Cultura & Lazer Titulo São Caetano
Fundação das Artes
continua à espera

Prefeitura admite não ter verba para a reforma e explica
investimento prioritário nas áreas de Saúde e Educação

Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
11/04/2012 | 07:30
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Abril avança e a Prefeitura de São Caetano admite não ter orçamento para a reforma da Fundação das Artes, prometida em setembro para 2012, sem a especificação do mês. A justificativa é a mesma de 2011: o município investiu prioritariamente nas áreas de Saúde e Educação, além de ter realizado obras primordiais de infraestrutura.

A administração também informou que as obras na Fundação não foram descartadas, podendo ser realizadas por etapas. Embora não tenha atrasado novamente a revitalização do prédio - desde 2010 anuncia e descumpre prazos, o Executivo cortou o diálogo iniciado com a classe artística.

Além de insatisfazer estudantes da Fundação, que organizaram no ano passado abaixo-assinado em reivindicação à reforma, a Prefeitura descontenta artistas da região que lutam pelo reconhecimento do ator Milton Andrade (1937-2009), que foi o criador da Fundação e o diretor durante 15 anos.

Na data da cremação, em 2 de dezembro de 2009, artistas arrecadaram assinaturas para encaminhar ao Executivo a sugestão de oferecer o nome do fundador à instituição artística. Segundo a escritora Dalila Teles Veras, o clima era de intensa emoção. "Redigi o documento de madrugada, quando voltei para casa, após esperar o corpo do Milton para ser velado em São Caetano. No dia da cremação, colhi as assinaturas", lembra.

O ofício foi entregue a Luiz Antonio Cicaroni, chefe de Gabinete do prefeito José Auricchio Júnior, que estava presente na cerimônia. "Lamentavelmente não tive serenidade para tirar cópia das assinaturas - fiquei apenas com o texto em meus arquivos virtuais -, nem exigir protocolo", completa.

Em entrevista ao Diário em abril de 2010, a administração garantiu que a proposta era de que o prédio fosse reformado e, na reinauguração, prevista para o fim daquele ano, já recebesse o novo nome, Fundação das Artes Milton Andrade.

Sem ver concretizada a promessa, o Fórum Permanente de Debates Culturais do Grande ABC reivindicou informações sobre o andamento do processo em documento enviado em 8 de dezembro de 2011. Nenhum retorno foi dado novamente. "Isso representa total desrespeito com a cultura e a memória, além de completo desprezo com a comunidade local", diz Dalila.

Para o ator Antonio Petrin, primeiro professor de teatro da Fundação, emprestar o nome de Andrade à instituição significa reconhecer o seu trabalho. "Milton foi um visionário. Na época em que as cidades começavam a ter desenvolvimento industrial, iniciou trabalhos de teatro amador. Depois bravamente conseguiu fazer com que a Fundação obtivesse prestígio", afirma.

Para Dalila, o amigo foi intelectual incomparável que muito contribuiu não só para a vida cultural de São Caetano, onde morou por 40 anos, como de todo o Grande ABC. "Ele participou rigorosamente de todos os movimentos culturais regionais, atuando sempre na linha de frente, contribuindo também por projetar a cidade nacionalmente", diz.

O pesquisador José Armando Pereira da Silva, amigo de infância que chegou a trabalhar ao lado do ator, ainda espera algum desfecho. "Se não há interesse da Prefeitura em dar o nome de Milton Andrade à instituição, deveria fazer outro tipo de homenagem que marque a sua atuação na formação das escolas", afirma.

A Fundação das Artes também poderia reservar espaço para o acervo documental e a biblioteca particular do ator. Essa é a sugestão de Dalila, que procura instituição que catalogue, preserve e coloque à disposição de pesquisadores o acervo da biblioteca (mais de 1.000 volumes). "Muitos desses livros possuem autógrafos dos autores para o Milton. Outros possuem anotações, ou seja, representam a história intelectual e pessoal de Milton Andrade, que só terá valor com todos eles catalogados cientificamente e colocados à disposição de pesquisadores", diz.




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