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Economistas criticam Fraga por admitir inflaçao maior
Do Diário do Grande ABC
20/07/1999 | 15:38
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Os economistas Luiz Roberto Cunha e José Márcio Camargo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), criticaram nesta terça a declaraçao feita pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, de que a inflaçao neste ano pode ficar "um pouco acima" de 8% - número escolhido como meta pelo Ministério da Fazenda. A declaraçao foi feita nesta segunda em Sao Paulo.

As críticas foram feitas em seminário sobre déficit e desenvolvimento promovido pela Câmara Americana de Comércio, em que também participaram os economistas Fábio Giambiagi, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e José Julio Senna, ex-diretor do BC e da MCM Consultoria. "Acho que ele está falando de coisas que nao entende muito", criticou Cunha, para quem a meta de 8% já foi adotada com "certa folga".

Na interpretaçao de Cunha, a declaraçao pode significar que o governo vá autorizar novos reajustes de combustíveis, para arrecadar mais dinheiro para o Tesouro, mesmo que isso signifique uma alta maior da inflaçao. "Vamos estar brincando com fogo, pelo lado político e pelo lado social", afirmou o economista da PUC, para quem a medida pode significar inflaçao anual "perigosamente" perto dos 10%. "Temos hoje o risco de ver outra boa idéia prejudicada", afirmou.

Analista da consultoria Tendências, José Márcio Camargo acrescentou que a declaraçao do presidente do BC pode provocar aumento da inflaçao no primeiro semestre do próximo ano. Para Camargo, o mercado pode interpretar que o Ministério da Fazenda está menos preocupado com a manutençao das baixas taxas de inflaçao do que antes.

Camargo afirmou que o fenômeno aconteceria porque os agentes econômicos reajustariam os preços ao consumidor no primeiro semestre de 2000, para repassar a alta dos aumentos do atacado, causada neste ano pela desvalorizaçao do real e das tarifas públicas - o que ainda nao aconteceu, em sua opiniao.

"Se as tarifas aumentam 100%, o efeito imediato sobre os preços ao consumidor é negativo, porque as pessoas terao menos dinheiro no bolso", afirmou. "Mas isso vai ter efeitos mais à frente", avisou.

Defensor da política de metas de inflaçao, o economista José Julio Senna nao deu importância à previsao de Fraga. "Nao tem nada de mais", afirmou Senna. Para ele, ao dizer que a inflaçao ficaria pouco acima dos 8%, Fraga quis indicar que a taxa ficaria alguns décimos mais alta. "Talvez 8,3%", arriscou.

Juros - A instabilidade econômica da Argentina deve ser um freio à reduçao dos juros no Brasil, afirmou no seminário o economista Fábio Giambiagi, do BNDES. Segundo Giambiagi, a taxa Selic, que serve de base para as outras na economia brasileira, deve ficar entre 18% e 19% em dezembro.

Para o ano que vem, previu Giambiagi, se a inflaçao for reduzida, a taxa deve ficar entre 10% a 12%. "Ainda é bastante elevada, mas nao impede a retomada da atividade econômica, que já vem ocorrendo", afirmou o economista.

Ele lembrou ainda que a diminuiçao da quantidade de dinheiro que é recolhido compulsoriamente pelo Banco Central sobre os depósitos dos bancos, aliada à queda da inadimplência, "talvez" gere uma queda nos juros cobrados ao tomador final de empréstimos.




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