Política Titulo
Buratti acumula patrimônio de R$ 1,5 milhão
20/03/2004 | 20:02
Compartilhar notícia


Rogério Tadeu Buratti largou a Secretaria de Governo de Ribeirão Preto sob circunstâncias lastimáveis. Uma gravação, feita por ele mesmo, e furtada de seu gabinete, pilhava-o dividindo com um empreiteiro lances de carta marcada no baralho imobiliário de Ribeirão, e negociando facilidades em nome do então prefeito Antônio Palocci Filho. Isso foi em 1994. Passados dez anos, Buratti, envolto em novo escândalo, é a prova de que, no mundo dos contratos públicos – que ele nunca abandonou –, reputação e êxito guardam relação peculiar.

Em depoimento à comissão de investigação aberta na Câmara Municipal de Ribeirão para apurar o significado daquela conversa, Buratti, que escapou de julgamento porque a prova fora obtida ilicitamente, declarou patrimônio de R$ 16,8 mil e renda familiar de R$ 2,8 mil.

Hoje, Buratti não tem do que se queixar. Seu patrimônio averiguável em Ribeirão, somando casas, terrenos e automóveis, ganhou mais dois dígitos. Seguindo estimativas conservadoras do mercado, totaliza pelo menos R$ 1,5 milhão. Seus rendimentos declarados também se multiplicaram, embora não na mesma velocidade.

De acordo com seu contador, José Henrique Barreira, a empresa BBS Consultores Associados Ltda., pertencente a Buratti, fatura entre R$ 200 mil e R$ 300 mil ao ano. É por intermédio da BBS, segundo o contador, que Buratti tem sido remunerado pela função de vice-presidente executivo do Grupo Leão Leão, holding de empresas que faturou R$ 170 milhões no ano passado e planeja faturar R$ 250 milhões este ano, executando serviços de limpeza e obras de infra-estrutura para a Prefeitura de Ribeirão e de outros municípios da região, além de administrar rodovias.

Com uma carreira tão vertiginosa, é natural que Buratti – originário de Osasco, onde ajudou a fundar o PT, e de onde saiu, como assessor de Palocci, num Fusca 1979 que guarda até hoje – goze de notável autoconfiança. Quando a multinacional norte-americana Gtech, a maior fornecedora e operadora do mundo de equipamentos para jogos e loterias, pediu-lhe que lhe desse uma mão nas negociações para a renovação de seu contrato de R$ 650 milhões com a Caixa Econômica Federal, ele encarou o convite com naturalidade.

Foi a Brasília, mas, quando viu do que se tratava, segundo seu relato, informou que já não atuava mais em consultoria havia cinco anos – desde que deixou a Assessorarte, empresa dedicada a organizar concursos públicos para prefeituras, cuja parte na sociedade ele transferiu à irmã em 1999, depois de entrar para a Leão Leão.

A julgar pelo interesse da Gtech, o prestígio da BBS – cadastrada com o endereço da filha de uma copeira da Leão Leão, num conjunto habitacional em Jardinópolis, na Grande Ribeirão – tem ganhado alcance internacional, até mesmo fora de sua expertise. A versão dos executivos da multinacional, de que a contratação de Buratti tivesse sido condição imposta pelo então subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz, não faz sentido, assegura Buratti: o ex-braço direito do ministro Palocci sequer conhece o ex-braço direito do ministro José Dirceu. A saída de Buratti da Prefeitura representou uma guinada em sua vida: ele deixou de contratar serviços para o município e passou a obter contratos do município. E rompeu abruptamente os fortes laços de trabalho e amizade que o uniam ao seu antigo preceptor e atual ministro da Fazenda.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;