Economia Titulo Oportunidade
Aprendiz é porta de entrada em empresas

Jovens têm chance de ganhar experiência e traçar plano de carreira em grandes firmas da região

Flavia Kurotori
Especial para o Diário
04/03/2018 | 07:29
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Em cenário onde o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo e exigindo mão de obra qualificada, programas de aprendiz podem ser porta de entrada dos jovens em uma empresa. Estar desde cedo dentro de uma companhia também colabora muito com o momento de decidir sobre qual profissão seguir, e facilita, inclusive, a traçar plano de carreira.

As oportunidades nas firmas surgem por meio de parcerias entre instituições, como o Ciee (Centro de Integração Empresa Escola) e o Camp (Centro de Formação e Integração Social) de São Bernardo, e empresas. Na região, algumas prefeituras também oferecem chances – leia mais abaixo.

A andreense Milena Ferreira de Paula, 19 anos, tinha o sonho de cursar medicina veterinária. “Quando eu era mais nova, meu plano de vida era totalmente diferente. Primeiro, surgiu uma oportunidade para cursar técnico em mecatrônica no Senai e eu gostei da área, então fui em busca de vaga como aprendiz industrial”, conta.

Em 2016, a garota participou do programa de aprendiz industrial na fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo. “Nós aprendemos várias funções, desde usinagem e soldagem, até comunicação oral e escrita”, lembra. Milena destaca que a experiência no cotidiano da montadora fez com que ela se apaixonasse pela área. Após dois anos, quando o contrato chegaria ao fim, a jovem foi efetivada ao cargo de montadora. “A diferença entre a teoria e a prática é muito grande. Hoje, estou cursando engenharia da computação, que é uma carreira oposta ao que eu queria antes.”

Larissa Oliveira dos Santos, 19, moradora da Capital, atua há cerca de três meses como estagiária na área de comunicação, também na Mercedes. O início da carreira dentro da empresa foi há dois anos, quando ela ingressou como aprendiz administrativa por meio do Ciee. “Fora do horário de trabalho eu participava de cursos profissionalizantes (oferecidos como parte do programa) para me aprofundar na área”, compartilha. “Essa experiência foi essencial para meu amadurecimento, além da experiência profissional”.

Atualmente, Larissa está no 1º ano da faculdade de Publicidade e Propaganda e, embora goste de estagiar na comunicação corporativa de montadora, não descarta a possibilidade de migrar para outros setores, a exemplo do marketing. “Tudo o que aprendemos acrescenta não apenas na vida profissional, mas também na pessoal”, completa.

Entre idas e vindas como funcionária da unidade são-bernardense da Ford, Rebeca Bezerra, 28, da mesma cidade, considera que a porta de entrada para automobilística foi a participação no programa de aprendiz 12 anos atrás. “Eu atuei por um ano e oito meses como secretária da direção do RH (Recursos Humanos) e, quando terminou o período, fiquei fora por um mês, mas acabei voltando para a área de benefícios, como terceirizada.”

Depois de seis anos, Rebeca candidatou-se a vaga efetiva na empresa, desta vez na área de treinamento, também no RH, onde começou a atuar em setembro de 2014 e está até hoje. “A vantagem de começar desde cedo é que a experiência mostra se é a área de interesse de fato ou não dos jovens”, avalia. Ela afirma que dedicação e interesse em aprender são imprescindíveis. “Mesmo quando você é apenas aprendiz, tem sempre alguém observando seu trabalho, e esta é a primeira porta para o mercado”.

Rebeca assinala que a evolução também foi notada na vida pessoal. “Quando eu comecei, eu era muito tímida, mas hoje, consigo até dar palestras para os jovens aprendizes da empresa”, diz. Ainda com desejo de crescer, ela não esconde a vontade de ir para outras áreas, como a de recrutamento e seleção.

Com o sonho de fazer intercâmbio na Austrália, Aristóteles Alyfer Matias da Silva, 17, de São Bernardo, garante que trabalhar como aprendiz administrativo mudou sua vida. “Ganhei muita autonomia e melhorei minha timidez, além de conseguir fazer um curso de inglês, que é essencial para eu poder viajar”, afirma. O garoto opera no SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) da Allianz Worldwide Partners, na mesma cidade, desde outubro do ano passado. “Estou aprendendo coisas que vou levar para a vida toda, além de conquistar meu próprio salário para poder ajudar em casa”, celebra.


Por lei, companhias devem aderir à ação, válida a partir de 14 anos

“Começar ainda jovem é uma das melhores chances de crescer e ter uma carreira na empresa”, avalia Luciana Aparecida Montuanelli, diretora de RH da Allianz Worldwide Partners.

Por lei, empresas de médio e grande portes devem ter entre 5% e 15% de jovens e adolescentes em seus quadros de funcionários. Há programas que atuam com pessoas desde os 14 anos até os 24 anos. A Lei de Aprendizagem foi idealizada para proporcionar caminho mais seguro para a inserção do jovem no mercado de trabalho e combater o trabalho infantil.

Na Allianz Worldwide Partners, especializada em assistência 24 h, o programa de aprendiz está em sua primeira turma, com 30 jovens entre 16 e 24 anos. O recrutamento é realizado pelo Camp (Centro de Formação e Integração Social). Os cursos oferecidos são generalistas, preparatórios para ambientes corporativos, capacitando em áreas administrativas, rotinas de escritório e postura profissional. Segundo a empresa, têm chance de efetivação aqueles que se mostrarem comprometidos e interessados em crescer internamente.

Já a Mercedes-Benz, que em janeiro efetivou 140 aprendizes, conta com o programa Estrelas do Amanhã, para jovens entre 16 e 20 anos. Além dos cursos oferecidos fora do horário de trabalho, como assistente de RH e controle de produção, entre outros, também são promovidas atividades culturais, a exemplo de visitas a museus e teatros. Ainda, os jovens são orientados sobre quais faculdades de adequam às suas necessidades.

Ao todo, a montadora conta com 407 aprendizes, sendo 120 no setor administrativo e 287 na área industrial. O recrutamento é feito pelo Ciee (Centro de Integração Empresa Escola) e pelo Camp, respectivamente.

A Ford participa dos programas Jovem Aprendiz, do governo federal, Aprendiz Industrial, em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e Jovem Cidadão, do governo do Estado de São Paulo. Atualmente, possui 100 participantes em áreas administrativas e na produção.

A fabricante afirma que, conforme os resultados, há chances de contratação. “As avaliações de desempenho são aplicadas, e temos muitos exemplos de jovens que se destacaram e conseguiram permanecer na empresa como estagiários, prestadores de serviço e empregados diretos”, diz Miriam Barbaroto, gerente de RH da Ford.

A planta são-bernardense da Toyota, por sua vez, dispõe do programa aprendiz em parceria com o Senai e com o Jovem Cidadão, sendo este voltado para estudantes do Ensino Médio. Ambos requerem idade mínima de 14 anos. Embora não haja plano de efetivação para os participantes – a montadora não divulga números –, há a possibilidade de contratação daqueles que se destacarem.

Com 55 pessoas participando do Jovem Cidadão, a Volkswagen, em São Bernardo, oferece, por meio de parceria com a Universidade Mackenzie, orientação com psicólogos que incentivam o autoconhecimento e orientam para escolha profissional adequada. Até o momento, não há possibilidade de efetivação dos jovens.

O recrutamento para o programa Jovem Cidadão é feito pelo Poupatempo, onde já é realizada a primeira parte da seleção. O requisito é que a pessoa frequente o Ensino Médio em escola estadual. A Toyota também conta com o programa de estágio universitário para diversas áreas, cuja inscrição pode ser feita pelo site da empresa.

NAS PREFEITURAS - O Paço de Santo André conta com o programa Meu Primeiro Emprego, voltado para estudantes universitários. Em 2018, serão 1.166 postos para atuar em serviços públicos, sendo 1.103 para trabalhar na própria Prefeitura, 55 para a Semasa e oito para o Instituto de Previdência. O contrato vale por dois anos e os benefícios totalizam R$ 1.517. A inscrição pode ser feita pelo Ciee.

Já Ribeirão Pires informa que tem parceria com o Camp de São Bernardo para o programa Jovem Aprendiz, sem divulgar números. Questionadas, as demais prefeituras do Grande ABC não divulgaram informações sobre programas de aprendizagem até o fechamento desta edição.
 




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