Economia Titulo Preços menores
Inflação de janeiro atinge 0,29%, menor percentual para o mês desde Plano Real

Desaceleração resulta da ausência da bandeira vermelha na conta de luz

Flavia Kurotori
Especial para o Diário
09/02/2018 | 07:13
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O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação do País, desacelerou em janeiro, fechando em 0,29%. Trata-se do menor percentual para o mês desde o início do Plano Real. Vale lembrar que, em dezembro, o índice foi maior e chegou a 0,44%. Os dados foram divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado foi impulsionado pelos grupos de habitação e vestuário, que deflacionaram 0,85% e 0,98%, respectivamente. O primeiro foi puxado pela ausência de cobrança da bandeira tarifária vermelha na conta de luz – que embute R$ 0,03 por kWh – e derrubou o preço em 4,73%. “Este é um gasto que sempre impacta bastante”, comenta Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia.

No entanto, ele destaca que o índice é consequência das ações do BC (Banco Central) para controlar os preços no País. “O BC mostrou que está vigilante e tem instrumentos para combater a alta da inflação”, explica. “Em 2014 e 2015 também estávamos em crise, mas o IPCA era alto (0,55% e 1,24% para janeiro, respectivamente).”

Para Wellington Ramos, economista da Austin Rating, desaceleração no índice ocorreu devido à demanda reprimida da população. “O País sofreu perda muito grande da força de trabalho”, diz. Os especialistas concordam, porém, que 2018 deve mostrar mais sinais de crescimento da economia.

Balistiero aponta que é normal que algumas famílias demorem para notar os impactos da inflação menor, dado que isso depende do perfil de consumo de cada uma delas. “Se a pessoa abastece o carro várias vezes durante o mês (combustível subiu 2,58%), utiliza convênio médico (alta de 1,06%) e os filhos estão matriculados em escola particular (Educação aumentou 0,22%), ela dificilmente irá sentir os impactos da queda da inflação”, exemplifica.

Ao mesmo tempo, os alimentos, que aliviaram o bolso do consumidor no decorrer de 2017, encareceram 0,74% em janeiro. Conforme publicado pelo Diário, a cesta básica custava no Grande ABC, em média, R$ 577,34 no mês passado – R$ 15,73 a mais que em dezembro –, sendo que o vilão foi o tomate, que ficou 64% mais caro.

FUTURO - Pelo fato de este ano contar com eleições, Ramos salienta que o mercado “tem simpatia” pelos candidatos pró-reforma da Previdência e, dependendo dos resultados das pesquisas eleitorais, o cenário econômico pode oscilar, e os sinais de retomada podem retroceder. Por outro lado, Balistiero acredita que apenas após os governantes serem eleitos a economia sentirá os impactos. “A recuperação seguirá lenta e controlada caso candidato favorável ao mercado assuma o poder. Mas, caso ‘aventureiro’ seja eleito, serão mais quatro anos de lentidão.”

Para Ramos, “o País é como um paciente que acabou de sair da UTI: ele está melhor, mas ainda é frágil e, por isso, não é hora de comemorar”.


Falta do básico ainda é realidade

Mesmo que os indicadores econômicos indiquem retomada, o desemprego e a falta de dinheiro para insumos básicos do cotidiano ainda fazem parte do cenário do País. É importante destacar que, embora a Selic e a inflação estejam atingindo marcas históricas, 2017 encerrou com saldo negativo de 2.791 postos de trabalho, conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Carlos Roberto dos Santos, 52 anos, morador de Mauá, faz parte dessa estatística, pois está desempregado há cerca de um ano. Durante este período, faz ‘bicos’ e conta com a solidariedade de motoristas que passam nos semáforos da região que se sensibilizam com o pedido de R$ 1 para comprar uma cesta básica.

Santos mora com a mulher – que é aposentada por invalidez – e com o filho de 25 anos, que tem Ensino Médio completo e também está desempregado. “Hoje em dia, com a crise, não dá para escolher a área”, conta ele, que é técnico em administração de empresas.

As despesas mensais da família giram em torno de R$ 2.000, porém, a única renda fixa do lar é a do benefício da mulher, de um salário mínimo (R$ 954). “Varia muito mas, normalmente, arrecado entre R$ 50 e R$ 60 por dia.”

Ainda que Santos se candidate a vagas de emprego, ele acredita que sua idade é um dos fatores que comprometem a contratação. “Ninguém admite, mas aos 52 anos é mais difícil e, por mais que preencha as fichas, eles não chamam”, lamenta.

O coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, ressalta que a perda de postos de trabalho ao longo dos anos de crise foi muito intensa, por isso a população irá demorar para sentir os reflexos na geração de emprego. “Somente após cinco anos de crescimento contínuo é que a população sentirá os impactos reais da recuperação”, estima.
 




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