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Jovens professores
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
10/10/2010 | 07:50
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Nem sempre o professor e a professora têm cabelos brancos, são superexperientes ou têm o jeito e a idade da sua mãe e do seu pai. Muitos curtem as mesmas coisas e são só pouco mais velhos do que você - ou às vezes nem isso.

No Brasil, apenas 2% dos estudantes do Ensino Médio se interessam pelo cargo de professor. Apesar dos jovens não se encantarem tanto pela profissão quanto a geração dos avós, há quem se sinta muito satisfeito transmitindo conhecimento.

É o caso de Fernanda Mota da Silva, 18 anos, de Mauá. Ela aliou a necessidade do primeiro emprego com a vontade de ensinar e treinar tudo o que aprendeu durante sete anos em que estudou inglês.

"Pedi oportunidade e passei na seleção. Posso dizer que é uma experiência bacana. É uma troca rica", conta a professora, que se divide entre correção de provas, preparação de aulas e a faculdade de Fisioterapia.

A garota dá aula para alunos de 6 a 30 anos. Ela confessa que os menos disciplinados são os adolescentes, mas que tira de letra. "Temos vários cursos por ano para aprender técnicas. A responsabilidade é grande. Além disso, em algumas situações, é preciso impor respeito."

O mesmo pensa Thiago Martins, 19. Há mais de um ano, monitora alunos nas aulas de robótica no Centro Digital de São Caetano. Ele e outros estagiários são responsáveis por elaborar projetos e tirar todas as dúvidas dos estudantes. "É gostoso quando percebemos que o aluno entende o que ensinamos. É bom transmitir o que sei."

Thiago está na faculdade de Sistema da Informação e não pretende ser professor, mas está aprendendo bastante com a experiência. "São situações diferentes por dia. Vou sair mais preparado para enfrentar qualquer tipo de relacionamento no mercado de trabalho."

O garoto conta que depois que foi para o lado da frente da sala de aula, passou a respeitar mais o trabalho de quem ensina. "Sinto na pele o que os professores vivem. Sinto-me frustrado quando os alunos demonstram desinteresse."

Com a palavra, o mestre
Ser professor de verdade é diferente de brincar de escolinha. A situação que educadores enfrentam no País não é fácil. Baixo salário, alunos mal-educados e, até perigosos, os prejudica na missão de ensinar. Mas, mesmo assim, muitos resistem. Ainda bem!

Pierluigi Piazzi é formado em Física e Química, e se dedica também ao estudo da Inteligência. Para ele, ainda vale a pena ser professor. "Temos de fazer a diferença. Tentar que a próxima geração seja melhor do que a atual e a futura, melhor do que a anterior." O mais legal, segundo ele, é ver a cara do aluno depois da explicação e perceber que aprendeu.

O professor Pier acredita que o jovem se interessa cada vez menos pela profissão por causa da baixa remuneração e do desprestígio. "Antigamente o mestre era alguém admirado, todos queriam imitá-lo. Hoje, dá aula em 20 mil lugares para poder juntar um salário decente. Fica complicado."

Para quem pretende seguir carreira, o professor dá a dica: "Qualquer pessoa pode se tornar um excelente professor, basta querer aprender o talento necessário. É preciso também ter simpatia, empatia e tolerância zero com o desrespeito. Só assim funciona."

De acordo com a Secretaria da Educação Básica, do Ministério da Educação, para ser professor é preciso fazer magistério (Ensino Médio normal que forma professores), Licenciatura e faculdade de Pedagogia (cujo profissional, além de dar aulas, também pode dirigir escolas e trabalhar para órgãos do governo relacionados à educação). É possível lecionar já a partir dos 18 anos.

A formação dos professores no Brasil é considerada uma política de Estado. Para estimular o jovem, o Ministério da Educação estabeleceu programas como Plano Nacional de Formação de Professores, que pretende beneficiar 332 mil educadores em exercício na rede pública de ensino até 2011.

Amor e responsabilidade
A paixão pela dança fez com que Thays Romão, 17 anos, e Tamires de Sousa, 18, de Diadema, tivessem vontade de ensinar. Viraram professoras na escola em que vão se formar no balé. "É gostoso ver que as meninas se sentem felizes como me sentia quando era aluna", conta Tamires.

Para Thays, ensinar exige atenção, paciência e disciplina. "Estamos sempre atentas a cada detalhe. Além dos passos, tentamos ajudar a resolver os problemas que estão passando fora da sala." Tamires complementa: "Pais nos pedem ajuda."

Karen Rosa, 16, de Santo André, também já teve a chance de ensinar dança e nunca vai esquecer da sensação de ver os alunos no palco. "Pedi para ser professora no grêmio da minha escola. Mesmo os mais velhos, sempre me respeitaram. Quero me formar professora com certeza."

Estímulo desde criança
Luiz Felipe de Campos, 15 anos, de Santo André, morou durante quatro anos no Canadá e presenciou como os gringos estimulam os jovens a serem futuros professores. "Estudava o dia todo, mas na hora do almoço, ajudava os mais novos a entrar nos ônibus e atravessar as ruas. Tinha só 11 anos. Lá, eles incentivam a gostar de ensinar", conta.

Nos Estados Unidos também é assim. Tanto que foi criado há 20 anos o programa Teach of America, em que os melhores alunos de universidades passam por processo de seleção para lecionar nas piores escolas públicas.

O projeto vai ser implantado no Brasil em 2011 como Ensinai!, e os alunos vão dar aulas de reforço. O objetivo é reduzir o déficit de aprendizagem e permitir que alunos tenham contato com jovens de diferente áreas e perspectivas.

Você sabia que ...
Em 1947, ocorreu a primeira comemoração no Brasil do Dia dos Professores. Tudo começou em São Paulo, em uma escola na Rua Augusta. Os alunos e professores tiravam 10 dias de férias em todo o período letivo. Então, quatro mestres tiveram a ideia de organizar mais um dia de descanso. A data sugerida foi 15 de outubro, ocasião em que professores e alunos traziam doces para confraternizar. A celebração do dia 15 foi oficializada como feriado um dia antes, em 14 de outubro de 1963. Desde então, está no Decreto Federal 52.682: "Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias."




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