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Ex-chefe da CIA diz que foi bode expiatório da Casa Branca
Da AFP
27/04/2007 | 15:49
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O ex-chefe da CIA, George Tenet, afirma, em um livro que a guerra no Iraque foi iniciada sem que fosse realizado debate sério a respeito por parte da administração Bush. Ele também expressa seu descontentamento por ter sido usado como bode expiatório nas articulações da Casa Branca para justificar a invasão do país árabe.

"Pelo o que sei, jamais houve uma discussão séria na administração quanto ao surgimento da ameaça representada pelo Iraque", escreveu Tenet em seu livro de memórias intitulado "At the center of the storm" ("No centro da tormenta", em tradução livre), de acordo com a edição desta sexta-feira do jornal The New York Times.

Tenet dirigiu a central de inteligência americana por sete anos, até julho de 2004. Nessa condição, conversava diariamente com o presidente, a quem devia assessorar.

Segundo o New York Times, Tenet admite que o vice-presidente Dick Cheney e um grupo de civis que trabalhavam então no Pentágono, como o ex-secretário adjunto de Defesa (e atual presidente do Banco Mundial), Paul Wolfowitz, e Douglas Feith se dedicavam ao tema do Iraque desde final de 2001.

Tenet também acusa Cheney e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, de tê-lo transformado em um bode expiatório quando, deliberadamente, tiraram de contexto uma de suas declarações mais controversas.

"Transformaram-me em discurso de campanha: 'Ouçam (o que nos disse) este imbecil, foi assim como decidimos ir à guerra'. Ora, não vamos ser desonestos", declarou Tenet em entrevista à rede de televisão CBS, que será transmitida no domingo.

"Como se vocês precisassem de mim para se convencer a ir à guerra contra o Iraque", escreveu no livro, em trecho destacado pelo New York Times.

Resposta - A idéia de tornar Tenet um bode expiatório é "uma coisa desprezível que nunca me ocorreu", retrucou Cheney numa entrevista.

A controversa reunião em dezembro de 2002, citada no livro ‘Plano de ataque’ do jornalista Bob Woodward, teria sido dedicada a encontrar argumentos para justificar a guerra perante a opinião pública, como a existência de armas de destruição em massa no Iraque.

"Não é algo que as pessoas na rua vão entender ou acreditar", teria questionado o presidente Bush. "Não se preocupe, é algo sólido", teria respondido Tenet.

Tenet afirma que tentou minimizar as acusações contra o regime iraquiano, que a CIA não estava em condições de provar, especialmente sobre os supostos vínculos com a rede terrorista Al Qaeda. Segundo ele, essa atitude teria sido o motivo da crescente hostilidade que Cheney e Rice demonstraram para com ele até sua saída do cargo em 2004.

Histórico - George Tenet, 54 anos, foi alvo de críticas pelo fracasso da CIA na prevenção dos atentados de 11 de setembro de 2001 e por sua análise errada sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque.

Em dezembro de 2004, ganhou a mais alta condecoração dos Estados Unidos, a Medalha da Liberdade, e foi reconhecido nessa oportunidade pelo presidente Bush como "um dos primeiros em reconhecer e destacar a crescente ameaça" das redes terroristas.

Tenet se dá crédito no livro por ter alertado antecipadamente sobre o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, e se queixa da lentidão com que a burocracia da inteligência reagiu a seus avisos.




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