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Inflação em março é a menor em 24 anos

No mês, IPCA avançou 0,09%, mas retomada da economia é lenta; impacto será sentido em 2020

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
11/04/2018 | 07:30
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Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas


 Indicador oficial da inflação no País, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) avançou apenas 0,09% em março, a menor marca para o mês em toda a série histórica para o período, iniciada em 1994 com o Plano Real. Em fevereiro, o índice alcançou 0,32% e, no terceiro mês de 2017, 0,25%. Até então, o menor nível para um mês havia sido registrado em junho do ano passado, quando houve deflação de 0,23%.

Para a inflação nos 12 meses encerrados em março, o IPCA acumulou 2,68%. E, no trimestre, 0,70%. Nos dois casos, a inflação também foi a menor para os respectivos períodos em 24 anos. Para se ter ideia, em 2017, no acumulado dos 12 meses terminados em março, o índice estava em 4,57%. E, de janeiro a março, 0,96%.

As informações foram divulgadas ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O IPCA mede a inflação para famílias com rendimentos mensais que variam entre um (R$ 954) e 40 salários mínimos (R$ 38.160), e que vivem em 13 regiões metropolitanas do País.

De acordo com o economista e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, a projeção é que, para 2018, a inflação fique entre o piso (3%) e a meta central (4,5%), ou seja, de 3,5% a 4%. O especialista acredita que os dados mostram retomada econômica, mesmo que de maneira lenta. “Acredito que será desta forma durante o ano todo. São números que refletem que a política do governo vai no sentido correto, mas lento, o que não poderia ser diferente diante do cenário político incerto. Por isso, muitas empresas ainda pensam duas vezes antes de investir. Após as eleições, em novembro, é que vamos ter mais clareza”, disse.

O professor de Ciências Contábeis da Fipecafi George Sales pontuou que o índice teria deflação no mês, não fossem os preços dos planos de saúde (que tiveram reajuste de 1,06%) e contratos educacionais (as despesas com matrículas e outros gastos com Educação tiveram alta de 0,28%). “De modo geral, tudo ficou bem negativo, o que reflete a baixa atividade econômica do País. Mesmo com a redução da taxa básica de juros, ainda não é sentido impacto na economia. Temos alto volume de desempregados e falta a retomada de investimentos”, diz, referindo-se ao fato de os empresários postergarem os aportes enquanto o cenário político ainda for marcado por incertezas.

IMPACTOS - Entre as maiores altas, além dos gastos com Educação e Saúde (0,48%), também houve aumento nos desembolsos com habitação (0,19%), impulsionados pela energia elétrica, que teve reajustes de até 21,46% nas tarifas do Rio de Janeiro, e nos itens de vestuário (0,33%). Os grupos de alimentação e bebidas, após recuarem 0,33% em fevereiro, também aumentaram (de 0,07%) – conforme o Diário mostrou, a cesta básica do Grande ABC encareceu R$ 10 em março devido às fortes chuvas e ao calor intenso, o que reduziu a oferta e elevou os preços.

“O grupamento de alimentos para consumo no domicílio veio com deflação um pouco menos intensa que a do mês anterior, por conta das frutas, que subirem cerca de 5%. Por outro lado, carne e frango vieram com quedas de preços ainda mais fortes que as do mês anterior”, explicou o gerente de índices de preços ao consumidor do IBGE, Fernando Gonçalves. Isso aconteceu porque, como antes esses itens estavam caros, a população os trocou por proteína mais acessível, o ovo, que na região apresentou alta no custo devido à procura.

A principal queda foi observada nos transportes (0,25%), devido ao valor das passagens aéreas, que recuaram 15,42%, além dos combustíveis (- 0,04%), com destaque para a gasolina (- 0,19%). A redução nas tarifas das ligações locais e interurbanas, de fixo para móvel, em vigor desde 25 de fevereiro, motivou redução de 0,33% nas comunicações.

“A inflação é composta por preços de vários itens. Como a de março foi puxada pelas passagens áreas, pode ser que a população com menor renda não tenha percebido a redução”, explicou Balistiero. Conforme ele, é por isso que, muitas vezes, o consumidor não percebe recuo nos preços devido ao IPCA em queda. “Para que isso aconteça, a inflação precisa estar baixa por cinco anos. Se conseguirmos segurar no centro da meta, o que já foi feito em 2016 (6,29%) e 2017 (2,97%), até 2020 isso fica mais perceptível”, finalizou.




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