Muitos brasileiros estão escolhendo estudar ou morar na Cidade do Cabo, na parte Sul do continente
Quem pensa em sair do Brasil, especialmente para passar algum tempo longe, geralmente escolhe um destino que lembre, nem que seja em algum detalhe, o país de origem. E isso é totalmente compreensível. Esse é um dos principais motivos, aliás, que levam muita gente a bater o martelo de intercâmbio para a África do Sul, com foco na Cidade do Cabo, a capital legislativa. Na maioria das vezes, esta não é a primeira opção da lista dos interessados.
É que o local tem clima, temperatura, comida e jeito de ser mais para o lado brasileiro do que britânico – os ingleses ocuparam a Cidade do Cabo em 1795, durante a Guerra Anglo-Holandesa. Depois do breve período do domínio holandês entre 1803 e 1806, a cidade tornou-se capital da colônia britânica do Cabo.
Outros fatores que contam muito na hora de fechar o pacote, segundo Mariana Cardoso, diretora da Trust Intercâmbio, são as belezas naturais, as experiências diferentes de passeio, a chance de fazer trabalho voluntário, a possibilidade de ficar três meses sem visto e, claro, o custo-benefício. “Nosso dinheiro rende bastante lá”, comenta. Para se ter uma ideia, R$ 10 equivalem a 35,52 rand. Na agência de Mariana, a procura maior é por períodos curtos, de experiência, de um a três meses. “Tem muita gente de férias que aproveita para estudar inglês e viajar por lá.”
Foi exatamente o que fez o casal Barbara Manchini, 26 anos, e Bruno Gianotti, 32, de São Caetano. Eles ficaram um mês na Cidade do Cabo (ou Cape Town) em janeiro de 2017. “O que chamou a atenção foram o clima e a questão financeira (eles gastaram aproximadamente R$ 10 mil cada um por 22 dias, contando os voos). E adoramos, recomendo bastante”, explica Gianotti, que também destaca a receptividade das pessoas, a comida temperada – é bastante! –, mas não aprovou a temperatura da água. Por receber corrente de ar direto da Antártida, é realmente congelante. “Também me chamou a atenção a desigualdade social.” Segundo ele, tem gente muita rica, com carros supercaros, e pessoas muito pobres. “Vimos favelas no caminho do aeroporto até o Centro da cidade.”
Bárbara também se surpreendeu com tudo o que viu. “Nunca tinha imaginado na vida conhecer a África nem o quão bonita era”, fala. O casal ficou hospedado em casa de uma família indiana e aprovou demais a experiência. “Como na escola tem muito brasileiro, era lá que praticávamos bastante o idioma. O inglês deles é bem diferente, com sotaque, então nos primeiros dias precisa prestar atenção para entender. Mas é um aprendizado grande”, finaliza ela, que notou, além de brasileiros, a presença massiva de estudantes da Arábia Saudita e da Suíça. Ela também dá a dica de não fechar pacote com aula durante o dia todo. “Assim é impossível fazer passeios.”
Surpreendente, Mother City é cheia de história
Bruno Gianotti e Bárbara Manchini, de São Caetano, ficaram hospedados perto da Table Mountain, um dos pontos conhecidos na Cidade do Cabo, ou Mother City, a segunda maior da África do Sul – perde para Joanesburgo – com 3,5 milhões de habitantes. Entre os passeios que eles mais gostaram de fazer está o mergulho com tubarões-brancos. É possível viver a experiência em Gansbaai, que fica a duas horas da capital. “O barco fica a alguns metros da Costa e entramos na água dentro de gaiolas”, conta ele.
Bárbara gostou da Rota dos Vinhos, Cabo da Boa Esperança, praia com pinguins (Boulders Beach) e Jardim Botânico (Kirstenbosch Botanical Garden). “Dá também para subir de bondinho na Table Mountain (custa cerca de R$ 40) e ver Cape Town inteira. Recomendo também o Museu de Arte Moderna, tem bastante coisa da história do apartheid (regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994).”
Se o casal de São Caetano adorou a experiência em um mês, outro casal do Grande ABC já está se sentindo, literalmente, em casa. Karla de Carvalho, 25 anos, e Rubem Savordelli, 27, de Santo André, moram em Cape Town há quase dois anos. “A Mother City é regada a beleza, com natureza, atividades ao ar livre e história. Mesmo morando aqui há todo esse tempo, ainda tenho muito a conhecer”, revela Karla. Ela recomenda aos turistas visitar a Lions Head, montanha que forma o cartão-postal da cidade.
A andreense destaca também as belas praias que rodeiam a cidade. “Proporcionam cenários incríveis para ver o pôr do sol, como Camps Bay, Sea Point, Table View, entre outras.” Ela também chama a atenção para a água congelante do mar. Aliás, é possível ver a junção dos oceanos Índico e Atlântico no Cabo das Agulhas, considerada a ponta mais extrema do continente africano.
Outra dica é conhecer o Waterfront, lugar favorito de Karla. Localizado ao lado da Marina Cape Grace, é um pier com bares, restaurantes, shoppings, uma roda-gigante com vista para toda a cidade, atrações locais, feiras artesanais e inúmeros passeios de barco. O principal passeio é visita à Robben Island, ilha onde Nelson Mandela ficou preso por 18 anos. “O Red Bus (City Sightseeing) é forma prática, econômica e divertida de conhecer os principais pontos da cidade. Com ele é possível rodar por Cape Town de forma segura.”
Reserve um tempo: Tanzânia é lugar indescritível
Como moram há quase dois anos na Cidade do Cabo, Karla de Carvalho e Rubem Savordelli conseguiram um tempo maior para desbravar destino interessante, a ilha de Zanzibar, na Tanzânia. Confira o depoimento da andreense nos mínimos detalhes. Ela conta tudo também no Instagram (karladecarvalho_):
“Falar sobre Zanzibar é fácil. É um lugar paradisíaco com o melhor mar para nadar que pode existir. A cidade é pobre e de baixos recursos, mas rica em beleza e simpatia. A ilha é considerada pequena, para percorrê-la, de uma ponta até a outra, leva-se em torno de duas horas de carro. Porém, o trânsito em Zanzibar é uma loucura. Tem pouca sinalização, animais circulando junto dos carros, estradas esburacadas e ruas não asfaltadas, além da mão inglesa (a mesma de Cidade do Cabo).
Optamos por alugar um carro e ficarmos livres para transitar pela ilha por nossa conta, mas não foi a melhor estratégia. Infelizmente os policiais têm o hábito de parar os turistas de carro e ‘multá-los’ alegando que fizeram algo errado. Com a gente não foi diferente.
Portanto, nosso conselho é que, mesmo que seja um pouco mais caro, quando forem para lá não aluguem carro, pesquisem sobre transporte com o hotel que escolher, tanto para o translado do aeroporto ao hotel quanto para passeios; o que é fácil e supertranquilo de encontrar. Há também a opção de se locomover pelos Dala-Dalas, que é como é chamado o transporte deles (ônibus). Apesar de ser extremamente simples, é uma forma muito barata de andar pela ilha.
Apesar da moeda ser o shilling, tudo é aceito em dólar. Escolhemos pagar na moeda local (sacamos o dinheiro em um caixa eletrônico ainda dentro do aeroporto). Foi uma opção, pois conseguimos economizar um pouco mais.
No geral, a viagem para Zanzibar não é tão cara considerando tudo o que se vive por lá. Há opções de hotéis para todos os bolsos, desde resorts até pousadas. Nosso hotel era mediano. O Mnarani Beach Cottages é de frente para o mar, confortável, com piscina, massagem e bom atendimento. No valor que pagamos eram inclusos café da manhã e janta, o que indicamos, pois não é um lugar onde se encontra facilmente restaurantes e não é recomendado sair à noite, muito menos a pé.
Visitamos duas praias (Nungwi e Kendwa) e o Centro da cidade (Stone Town), mas não deixem de ir à Jambiani (Sul). Dizem que é uma das mais bonitas de Zanzibar. Nosso hotel ficava na praia de Nungwi (Norte da ilha), que é agitada e de onde saem os principais passeios. Ótimo local para se hospedar, por sinal. A praia de Kendwa (também ao Norte) foi a que eu mais gostei. É reservada, com poucas pessoas, silenciosa e com o mar mais calmo.
As praias, no geral, são de areia branquinha e águas cristalinas, sem falar na temperatura da água, que é indescritível. Dá vontade de ficar só dentro do mar. Portanto, se você tiver um par de pés de pato e um snorkel, nem precisa gastar dinheiro com passeios. É possível ver os peixes facilmente de qualquer local.
Nós fizemos um passeio de barco à vela com direito a pôr do sol e mergulho em alto-mar. O barco saía velejando de Nungwi e seguia até o fim de Kendwa. Foi o passeio mais incrível que já fizemos. Ah, que saudades daquele mar! O passeio custava US$ 20 por pessoa (R$ 66), incluindo transporte do hotel até a praia, o passeio em si, máscara de mergulho, nadadeiras, frutas como lanche e a volta até o hotel.
A busca pelos passeios é fácil. Além de ter inúmeras coisas para fazer, os hotéis normalmente oferecem de tudo. Porém, assim que você chega nas praias, os locais já abordam tentando vender os mesmos passeios por um preço melhor – eles trabalham para pequenas agências da ilha e tratam os turistas com muita atenção e dedicação, afinal é disso que eles vivem.
Por falar neles, que povo agradável! Boa parte da população é muçulmana. Todos muito receptivos, sorridentes e simpáticos. Eles sempre estarão tentando vender algo para você, mas com muita simpatia e carinho. Sem contar que era uma delícia ouvir a expressão ‘Hakuna Matata’ o tempo todo (risos).
Aprendemos muito da cultura e palavras da língua local. As crianças curiosas e fofas interagindo nas praias e o sorriso de todos nos cumprimentam e dizem ‘Jambo’ (Olá). Mas como em todo lugar no mundo, é necessário um pouco de cuidado com a segurança, não é? E falando em línguas, todos por lá falam inglês – mas não muito bem, por isso é importante falar pelo menos um pouco do idioma para conseguir se comunicar.
E para finalizar, no último dia fomos conhecer o Centro da cidade, Stone Town. Suas ruas pequenas e estreitas e a simplicidade do lugar expressam o estilo de vida dos moradores da ilha. A propósito, você sabia que o cantor Freddie Mercury, ex-vocalista da banda Queen, nasceu e viveu até os 8 anos em Zanzibar? Pois é, a casa que foi sua e de seus pais é preservada em Stone Town, cercada de fotos do cantor. É claro que fomos até lá conferir. Resumindo: se existe o paraíso na Terra, ele se chama Zanzibar."
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