O que os especialistas sabiam era que a maioria dos pacientes que chegava àquele estágio da doença não sobrevivia e que a medicina, até então, não tinha uma opção viável para o tratamento. "Disseram que a única boa notícia que tinham para me dar era que a Gabriela estava no melhor lugar que poderia estar. Mas avisaram, com muito pesar, que a situação era tão grave que ela poderia morrer nas horas seguintes", conta a mãe da jovem, a condutora escolar Rosália de Jesus Santos, de 49 anos.
No dia seguinte, a equipe tomou uma decisão ousada: submeter a paciente a um transplante de fígado, procedimento até então inédito para infectados pela doença. A jovem foi colocada na fila de espera com grau máximo de prioridade e transplantada no dia 30, tornando-se a primeira paciente no mundo com o vírus a passar pela técnica.
Três meses após o procedimento pioneiro que salvou sua vida, Gabriela está em casa, fora de risco, mas com dois novos desafios: reverter as sequelas neurológicas provocadas pelo vírus e arrecadar fundos para pagar as terapias de reabilitação e uma dívida de R$ 117 mil contraída em um hospital particular procurado após erro de diagnóstico na rede municipal. Até agora, ela levantou R$ 11 mil.
"Considerando o que a Gabriela passou, ela está ótima, mas algumas funções ficaram prejudicadas, como a memória recente, a coordenação fina, a leitura e a escrita", conta a mãe.
Uma semana depois de voltar para casa, a paciente passou a receber uma fonoaudióloga três vezes por semana para ajudá-la na reversão das sequelas. Com um mês e meio de terapia, a memória e a leitura foram parcialmente recuperadas, mas Gabriela ainda não consegue escrever e tem dificuldades com atividades que exigem mais precisão dos movimentos, como abotoar roupas e digitar no celular.
Custos
A maior dificuldade tem sido arcar com os custos do tratamento: cada sessão custa R$ 200, num total de R$ 2.400 mensais. Gabriela é autônoma, por isso não tem renda enquanto se recupera. As despesas estão sendo pagas com a renda da mãe e do padrasto, que contam com o auxílio de doações de amigos e familiares.
Uma vaquinha online foi organizada para arrecadar fundos para o tratamento e o pagamento da dívida com o Hospital São Camilo, responsável por diagnosticar a jovem e transferi-la para o HC. A família também estuda entrar com uma ação judicial pedindo que a dívida seja transferida para o Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que a jovem buscou a AMA Sorocabana, na Lapa, três vezes entre os dias 22 e 26 de dezembro e foi informada de que a suspeita era de dengue. Em uma das visitas, no dia 25, ela já tinha sintomas tão graves que foi transferida de ambulância para o PS de Pirituba, mas foi liberada pela médica da unidade. A Secretaria Municipal da Saúde disse que abrirá sindicância para investigar o atendimento prestado à jovem.
Ainda pouco à vontade para dar entrevistas, Gabriela recebeu a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo em casa, mas preferiu que a mãe contasse sua história. A única coisa que relatou foi a rapidez com que a doença evoluiu. "Na última vez que estive na AMA eu apaguei e só me lembro de acordar no Hospital das Clínicas, dias depois de fazer o transplante", conta ela.
Questionada sobre os momentos mais difíceis da recuperação, ela conta que o pós-operatório e algumas sequelas neurológicas a incomodam. "A parte da leitura e da escrita é o que mais me agonia, mas acho que já está caminhando para melhorar", diz ela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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