIADO - Demitidos da Prometeon disseram que irão se manifestar pelo menos uma vez por semana até que consigam ser ouvidos. “Planejamos carreata com as famílias dos profissionais, saindo do Assaí, no Centro, passando pela Pirelli. E pedimos ajuda também dos companheiros da Bridgestone”, diz outro ex-funcionário, que também pediu sigilo.

Segundo Ferreira, na pneumática vizinha, onde cerca de 3.200 profissionais atuam, o estoque também está elevado, o que pode gerar necessidade de férias coletivas. “O problema lá é que, diferentemente da Pirelli, onde qualquer acidente de trabalho ou doença decorrente dele dá estabilidade, ao menos conforme o acordo coletivo, na Bridgestone não há essa cláusula. Só quem tem dano permanente, com a perda de algum órgão ou membro, é que tem estabilidade.”
 




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