Presidente do conselho deliberativo do Santo André, ex-presidente do clube e uma das pessoas mais influentes no futebol de São Paulo. Celso Luiz de Almeida acredita que as mudanças que ocorrem no futebol e a crise em que atravessa o Brasil vão dificultar ainda mais as coisas para as equipes pequenas. Para ele, a única saída é investir nas categoria de base, formar jogador em casa e fazer dinheiro.
Nesta entrevista ele conta como o Santo André está tentando sair da crise financeira, como superou a morte do ex-presidente Jairo Livolis e projeta o futuro do futebol brasileiro mais organizado e com clubes cada vez mais responsáveis financeiramente.
Raio-X
Nome: Celso Luiz de Almeida
Estado civil: Divorciado
Idade: 63 anos
Local de nascimento: Santo André, cidade onde mora atualmente
Formação: Ensino Superior
Hobby: Assistir a jogos de futebol
Local predileto: Santo André
Livro que recomenda: As Sandálias do Pescador, de Morris West
Artista que marcou sua vida: Sidney Poitier, ator, diretor, autor e diplomata bahamense
Profissão: Administrador de Empresas
Onde trabalha: Empresa do ramo de seguros
O Esporte Clube Santo André completa 51 anos amanhã, como o clube está hoje e quais são as suas projeções para o futuro?
O rebaixamento do Santo André (da Série A-1 para a Série A-2 do Campeonato Paulista neste ano) foi muito sério. Não estava no projeto da diretoria. Sou presidente do conselho deliberativo, mas nossa relação é muito boa. Com isso nós saímos de um orçamento de R$ 4 milhões de cota da Federação (Paulista de Futebol) e ficamos com menos de R$ 1 milhão para o ano que vem, sem contar a perda de visibilidade na Série A-2. A nossa sorte é que temos os patrocinadores que nos ajudam bastante e estamos atrás de outros parceiros para somar. Sabemos que a única forma da subexistência do Santo André é a categoria de base e é o que estamos fazendo hoje. Se não fizermos isso não dá. Futebol está muito caro e o Santo André não tem condições de concorrer com os outros clubes, nem na Série A-2. Vai ser um campeonato muito difícil e preocupante. Temos de fazer belo campeonato, ainda mais porque temos três times da região (São Bernardo e Água Santa são os outros dois) e isso torna o torneio ainda mais competitivo. Temos de trabalhar direitinho na contratação dos reforços, para somar com esses garotos da base para termos um bom time novamente.
Você está há mais de 40 anos no futebol, tem fluxo interessante em vários clubes paulistas, um dia passou pela sua cabeça que as equipes tradicionais do Interior passariam por essa dificuldade financeira até de colocar o time em campo?
As coisas estão caminhando de tal forma que, quem não tiver um trabalho de categoria de base forte, sólido, que tenha condições de segurar os meninos, vai ter problemas. Hoje a Série A-1 tem os quatro grandes, o Red Bull, o Ituano, o Mirassol, o Novorizontino, todos esses tem investidores. Quase todos os times da Série A-1 viraram empresas e são muito fortes. Times como Santo André, o próprio São Bernardo, a Portuguesa se não se estruturarem não vão longe.
O futebol como está mudando, se profissionalizando...
Vou te falar um coisa. O futebol brasileiro, não sei dizem em quanto tempo, mas os times que não tiverem condições de apresentar trabalho, um projeto financeiro para a Federação Paulista ou para a CBF não vai mais poder participar dos campeonatos. O futuro do futebol vai ser esse. Pode apostar. Está mais do que claro uma coisa: quem tem calendário para o ano todo prospera. O Santo André não consegue ninguém da primeira ou da segunda linha. Só vamos evoluir na hora que conseguirmos montar time com 70% da base feita no clube. Esse trabalho na Copa Paulista está sendo muito bom neste sentido. O Santo André que foi campeão da Copa do Brasil começou assim, são épocas diferentes, antes não tinha tantos empresários, mas precisamos fazer esse trabalho. Só cai time que não tem calendário.
Falta planejamento financeiros para os clubes?
Um time hoje que chega na Série A do Brasileiro não pode fazer loucura, tem de ter limite financeiro para investir porque se cair para a Série B sem saúde financeira cai de uma vez. Ai você não tem como correr atrás. Com o Joinville aconteceu isso (disputou a Série A do Brasileiro em 2015 e nesta temporada disputou a Série D).
Quais exemplos de clubes bem administrados e bem estruturados que você conhece?
Tem todos aqueles do Campeonato Paulista que já citei. Um exemplo muito bom é o Ituano que é o time que mais recebe cota (da Federação Paulista) porque está há 18 anos na Série A-1. Trabalho que começou lá atrás com o Oliveira Junior e com o Kioshi, que aliás é aqui de Santo André, e continuou com o Juninho (Paulista, ex-jogador). Ainda não chegou no Campeonato Brasileiro, mas em breve vai chegar porque é um trabalho consistente e a longo prazo.
Hoje sua relação com os jogadores é bem menor porque você é presidente do conselho deliberativo, mas como avalia a diferença do jogador de hoje com aquele mais peladeiro da década de 1970 ou 1980?
Atualmente a lei ampara muito o jogador, por isso eles perdem o norte. Eles (atletas) são cheio de razão, a lei permite isso e dificulta para tocar o futebol. Dá para dizer que o Santo André não montou time bom no Paulista? Claro que montou. Mas os jogadores vieram para jogar por eles. Tanto que a maioria está empregadas, jogando Primeira ou Segunda Divisão, só um ou outro que não. Então, isso é não ter calendário, o cara tem três meses de contrato e vai embora. Os empresários tomaram conta do futebol, além de abrir espaço muito grande. Hoje tem empresário comprando participação em procuração de jogador. O clube que não tiver estrutura vai ficar se amarrando. Mas eu acredito muito na categoria de base, assim, mesmo com a dificuldade de perder jogadores, você tem o selo de clube formador para não perder totalmente, ganha lá na frente nas negociações. Mas acho que se o Santo André continuar com esse trabalho forte, com parcerias com os times grandes, uma dessas apostas começa a faturar. Deu certo com o Paulinho (que teve 50% dos direitos federativos vendidos ao Bahia) e acredito muito no Dudu (emprestado ao São Bento, na Série B).
O assédio aos atletas das categorias de base está ocorrendo cada vez mais cedo?
Qualquer país do mundo está contratando jogadores com 17 anos. Os times grandes estão procurando em todas as divisões. O Palmeiras trouxe o Dedimar (ex-lateral e capitão do Santo André no título da Copa do Brasil, em 2004) para ser olheiro. Ele roda em tudo que é jogo, sabe tudo que tem por ai. Eles pegaram um jogador do Água Santa emprestado, faz teste, se virar contrata, caso contrário eles devolvem. O Palmeiras tem relatório de todos os times do Brasil. Eles têm uma estrutura impressionante e com isso os pequenos vão sofrer, perder os grandes jogadores cada vez mais cedo para essas equipes mais bem estruturadas neste sentido.
Como você vê a volta do Felipão ao futebol brasileiro?
Muita gente não gostou, mas está dando resultado.
Palmeiras está caminhando para ser campeão brasileiro. O Felipão é macaco velho. Para o momento que o Palmeiras está vivendo, conturbado politicamente, ele é o ideal. Traz para o peito, briga com a imprensa, protege o jogador... Esse é o grande lance dele. Sou a favor do novo, mas em um time como o Palmeiras o novo não deu certo, está provado isso. Trouxeram o Eduardo Baptista não deu certo, o Roger Machado também não.
Essa nova geração de treinadores é um reflexo do bom trabalho realizado pelo Carille?
Carille aprendeu muito com o Tite. Trabalhei com ele no Santo André, foi meu jogador. Sempre foi um cara gente boa, mas quieto e deu certo. Pode ter treinador mais velho, como o Felipão, mas tem de ter um Paulo Turra (auxiliar técnico) também. Precisa ter um cara que trabalha para você. Paulo Turra é novo, tem força para fazer o treino do time no dia a dia. Treinador velho só quebra a cara se tiver um cara ultrapassado ao lado dele.
Como vocês estão trabalhando a montagem do Santo André para a Série A-2?
Vamos ter de dar bote certo nos reforços. É muito importante passar para a segunda fase da Copa Paulista para dar rodagem aos meninos. O trabalho de base começa assim. Quando fomos campeões da Copa Estado de 2003, aquele time era só molecada, tinha talento, mas era um trabalho maduro. Esse de hoje ainda não está maduro, mas começou lá atrás. Começou tudo novo. Tem de dar o bote certo, o presidente junto com sua diretoria de futebol está fazendo isso. Estou sempre junto, apoiando, enxergo um pouco, mas entendo que precisa ser tudo muito certeiro.
Na política você já foi secretário e diretor de esportes...
Tenho relação muito boa com a Prefeitura, já fiz muitas reuniões com o Paulinho (Serra, prefeito, PSDB), com o Marcelo Chehade, temos uma relação muito boa. Sempre digo que futebol não roda se não tiver apoio da Prefeitura, da imprensa e do torcedor. Se uma dessas pontas falhar é difícil. Podemos jogar a noite no ano que vem. Temos de ter relação boa. Gosto é do Santo André, não sou candidato a nada, não me interessa, me envolvo na política para ajudar o Santo André a ter um bom relacionamento. As pessoas podem ter suas preferências, mas o clube é apolítico. Não podemos ter medo de bater na porta e pedir alguma coisa. A Prefeitura nos ajuda com o Bruno Daniel. Nunca tive vontade de ser vereador. O Paulinho me convidou para ser secretário de Esportes, por motivo particular não aceitei.
No dia 23 o Santo André completa um ano da morte do ex-presidente Jairo Livolis, um dos homens mais importantes da história. Como o clube se reestruturou para suprir essa perda significativa?
Acho que o clube está se reestruturando. O Sidney (Riquetto) conheço há muitos anos, desde a década de 1980. Fomos diretores juntos. Você não consegue assimilar as coisas de uma hora para outra. Ele está caminhando e estou sempre junto com ele para ajudar, para dar apoio. Conversamos bastante, trocamos muitas ideias para o futebol. O presidente precisa de equipe boa para tocar as coisas.
Você já passou por algumas crises com o Santo André, muitas financeiras. Crises significativas a ponto de se pensar em não ter futebol. A que o clube vive hoje, comparada com as anteriores, em que grau está?
As coisa que aconteceram no meio do caminho é que deixam tudo muito difícil. Mas o clube tem que se estruturar para sair desta fase. Não é fácil, mas eu tenho certeza que vamos nos recuperar. Uma boa campanha faz com que as pessoas venha para o estádio. Para se ter ideia, custa R$ 25 mil um jogo da Série A-2. É prejuízo direto. Muito deficitário os jogos porque o futebol está cada vez mais caro.
Santo André sempre se amparou na torcida para superar as crise, mas hoje é difícil levar gente ao Bruno Daniel?
Hoje o futebol virou negócio. O São Paulo faz promoção para levar gente ao Morumbi, o Palmeiras tem a Crefisa e tudo fica bem mais fácil... Na Série A-2 fica muito complicado. Futebol está muito caro e a crise que o País está mergulhado acrescenta mais dificuldade. para nós Só no Norte e Nordeste que eu não sei o que acontece que os clubes conseguem lotar os estádios. Estão sempre cheias as arquibancadas. Nem a crise atrapalha.
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