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Vaticano considera insuficientes as desculpas do bispo negacionista
Da AFP
27/02/2009 | 11:04
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As desculpas dadas pelo bispo integrista Richard Williamson por suas declarações negando o Holocausto não correspondem a exigência que foi feita para que as retirasse "inequívoca e públicamente", afirmou nesta sexta-feira o porta-voz do Vaticano.

O Vaticano avalia que a carta divulgada na véspera "não parece respeitar as condições estabelecidas em uma nota da Secretaria de Estado de 4 de fevereiro, que exige que (o bispo) se retrate absoluta, inequívoca e publicamente de sua posición sobre Holocausto", afirmou o porta-voz Federico Lombardi.

A carta de desculpas de Williamson "não foi dirigida ao Santo Padre nem à comissão Ecclesia Dei", acrescentou o padre Lombardi.

Os principais grupos religiosos alemães também rejeitaram de forma contundente as desculpas do bispo britânico Richard Williamson.

"Em seu comunicado o bispo Richard Williamson infelizmente não retira nada do que disse", afirma Dieter Graumann, vice-presidente do Conselho Central para os Judeus na Alemanha, em entrevista ao jornal Handelsblatt.

O vice-presidente do Conselho Central dos Católicos Alemães, Hans Joachim Meyer, também não aceitou o "mea culpa" de Williamson, afirmando que o mesmo não é satisfatório.

Efetivamente, em seu pedido de desculpas, o bispo não emprega a palavra "Holocausto" nem "judeus", o que foi recebido como um sinal de ambiguidade.

A Comissão Europeia, por sua vez, advertiu que Williamson deve tomar cuidado porque suas teses negacionistas constituem um delito em vários países da União Europeia (UE).

"O negacionismo pode ser objeto de um processo judicial. As jurisdições nacionais são competentes para condenar o negacionismo", enfatizou o comissário europeu da Justiça, Jacques Barrot.

Na carta, escrita ao Vaticano e publicada pela agência católica de notícias Zenit.org após sua volta à Inglaterra - Williamson foi considerado 'persona non grata na Argentina -, o bispo pede perdão às vítimas do Holocausto e à própria Igreja.

"Peço perdão diante de Deus a todas as almas que ficaram sinceramente escandalizadas com o que disse", afirmou, alegando "ter se limitado a expressar a opinião de uma pessoa que não é historiadora".

A agência Zenit especificou que a carta lhe foi transmitida pela comissão Ecclesia Dei, presidida pelo cardeal Dario Castrillon Hoyos e encarregada pelo Vaticano das negociações com os fundamentalistas, o que Lombardi negou posteriormente.

"O Santo Padre e meu superior, o bispo Bernard Fellay, pediram que eu reconsiderasse as declarações que fiz em um canal de televisão da Suécia há quatro meses, pois suas consciências são muito fortes", explicou Williamson.

"Ao observar estas consequências, posso dizer que lamento verdadeiramente ter feito estas declarações, e que, se soubesse de antemão todo o dano e as feridas que provocaria, em primeiro lugar à Igreja, mas também aos sobreviventes e entes queridos das vítimas da injustiça sob o Terceiro Reich, eu não as teria feito", acrescentou.

As declarações negacionistas do bispo, de 68 anos, provocaram revolta na comunidade judaica em todo o mundo, além de uma dura reação por parte da chanceler alemã, Angela Merkel.

Na véspera da suspensão de sua excomunhão, Williamson disse à TV sueca: "Creio que não houve câmaras de gás. Creio que entre 200.000 e 300.000 judeus morreram nos campos de concentração, mas nenhum em câmaras de gás".

"Era uma opinião formada há 20 anos em virtude dos dados que então estavam disponíveis, e que desde então eu raramente expressei em público", justificou na carta.

"Os eventos das últimas semanas e o conselho dados por membros da Fraternidade de São Pio X (fundada por Lefebvre) me convenceram de minha responsabilidade por tanta angústia causada", reconheceu o bispo.

"Como disse o Santo Padre, todo ato de injusta violência contra um homem fere todo o gênero humano".




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