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S.Caetano: uma cidade rica, mas sem cinema
Nelson Albuquerque
Especial para o Diário
13/05/2000 | 14:46
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A 5ª melhor cidade do Estado de Sao Paulo no quesito desenvolvimento humano (renda per capita, educaçao e esperança de vida ao nascer) corre o risco de entrar no século XXI sem cinema. Sao Caetano perdeu, no dia 30 de abril, suas duas últimas salas de exibiçao, no Shopping Sao Caetano. A administraçao do shopping informa que se trata de uma reforma, mas a Empresa Cinematográfica Haway, administradora do Cine Sao Caetano, confirma a intençao de fechar o espaço e alega movimento fraco.

"Aquele cinema estava deficitário há um ano", explica o diretor da empresa, Antônio Mário Vieira. Na programaçao que a Haway divulga semanalmente, os cines Sao Caetano 1 e 2 aparecem como "fechados em definitivo".

Para evitar que uma história de 79 anos tenha o seu the end, o shopping pretende ampliar seu espaço e fazer do segundo piso apenas área de alimentaçao e cinemas. A Haway conhece o projeto que prevê seis salas, estuda a idéia, mas ainda nao tem uma posiçao fechada.

De acordo com Raul Marcondes Furlan, gerente de Marketing do Shopping Sao Caetano, os cinemas serao reabertos e quem tem a prioridade para administrá-los é a Haway. "Se nao for a Haway, outra empresa cuidará das salas", afirma Furlan.

Cinemark e Playarte foram ouvidas pela reportagem e ambas informaram desconhecer o projeto de ampliaçao do Cine Sao Caetano. Responsável pelo departamento de Expansao da Cinemark, a arquiteta Andréa Puppo nao descartou uma negociaçao. "Nao fomos contatados, mas também nao podemos dizer que nao temos interesse", disse.

Mesmo se as salas nao forem fechadas definitivamente, esses foram os primeiros 14 dias em que a cidade fica sem nenhuma exibiçao desde 1921. Ao longo de sua história, a cidade já teve 11 cinemas de rua (veja quadro nesta página), todos foram fechados e deram lugar a escola, igrejas evangélicas, casa noturna e outros empreendimentos.

Segundo o cinéfilo Atílio Santarelli, a crise do Cine Sao Caetano era anunciada. "O motivo principal era a má administraçao. A projeçao e o som eram ruins e os projecionistas nao eram profissionais da área", detona Santarelli.

Outras pessoas ouvidas pelo Diário também reclamaram da qualidade do Cine Sao Caetano. "Os filmes que passavam nao eram bons e, às vezes, já tinham sido lançados há meses em outros lugares", disse a estudante Josélia Matos. Segundo o diretor da Haway, a má qualidade pode ter determinado o fracasso do cinema, mas ele credita também ao aumento da concorrência a evasao do público.

No sábado passado, o sancaetanense José Roberto de Moraes foi ao shopping especialmente para levar o filho Lucas, 9 anos, a um filme. Foi surpreendido pela placa: "Estamos em reforma". "Já acabaram com todos os cinemas de rua. E agora esse também?", reclama.

Sessao no teatro - A iniciativa da Prefeitura de transformar o Teatro Santos Dumont em uma sala de exibiçoes esporádicas alivia, mas nao livra Sao Caetano do vergonhoso estigma de cidade sem cinema. Essa idéia está inserida no projeto que cria um Centro Cultural do Ensino Fundamental exatamente onde se situa o teatro.

Segundo o diretor de Cultura da cidade, Osmar Leite Fonseca, o complexo será integrado à escola Coronel Bonifácio de Carvalho e contará com diversos espaços, inclusive uma pinacoteca. O teatro recebeu a visita de especialistas para verificar se o local tem condiçoes de comportar uma sala de cinema. O resultado foi positivo.




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