Cultura & Lazer Titulo História
Negro é a raiz da liberdade

Para lembrar os 130 anos da abolição da escravatura, Museu Afro Brasil abre exposição

Miriam Gimenes
13/05/2018 | 07:18
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Divulgação


Edson Arantes do Nascimento, o nosso Pelé, foi o maior jogador de futebol de todos os tempos. Não à toa ganhou o título de rei. Mas antes de ser eleito como tal, ganhou outras alcunhas – Gasolina e Alemão foram algumas –, mas não por sua atuação nos campos: foi por conta do seu tom de pele. Mas, com todo seu jogo de cintura, tratou de driblar o racismo, e mostrar, dentro e fora das quatro linhas, todo seu potencial.

Ele é um dos personagens da exposição Isso É Coisa de Preto – 130 Anos da Abolição da Escravidão. inaugurada ontem no Museu Afro Brasil, em São Paulo. Com curadoria de Emanoel Araujo, a mostra destaca a presença negra na arte, história e memória brasileiras.

Araujo diz que era preciso relembrar a data – 13 de maio de 1888 foi assinada a Lei Áurea e, assim, foi extinta a escravidão no Brasil – e mostrar, ao longo dos séculos 19 e 20, tudo que foi produzido e construído por meio de pinturas, fotografias, litografias, esculturas e desenhos. “Essa exposição tem esse título Isso é Coisa de Preto porque é uma forma de ir de encontro aos jargões preconceituosos e mostrar que o Brasil deve muito à sua construção, à sua identidade, entre outras coisas, a esses negros que foram fundamentais na formação da cultura brasileira. Somos todos um povo mestiço e há lugar para todo mundo. Essas pessoas, que foram frutos da escravidão, viraram jogadores, poetas, compositores, entre outras inúmeras coisas”, explica o curador.

Para tanto, não só Pelé como outros homens e mulheres negros que marcaram época na recente história brasileira são retratados, cada qual à sua forma. Estão na exposição, descrita pelo curador como um grande painel, o médico Juliano Moreira, o poeta Luiz Gama, o escritor Manuel Querino, a cantora Elza Soares, o editor Francisco Paula Brito, os músicos Dorival Caymmi, João do Vale, Cartola, Milton Nascimento, Luiz Melodia, Jamelão, Pixinguinha, Paulinho da Viola e Itamar Assumpção, a bailarina Mercedes Baptista, o abolicionista José do Patrocínio, a atriz Ruth de Souza, Madame Satã, entre outros.

A exposição revê também a produção artística de dois países com predominante população negra: Cuba e Haiti. Obras religiosas, que mostram a união entre os cultos do vodum e da Igreja Católica, presentes no cotidiano de inúmeras famílias destas duas nações, também integram a mostra. Dos haitianos, em especial, são expostas as esculturas em ferro recortadas com seres míticos e bandeiras bordadas com miçangas, com símbolos do sincretismo religioso.

E passados 130 anos, a escravidão ainda tem reflexo no Brasil? “Pouco mudou. E é isso que essa exposição propõe, a reflexão da situação dos negros do País, a ausência nas universidades, a falta de oportunidades, de política social. São 400 anos de preconceitos, racismo e indiferença. Com a exposição o museu quer dar autoestima ao povo afro-brasileiro”, finaliza Araujo.

Isso É Coisa de Preto – 130 Anos da Abolição da Escravidão – Exposição. Museu Afro Brasil (Av. Pedro Álvares Cabral). Até 29 de julho, de terça a domingo, das 10h às 17h. Ingr.: R$ 6 (R$ 3 meia-entrada), e aos sábados é gratuito.
 




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