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Panamá quer transformar bases militares em pontos turísticos
Do Diário do Grande ABC
04/05/1999 | 11:07
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As autoridades do Panamá se preparam para receber o canal das maos dos Estados Unidos e elaboram um ambicioso plano para transformar em complexos turísticos, as instalaçoes militares norte-americanas, que incluem a famosa Escola das Américas.

Os críticos duvidam da viabilidade do plano, mas os funcionários panamenhos acreditam em recuperar a perda de milhoes de dólares ao ano, atribuída à presença militar norte-americana.

Mireya Moscoso, eleita presidente no domingo, disse que a devoluçao do canal e suas áreas adjacentes abre a oportunidade de desenvolver uma estratégia marítima, que permita utilizar o canal e suas margens, diques e estaleiros para novas e mais produtivas atividades, como transporte e turismo.

Moscoso, 52 anos, presidirá em 31 de dezembro a cerimônia na qual os Estados Unidos entregarao a estratégica ligaçao entre os oceanos Atlântico e Pacífico ao Panamá, assim como uma faixa de terra de 1.426 km2 ao longo de 50 km, mantidas sob domínio norte-americano desde a independência, em 1903.

Nicolás Ardito Barletta, que encabeça uma agência encarregada da gerência e privatizaçao das áreas ao longo do canal, crê que as bases militares podem ser transformadas em instalaçoes marítimas, parques industriais, centros de pesquisas e complexos turísticos.

"Como as áreas do Canal do Panamá vao ficar sob controle panamenho, temos a oportunidade de transformar este país e sua economia", disse Ardito Barletta, ex-presidente do país.

Enquanto os projetos industriais estao projetados para cada extremo do canal (da cidade do Panamá, no Pacífico à de Colón, no Atlântico), os de turismo e pesquisas seriam desenvolvidos no interior. "Atualmente, cerca de 300 cruzeiros que cruzam o canal por ano, mas nao páram. Eles querem parar, mas nao encontram as comodidades que necessitam", disse Ardito Barletta.

Um dos projetos que ele destacou estabelece a construçao de um luxuoso hotel sobre o canal, onde hoje se encontra a Escola das Américas, conhecida porque ali foram treinados alguns dos mais notórios ditadores do hemisfério sul, incluindo o chileno Augusto Pinochet, o paraguaio Alfredo Stroessner e o nicaragüense Anastasio Somoza.

Ardito disse que a Autoridade da Regiao Interoceânica (ARI), que está sob sua direçao, tem planos ambiciosos de desenvolvimento das instalaçoes marítimas e complexos turísticos, em cada extremidade do canal.

Os turistas poderao entao viajar ao longo do canal por trem. Kansas City South está trabalhando na restauraçao da linha construída por financistas de Nova Iorque, durante a febre do ouro, em 1840. Mas os potenciais investidores têm questionado o projeto.

Um eventual investidor de Nova York, que recentemente visitou o lugar designado para o complexo turístico, estudava pacientemente a apresentaçao oficial do projeto, quando esfregou o nariz e se dirigiu a Ardito Barletta, perguntando: "Que cheiro é esse?". Todos os dias, cerca de 312.000 metros cúbicos de dejetos sao lançados ao Oceano Pacífico. Os possíveis investidores também têm sido dissuadidos pela distância até a praia, o equivalente a uma hora de ônibus, através do calor dos trópicos e ruas congestionadas.

Os especialistas e alguns diplomatas, que preferiram o anonimato, têm considerado os planos oficiais ``muito ambiciosos' e com reminiscências dos megaprojetos soviéticos. Existe também a preocupaçao de que alguns funcionários só procurem encher os próprios bolsos. "Há risco de corrupçao", disse o comentarista político Marco Gandasegi. "Esta é a maior preocupaçao", afirmou Gandasegi, do Centro de Estudos para a América Latina (CELA).




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