Economia Titulo Reflexo da greve
Subsídio para o diesel pode atrasar anúncio do Rota 2030

Programa de incentivo fiscal ao setor automotivo já deveria ter sido anunciado no início do ano

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
07/06/2018 | 07:11
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Claudinei Plaza/DGABC


Com a decisão do governo federal de oferecer subsídio de R$ 9,6 bilhões em impostos para que o litro do diesel tenha desconto de R$ 0,46 na bomba – e, assim pôr fim à greve dos caminhoneiros, que durou 11 dias –, a definição do Rota 2030 deve ficar cada vez mais distante. Segundo especialistas, com a medida, o ‘cobertor deve ficar mais curto’, e a indefinição acerca do valor para o incentivo fiscal voltado ao setor automotivo, se estender. Isso apesar de o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Antonio Megale, garantir que o programa vai sair do papel.

Inicialmente, a expectativa era a de que a definição do Rota 2030 acontecesse em fevereiro, já que ele deveria substituir o Inovar-Auto, encerrado em dezembro. Porém, desde então o anúncio vem sofrendo atrasos recorrentes. A previsão mais recente era a de que o anúncio fosse feito em maio.

Megale disse que ligou ao Ministério da Fazenda na manhã de ontem e que não há chances de que o programa não aconteça. Segundo ele, o texto passa por ajustes e deve ser anunciado em breve. O maior impasse gira em torno do valor do incentivo fiscal ao setor, de R$ 1,5 bilhão para montadoras que investissem em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Informações de bastidores sinalizavam que o MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) e a Fazenda discordavam sobre o valor, o mesmo do Inovar-Auto. A dedução deve ser aplicada nos moldes da Lei do Bem, com chance de desconto no IR (Imposto de Renda) e na CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).

Para o coordenador do MBA em Gestão Estratégica de Empresas da Cadeia Automotiva da FGV (Fundação Getulio Vargas), Antonio Jorge Martins a situação atual torna ainda mais difícil uma aprovação do programa. Segundo ele, há possibilidade de que isso só seja definido no próximo governo, haja vista a proximidade das eleições presidenciais, que acontecem em outubro.

“Na realidade, qualquer tipo de programa que implica o uso de recursos por parte do governo deve ser impactado. Isso porque, de forma geral, não tem de onde tirar esse subsídio. Acredito que agora diminuiu ainda mais a possibilidade de o Rota 2030 evoluir. A produção automotiva recuou em maio, impactada pela greve, mas melhorou no acumulado do ano, em relação a 2017 (alta de 12%, com 1,2 milhão de unidades). Então por que o governo iria desfalcar ainda mais o Orçamento para programa de incentivo ao setor?”, analisou Martins.

Na avaliação do diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno, também há riscos de o programa não ser anunciado, mas não por conta das negociações com os caminhoneiros. “A ausência do anúncio causou estranheza para nós, mas a gente não acredita que tenha relação. Acreditamos que a iniciativa esteja mal resolvida e ainda tenha resistência dentro do governo. Estamos falando de algo com duração de 15 anos, e que está sendo discutida desde o ano passado, então não faz sentido, apesar de ser uma boa desculpa”, assinalou ele, que também afirmou que a entidade já conversa com as montadoras para a definição de investimentos futuros caso o Rota não saia. O Diário questionou as Pastas, mas não obteve resposta.

PRODUÇÃO - Conforme a Anfavea, as montadoras deixaram de produzir cerca de 80 mil veículos em maio por causa da paralisação. Considerando que a região responde por um terço do mercado nacional, pelo menos 26,4 mil veículos não foram fabricados na região. 


Greve derruba produção de veículos


A greve dos caminhoneiros também refletiu na queda do volume de produção de veículos. De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), foram fabricadas 212.294 unidades em maio, número 20% menor do que em abril e 15,3% inferior ao obtido no mesmo período do ano passado. Os dados incluem automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.

O setor também sentiu o baque na exportação de automóveis, que recuou 17% no mês passado em relação a abril e 17,3% se comparado a igual mês em 2017.

De acordo com o presidente da Anfavea, Antonio Megale, a paralisação influenciou diretamente nos números. “Nós fomos impactados, assim como todo o País pela greve dos caminhoneiros. Na última semana do mês o mercado parou, não conseguimos exportar. Os números de exportações chegaram a 60,7 mil, são bons, mas ainda muito aquém dos 73 mil que alcançamos em abril. A produção teve impacto, já que esperávamos que os números ficassem próximos dos 280 mil”, afirmou.

Segundo Megale, a produção das empresas, que na grande maioria ficou parada durante a greve, já foi retomada, mas ainda haverá reflexos neste mês. “Voltamos praticamente com toda a nossa produção. A gente espera que as perdas sejam gradualmente recuperadas ao longo do ano, na medida em que formos evoluindo para a situação de maior normalidade”, disse.

Em relação às vendas, o impacto da greve foi menor. Segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), em maio foram comercializadas 201,9 mil unidades, queda de 7,1% em relação a abril e alta de 28% ante igual mês em 2017.  (com agências)




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