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Koellreutter, um humanista genial
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
Com AE
15/09/2005 | 08:52
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A arte mundial está mais pobre, e esta é uma daquelas perdas irreparáveis. O regente e compositor Hans Joachim Koellreutter morreu terça-feira no Hospital Santa Isabel, em São Paulo, aos 90 anos. Era daqueles seres sem fronteiras, globalizado (no bom sentido) por sua sede de conhecimento. Um humanista genial.

Nascido em Freiburg, Alemanha, foi aluno dos grandes mestres alemães no início do século – Kurt Thomas e Herman Scherchen, entre eles. De 1935 a 1936 cursou a Academia Superior de Música, em Berlim, mas foi expulso da instituição por militar contra Adolf Hitler. Prosseguiu com seus estudos de flauta, regência e composição em Genebra, Suíça. Quando o nazismo o alcançou, em 1937, fugiu para o Rio.

Sua rotina de aulas no Conservatório de Música no bairro carioca de Laranjeiras foi alterada no início dos anos 40, quando introduziu no país o dodecafonismo, então a técnica de composição mais em voga. Com seus seguidores, fundou, em 1944, o movimento Música Viva, que entrou em confronto com o nacionalismo folclorista que era a principal influência da produção musical da época. "Essa história de papa do dodecafonismo é fofoca. Mais cedo ou mais tarde isso acabaria chegando ao ouvido dos músicos brasileiros", disse em entrevista ao Diário em 1999, quando visitou o Grande ABC pela primeira vez.

Se a polêmica lhe rendeu críticos, também atraiu admiradores. E eles eram do calibre de Tom Jobim, talvez o mais célebre de seus pupilos na música popular brasileira ao lado de Caetano Veloso. Na área da música erudita, lecionou para os maestros Guerra-Peixe, Duogo Pacheco, Isaac Karabitchevsky, Claudio Santoro e Edino Krieger.

Em São Paulo, dirigiu cursos, fundou escolas. De 1963 a 1975, atuou a serviço do Instituto Goethe na Índia e no Japão e estudou a música desses países. Há 30 anos retornou ao Brasil e passou a viver em São Paulo, onde lecinou e compôs. Nos últimos anos, acometido do mal de Alzheimer, recolheu-se. Segundo reportagem da Agência Estado, seus familiares tentaram impedir a divulgação de sua morte. O compositor, em testamento, teria pedido que a notícia só fosse divulgada após sua cremação, o que ocorrerá provavelmente nesta quinta-feira.




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