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Especialistas debatem o pós-crise
Bárbara Ladeia
Do Diário do Grande ABC
26/10/2008 | 07:15
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O mundo deverá assistir a grandes mudanças depois do fim da crise financeira que toma conta o cenário econômico mundial. Para alguns estudiosos de economia e política, este é mais um dos sinais de que uma nova formatação mundial está a caminho, com novos personagens, líderes, elementos e estruturas de poder.

"Estamos assistindo ao final do período de unipolarização, onde o norte-americano concentra o poder mundial", define o historiador Paul Kennedy, da Universidade de Yale, dos Estados Unidos. Para ele, mesmo antes da crise internacional, o mundo já assistia a um deslocamento dos eixos de poder. "Nos últimos anos, tivemos crescimento de três ou quatro potências mundiais, ascensão da Ásia e perda da força dos Estados Unidos na economia global. Ao final da Guerra Fria, éramos responsáveis por 50% do produto mundial. Hoje somos responsáveis por apenas 20%", lembra Kennedy.

Todas essas mudanças devem levar a uma nova configuração da economia mundial, com diversos países como lideranças mundiais. "Se existiu um mundo unipolar, ele se foi. Hoje temos um grande bloco, com diversas potências", defendeu o historiador.

No centro das atenções está a China, que é sempre citada como grande concorrente ao posto de potência mundial. Mesmo com um crescimento exorbitante nos últimos anos, para o chinês Zhiwu Chen, professor de finanças na Escola de Administração da Universidade de Yale, esta ascensão não é tão óbvia. "Não subestimem a capacidade dos Estados Unidos de corrigir erros. Não estamos preparados para assumir essa posição. Não esperem a China assumindo essa liderança tão cedo."

Hoje, o país concentra US$ 2 trilhões em reservas e, segundo Chen, seriam necessários apenas US$ 600 bilhões diante de uma forte piora no cenário da crise. "A China tem alguns investimentos em vista, como um reforço na economia mundial para o próximo ano."

O indiano Nayan Chanda, diretor de publicações do Centro de Estudos para a Globalização da Universidade de Yale, prefere não definir o futuro. "É muito arriscado fazer previsões. Podemos ter palpites a partir dos fatos."

VERSÃO BRASILEIRA - Para o ex-ministro Pedro Malan o real motivo da disseminação dos efeitos da crise tem origem no fim da Guerra Fria. Países se reestruturaram, a aversão ao risco diminuiu e um ciclo extraordinário de expansão tomou o cenário. Mais tarde, a revolução tecnológica permitiu a redução dos custos de transação, o aumento da produtividade e a disseminação da informação. "Isso unificou os sistemas financeiros mundiais e fez com que passássemos a uma posição de cooperação internacional, com interdependência."

"No pós-crise, estaremos em uma nova configuração geopolítica", defende o embaixador Sérgio Amaral. "A crise financeira só acelerou tendências já existentes". Mesmo diante de uma recuperação dos Estados Unidos, Amaral acredita que a configuração dos poderes econômicos mundiais não voltarão à mesma posição de antes do caos financeiro. "Os Estados Unidos viveram muito acima das suas possibilidades."




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