No aniversário de 125 anos do primeiro automóvel, o triciclo de Karl Benz, o Grande ABC, berço da indústria automobilística brasileira, pode ganhar um presente que merece há anos. As cidades de São Bernardo e São Caetano revelaram com exclusividade ao Diário a intenção de trazer para a região o rico acervo do extinto Museu do Automóvel de São Paulo, que fechou as portas na semana passada.
O primeiro a declarar total disposição foi o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PTB). "Vamos correr atrás disso. É do nosso interesse ter o museu na cidade", declarou o governante, reconhecendo que a maior dificuldade será encontrar um local para abrigar os mais de 70 clássicos do passado e 40 mil peças históricas. "Mas analisaremos todas as possibilidades".
São Bernardo, sede de grandes montadoras como Ford, Volskwagen, Mercedes-Benz e Scania, também confirmou intenção de trazer o museu para a região. "Vamos entrar em contato, conversar e ver o que é possível fazer. Mas, com certeza, temos total interesse", confirmou o secretário de Desenvolvimento Econômico,Ttrabalho e Turismo, Jefferson José da Conceição.
Segundo Mônica e Emília Cristina Siciliano, administradoras do extinto acervo, a possível transferência para o Grande ABC seria muito bem-vinda. "São Paulo é uma cidade grande e o museu é só mais uma das inúmeras atrações turísticas. Em um município menor, como Santo André, São Bernardo ou São Caetano, o museu ficaria mais em evidência", analisou Emília, que mora há seis anos em São Caetano.
Filhas de Romeu Siciliano, que fundou em 21 de setembro de 1999 o Museu do Automóvel de São Paulo e morreu em 2008, elas exaltaram a influência da região no antigomobilismo. Segundo Emília, o encontro de carros antigos que ocorre todos os anos no Parque Chico Mendes, em São Caetano, é exemplo de organização e apresenta o mesmo nível do evento em Araxá (MG), considerado o maior do País.
NAMORO ANTIGO - O Grande ABC ‘flerta' há tempos com a possibilidade de ter um museu. Em 2005, o plano de erguer o Museu da General Motors foi abandonado, após a Prefeitura de São Caetano ter oferecido área para o acervo da montadora, que então foi levado para o Museu da Ulbra, em Canoas (RS), que também fechou as portas.
"Meu pai chegou a trabalhar para ajudar a montar o museu da GM", lembrou Emília, destacando o fato de a própria marca ter patrocinado o museu da Capital durante um ano e meio. "Nós tínhamos inclusive uma linha de montagem dela (GM) exposta no nosso galpão no bairro do Ipiranga".
Antigomobilistas, colecionadores e empresários de São Bernardo também já tentaram montar um galpão com cerca de 180 clássicos ao lado da FEI (Fundação Educacional Inaciana), em São Bernardo. Também existe o projeto - que não saiu do papel - de utilizar o Pavilhão de Exposições Vera Cruz para abrigar as raridades sobre rodas.
TRISTE FIM - O Museu do Automóvel de São Paulo sofreu com o descaso governamental. "Vivemos durante 12 anos pagando aluguel. Sequer tivemos um prédio próprio", revelou Mônica. "Meu pai sempre dizia: ‘A cidade ganha muito com o museu. E o museu, ganha o quê?'"
Para manter 20 carros, o investimento mensal é de R$ 15 mil. "Para cuidar de 70 automóveis, o gasto pode chegar a R$ 40 mil", revelou Mônica.
Com o encerramento das atividades, os clássicos do passado - entre eles um Lê Zebre 1909 que pertenceu à família do pai da aviação, Alberto Santos Dumont - estão guardados à espera de nova casa em Araçariguama (SP), cidade que estuda, assim como Jundiaí (SP), a possibilidade de acolher os clássicos. "Temos também um ferro-velho em Santa Barbara d'Oeste (SP) que meu pai comprou há 11 anos e que abrigava cerca de 500 veículos antigos que necessitavam de restauração. Hoje existem apenas 120", revelou Emília. "O objetivo era fazer do local uma escola de ofício, onde restauradores ensinariam a profissão a jovens interessados."
Deixando claro que o acervo possui ‘joias' raras, Mônica lembra que o carro desejado pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), para o desfile de posse só foi encontrado no Museu do Automóvel de São Paulo. "Infelizmente, por alguns motivos ele não pôde desfilar", explicou. Já Emília lembra de algo realmente fantástico. "Meu pai tinha guardado automóveis raríssimos em que ninguém coloca a mão há mais de 30 anos. Um exemplo são os dois Horsh da Audi, ambos da década de 1930, que estão em uma garagem".
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