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Polarização tende a deixar PSDB fora do protagonismo

Cenário derradeiro indica PT e Bolsonaro em eventual 2º turno, que não se dá sem o tucanato há 29 anos

Fábio Martins
Do dgabc.com.br
07/10/2018 | 07:00
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Ciete Silvério


A polarização no cenário presidencial entre PT, com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) coloca como tendência o PSDB ficar fora do protagonismo da disputa ao Planalto, situação que não acontece há 29 anos. A primeira eleição direta ao cargo pós-ditadura militar se deu em 1989, quando o tucanato, ainda engatinhando – a fundação do partido ocorreu no ano anterior ao pleito – e com chapa encabeçada por Mário Covas, não teve forças para alcançar o segundo turno, duelado entre o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Collor (PRN, atual PTC), ex-governador de Alagoas, que saiu vitorioso do páreo.

A candidatura tucana do ex-governador paulista Geraldo Alckmin não decolou durante a campanha e aparece estagnada nas pesquisas de intenções de voto, com menos de dois dígitos, na quarta colocação, apesar de ter cerca de metade do tempo eleitoral de TV e rádio. Antes do desfecho do pleito, aliados, como postulantes a governador da coligação e integrantes do Centrão, abandonaram a empreitada da Alckmin, que geriu o Estado em quatro mandatos. Essa é a segunda vez que o tucano entra na concorrência presidencial. Na primeira ocasião, em 2006, enfrentou Lula no projeto de reeleição. Foi à etapa final, mas sofreu revés, obtendo, curiosamente, menos votos no segundo turno.

A disputa, com 13 concorrentes, já está marcada por episódios atípicos, além das mudanças na legislação eleitoral – é o primeiro pleito ao Planalto com período reduzido, de 45 dias, por exemplo. Dois casos simbólicos influenciaram o panorama do processo. Um deles decorreu da impugnação da candidatura de Lula, preso e condenado no âmbito da Operação Lava Jato, até então líder nas pesquisas. O nome do petista foi barrado com base na Lei da Ficha Limpa, diante de ter sido condenado em segunda instância por órgão colegiado. Com a situação, houve a troca de Lula, como era previsto, por Haddad. O segundo surgiu com o atentado a faca contra Bolsonaro, no começo de setembro. Desde então, está em recuperação do estado de saúde.

Mesmo distante da dupla de frente nas sondagens, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), por sua vez, em terceiro lugar, busca fôlego para surpreender nesta reta final e tem usado discurso incisivo em torno de vingar como alternativa à polarização, justamente na tentativa de quebrar a confrontação projetada entre PT e o capitão da reserva. Em sua terceira disputa a presidente (1998 e 2002), o pedetista encontrou dificuldades no decorrer do processo para encostar nos líderes, mas o entorno da campanha aposta no esvaziamento de adversários que estão atrás nos levantamentos, o que poderia levar, teoricamente, ao voto útil de parte dos eleitores.

Após duas eleições presidenciais encerradas na terceira posição, Marina Silva (Rede) deve amargar seu pior desempenho, perdendo cacife político. No último pleito, em 2014, então pelo PSB, recebeu 22,1 milhões de votos (21,32%). À época, passou boa parte da empreitada em condições de chegar no segundo turno, porém foi ultrapassada por Aécio Neves (PSDB) nos dias derradeiros. No debute da ex-senadora ao posto, em 2010, pelo PV, registrou 19,6 milhões de sufrágios (19,33%). Desta vez, ela consta na quinta colocação nas pesquisas, e ainda desintegrando. Diferentemente das outras ocasiões, não conseguiu encaixar discurso.

Estado caminha ao 2º turno após 16 anos

A divisão no tucanato estadual provocará feito que não ocorre há 16 anos na eleição paulista: a realização de um segundo turno. Desde 2002, quando Geraldo Alckmin (PSDB) se reelegeu governador ao bater José Genoino na reta final, o pleito se encerra na fase inicial.

Àquela altura, Alckmin era desconhecido do eleitor paulista. Havia assumido o Estado no ano anterior, com a morte de Mário Covas. Oriundo de Pindamonhangaba e ex-deputado, enfrentou, com sucesso até então, seu maior desafio político.

O PSDB faturou a eleição estadual em primeiro turno em 2006, 2010 e 2014. A primeira, com José Serra, vencendo Aloizio Mercadante (PT). Nos pleitos seguintes, Alckmin liderou o tucanato e bateu, já na etapa inicial, Mercadante e Paulo Skaf (MDB), respectivamente.

Aliás, Skaf se transformou em protagonista neste processo eleitoral. Ele aproveitou a divisão no PSDB para ter chances reais de vitória. O tucanato se separou entre o ex-prefeito da Capital João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), vice-governador eleito na chapa de Alckmin em 2014 e que nutria esperança em ser o indicado do grupo governista à sucessão.

As mais recentes pesquisas de intenções de voto apresentam cenário embolado e com chances de reviravolta na reta final. Doria e Skaf, durante os 45 dias de campanha, duelaram cabeça a cabeça nos levantamentos eleitorais. França, em busca de ser conhecido do eleitor paulista, subiu gradativamente, apostando em críticas pesadas a Doria. Os dois foram aliados em 2016, quando o então empresário, pinçado por Alckmin para ser candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, se tornou fenômeno daquela eleição, vencendo no primeiro turno com discurso de levar ao Executivo a marca de gestor privado.

Luiz Marinho (PT), ex-prefeito de São Bernardo, também luta para não se tornar o candidato petista com menor índice de votação. Curiosamente, esse título ingrato pertence ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, em 1982, na primeira eleição petista, conquistou 10,7% do eleitorado.

Região contabiliza 126 nomes a deputado

O Grande ABC conta com 126 candidatos a deputado com reduto nas sete cidades, entre estaduais e federais, que disputam hoje a preferência do eleitorado nas urnas. Atualmente, a região registra seis parlamentares – sendo dois no Congresso e quatro na Assembleia –, a menor bancada da história, embora no último pleito proporcional, em 2014, nove quadros tenham sido eleitos. Depois de movimento de entidades da sociedade civil para concentrar o voto entre os postulantes com domicílio local há expectativa em torno do aumento da representatividade em ambas as esferas.

São 2.095.217 de eleitores. A bancada, portanto, fica longe de refletir potencial eleitoral do Grande ABC. A região chegou a eleger 13 parlamentares em 1994, sendo cinco à Câmara Federal. O número é recorde até os dias atuais. A região de Campinas, no entanto, tem 2,185 milhões de eleitores aptos a votar, índice parecido ao das sete cidades. Em 2014, por outro lado, elegeu 12 parlamentares. O Alto Tietê, por sua vez, contabiliza 1,118 milhão de votantes, quase a metade da quantidade local, e conseguiu eleger oito deputados.

Tendo como slogan ‘Quem é do ABC vota pelo ABC’, o movimento regional tenta reeditar o resultado obtido há 24 anos, quando, coincidentemente, houve salto de nove para 13 cadeiras. Na lista de postulantes da região constam desde experientes da política, como os atuais deputados, ex-parlamentares, vereadores e ex-prefeitos, a candidatos que estreiam nas urnas. 




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