A auxiliar administrativa Cristiana Alcântara, 36 anos, voltava do trabalho para sua residência, em Diadema, quando foi abordada por adolescente, em uma bicicleta, e obrigada, mediante ameaça, a entregar o telefone celular. O crime, cometido em junho, engrossa o total de 16.432 roubos registrados no Grande ABC entre janeiro e agosto. O número representa quase 10% de todos os casos do tipo ocorridos no Estado no mesmo período – 172.908 (veja arte abaixo).
Embora os dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública) apontem queda de 12,37% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando a região contabilizou 18.752 roubos (não está incluso o roubo de veículos), o trauma de ser assaltada ampliou a sensação de insegurança na família de Cristiane, que passou a contar com a carona do marido para ir e voltar ao trabalho.
Consultor em Segurança e pesquisador do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, José Vicente da Silva Filho pondera que o número de ocorrências observado na região é proporcional ao tamanho da população (o Grande ABC concentra 12% dos habitantes do Estado, que tem 45,5 milhões de moradores). Ele ressalta que os crimes contra o patrimônio são o principal desafio das forças policiais.
Para o especialista, o combate ao roubo depende da integração entre as polícias Militar e Civil no uso do Infocrim (banco de dados da SSP) e atuação nas ruas. “O ladrão rouba sempre. É necessário que cada distrito policial, cada delegado, cada comandante da PM façam, semanalmente, a análise dos dados para identificar onde são registradas as ocorrências mais frequentes”, detalhou.
CELULAR
Conforme Silva Filho, já há alguns anos, o roubo de celular representa um terço dos roubos. Na visão do pesquisador, só o patrulhamento efetivo e constante pode ter condições de atuar na redução dos indicadores. “Combater este tipo de ocorrência já diminui muito o número total ”, completa.
Reportagem publicada pelo Diário em fevereiro mostrou que, em 2017, o Grande ABC registrou 29.495 roubos de celular, média de três casos por hora. Os dados foram obtidos por meio da ferramenta SSP Transparência. Conforme o levantamento, a maior parte dos crimes ocorreu à noite e tinha como alvo pedestres vulneráveis.
O especialista alerta que o registro do boletim de ocorrência é importante para que as autoridades policiais possam ter a real dimensão da segurança nos bairros e nas cidades, mas reconhece que a subnotificação ainda é grande. “Pesquisa do Insper mostrou que 52% das vítimas de roubo não fazem BO, ou seja, as polícias olham um mapa ‘meio cego’”, aponta. “A população ganha quando o crime entra para as estatísticas, não o bem de volta, mas a possibilidade de não tornar a ser vítima”, conclui.
Procurada para comentar os dados, a SSP informou que as polícias Civil e Militar realizam operações constantes para combater crimes contra o patrimônio no Grande ABC e que o policiamento é realizado por meio de programas, como a Força Tática, radiopatrulhamento, Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio Motorizado) e Policiamento Comunitário, “que intensificam ações de prevenção em locais com maior vulnerabilidade, conforme a análise dos índices criminais da região”. De acordo com a Pasta, as ações conjuntas das polícias resultaram em 5.875 prisões até setembro.