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A roça pop de Vanessa da Mata
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
11/10/2010 | 07:14
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Divulgação


Em um tempo em que Gal Costa está fechada para projetos que nunca chegam e revisita todo o seu trabalho e a bossa nova, e Marisa Monte se faz cada vez mais incompreensível, Vanessa da Mata é a grande referência de agudos e voz suave da música brasileira com boa produção e excelente apelo popular.

A jovem cantora mato-grosense, aos 34 anos, chega ao seu quarto disco de estúdio Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias (Jabuticaba/Sony Music, preço médio R$ 25).

Lançada ao mercado em 2002, Vanessa soma mais álbuns que Gal (com um de inéditas) e Marisa (dois) no mesmo período.

Inspirado nos tempos de criança, na vida do interior e nas ingenuidades do século passado, o álbum lança frescor, com uma roupagem sono moderna e criativa, aos tempos das brincadeiras de rua, dos bolos de fubá das avós e da descoberta do amor.

Ainda, nas 12 faixas que compõem a obra, a cantora lança mão de prováveis hits amorosos e faz críticas à vida na cidade grande, com a costumeira falta de tempo para a felicidade e o excessivo consumismo.

O disco é uma opção de trazer alegria aos momentos cinzentos em reminiscências das fases mais felizes da vida.

Compositora de todas as músicas, duas em parceria - Vá, com Lokua Kanza e Quando Amanhecer, com Gilberto Gil - o disco traz coesão nas letras, que evidenciam o singelo da vida, o poético da simplicidade e o humor das situações.

Produzido pelo festejado produtor Kassin, reconhecido pelo experimentalismo e por trabalhos ao lado de Caetano Veloso, Jorge Mautner e Los Hermanos, as melodias trazem diversas unidades, mas levam forte tempero da África, com muita percussão ao fundo, e sofrem intervenções criativas nas mixagens de Mario Caldato Jr., que dão original tom pop ao trabalho.

FAIXAS
Abrindo o disco, O Tal Casal, já single executado nas rádios, é das mais leves e românticas faixas, fazendo parceria à Quando Amanhecer, que além de ser composta por Vanessa e Gil, é cantada pelos dois. Vá segue a linha de possível hit, com acento mais rebuscado, violinos e letra mais madura.

O reggae As Palavras - Vanessa, na década de 1990 cantou em diversas bandas do ritmo e já passou um período na Jamaica - dão a vaga lembrança de tecnobrega por conta do excesso de recursos e efeitos, mas traz a síntese do que a bolachinha quer dizer, com versos que pedem carinho no que é dito. "As palavras fogem / se você deixar / o impacto é grande demais / cidades inteiras nascem a partir daí / violentam, enlouquecem, ou me fazem dormir / adoecem, curam ou me dão limites."

Em Bolsa de Grife - com leve tom roqueiro - Vanessa brinca com as aparências comentando sobre o acessório caro e chique que a prometeu afastar o mal e dar amor caso ela lhe comprasse. A resposta diz que a compulsiva compradora ainda tem sede, solidão, dor e muitas prestações da tal bolsa para pagar.

Confessa boleira aos moldes do que a vovó faz - no encarte do disco há receita de bolo de fubá - na faixa homônima ao disco, a cantora faz coro ao time dos que acreditam que açúcar e afeto dão um jeito em todos os males do mundo.

Fiu-Fiu, de arranjos futuristas, traz mais uma das críticas aos modelos da atualidade, contando sobre a ditadura do corpo em que as mulheres se submetem. "Homens / nós não nos entendemos como antes / eles adoram mulheres air bag / e nós emagrecemos para as amigas, inimigas todas", dispara a canção.




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