Milhares de timorenses foram para as ruas de Dili neste domingo para festejar em massa, depois da retirada das últimas tropas indonésias, no final desta tarde. A celebraçao comemora o fim de 24 anos de opressao indonésia sobre este ex-territoório de Portugal, que para a ONU até há pouco tempo continuava exercendo sua legítima soberania nesta ilha do Pacífico.

As últimas tropas desta ocupaçao iniciada em 75 e formalizada em 76 eram compostas por pelo menos mil soldados que embarcaram de volta para casa no porto de Dili no carregador Teluk Banten, no começo da manha.

O embarque foi supervisionado pelas tropas de paz da ONU comandadas por oficiais da Austrália.

Durante esta ocupaçao nesfasta, 200 mil timorenses foram mortos. Pessoas de todas as idades cantavam e dançavam esta noite no centro da cidade. Muita gente levou mesas e cadeiras para as ruas, onde prepararam refeiçoes e brindaram sua independência.

Nas proximidades do porto uma multidao seguia uma procissao Católica, liderada pelo bispo e Nobel da Paz, Carlos Belo, que seguia uma picape carregando uma estátua da Virgem Maria.

Depois das oraçoes, num discurso, Belo apelou novamente às milicias para que "se convertam ao trabalho e a paz para que todos possam reconstruir um novo país".

"Timor é agora uma naçao, um país uma pátria, nao é mais Indonésia. Por favor peço aos milicianos que voltem para suas casas porque suas famílias precisam de vocês ... Nós devemos perdoar todos, mas alguns deverao explicar porque queimaram casas e deixaram tanta gente morta e desabrigada," ele disse.

Belo enviou também uma mensagem aos governantes de Jacarta. "Nós respeitamos vocês e amamos vocês. Estamos felizes porque também ingressam numa nova era democrática".

No sábado, o chefe independentista Xanana Gusmao tomou parte numa cerimônia no aeroporto de Dili junto com oficiais da Interfet ele acompanhou a retirada aérea de outros indonésios. Gusmao, sorrindo cumprimentou o Brigadeiro J.D. Sitorus, comandante das Tropas Indonésias no Timor. Os mesmos militares que um dia o colocaram na cadeia.

Depois de baixarem as bandeiras indonésias em barracas próximas ao aeroporto, 130 soldados partiram em dois Hercules C-130. Mais de 25 mil militares da Indonésia deixaram o Timor Leste depois que as forças de paz desembarcaram em 20 de setembro para acabar com a política sangrenta das milícias que vinha sendo acobertada pelos militares da Indonésia.

A diplomacia brasileira teve papel contundente nas últimas negociaçoes de paz para este território que ganharam força também depois que Portugal foi admitido na Uniao Européia. Um diplomata brasileiro que atua nas principais negociaçoes de paz das Naçoes Unidas foi nomeado administrador temporário para o Timor Leste.

Sérgio Vieira de Mello terá a difícil tarefa de reconstruir este território devastado. O diplomata tem experiência no trato com problemas humanitários. Secretário-geral adjunto da ONU, Vieira de Mello dirige o bureau de Relaçoes Humanitárias desde 1º de janeiro de 1998.

A reconstruçao do sistema judiciário é a prioridade em Timor Leste, disse esta semana o administrador das Naçoes Unidas para a regiao. "A justiça será a nossa principal prioridade", disse Vieira de Mello numa entrevista em Nova York depois de ser nomeado.

O administrador também apoiou o apelo do líder separatista Xanana Gusmao, que pediu aos timorenses que rejeitem a vingança, após a violência e a destruiçao promovidas pelas milícias e o Exército indonésio.

O diplomata brasileiro anunciou na última quarta-feira que partirá de Nova York para o Timor Leste, nos dias sete ou oito de novembro próximo. Ele assumirá o posto logo em seguida.