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Stédile defende Lula e critica 'radicais' do MST
05/10/2003 | 22:00
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O governo Luiz Inácio Lula da Silva “é amigo e parceiro e acreditamos que ele quer fazer a reforma agrária”, disse neste domingo João Pedro Stédile, coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e da Via Campesina. Ele falou após o encerramento do 2º Fórum Social Potiguar. Antes da declaração, Stédile deu pitos em “companheiros” defensores de uma resposta defensiva a ruralistas armados, propondo a formação de comitês de autodefesa entre grupos de acampados. Chegou a chamá-los de “radicais”. “Vou defender o governo Lula”, disse.

Na contramão da esquerda radical, Stédile argumenta a favor do presidente.”Não é verdade que o governo Lula optou pelo neoliberalismo. Há setores (dentro da administração) contrários ao neoliberalismo. Então temos de fugir do idealismo e do sectarismo e reorganizar o movimento de massas no Brasil”, propôs. Ele citou os ministros Marina Silva (Meio Ambiente) e Miguel Rosseto (Reforma Agrária) como exemplo da luta antineoliberal dentro do governo.

Mesmo com posição conciliatória, Stédile mantém espaço para críticas. Ele afirmou que o governo quer fazer a reforma agrária mas até agora não fez nada. Segundo ele, assentar 2,5 mil famílias é algo muito pequeno. “Esperamos que até o final do mês o Planalto apresente um Plano Nacional de Reforma Agrária que atinja latifúndios acima de 2 mil hectares, para que esta ação recomponha 1 ano inteiro perdido.”

Prisões – Quanto a prisões de militantes do movimento, 19 até o momento, em Estados como Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraíba e sobretudo na região do Pontal do Paranapanema (SP), onde estão presos José Rainha, a mulher dele Deolinda, o coordenador do MST acha que tudo não passa de perseguição política. “O José Rainha é a única pessoa presa no Brasil por causa de porte de arma”, ressalta Stédile. “Há juízes que interpretam que o MST é uma quadrilha. O Atis de Oliveira (juiz da região do Pontal) conduziu 28 processos contra a gente. Derrubamos 25”, acrescenta.

Stédile vai além e diz que existe uma “orquestração para esta perseguição”. Entretanto não dirige o foco para nenhum setor bem definido como governo federal ou direita. “É aquele fazendeiro que procura um juiz, um delegado ou promotor. Consiste em uma articulação, mas não quer dizer que o Poder Judiciário seja contra o MST ou a reforma agrária”, diz.

Segundo o coordenador morreu muita gente dos movimentos sociais no campo neste ano (26 índios e 24 trabalhadores rurais). “Mas isto não é prova de que a situação dos conflitos de terra é insustentável, pois morrem milhares de crianças de fome no meio rural e ninguém fala nada. Não podemos cair na paranóia de estarmos em pé de guerra”.

O líder do movimento nem sequer deseja ouvir idéias de armar os sem-terra. “Há provocadores que vêem revolução em qualquer coisa. A segurança do MST é o número de famílias organizadas. A violência é menor quando temos muita gente e organizada. Qual é o fazendeiro que vai ser tolo de mandar dois, três pistoleiros contra mil famílias organizadas?”, indaga. Ele pede que o governo federal respeite e demarque as reservas indígenas restantes. “Legalizem as terras dos índios o quanto antes”, apela.




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