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Professores reclamam por mais tempo para estudar
Do Diário do Grande ABC
14/10/2000 | 17:04
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Mais formaçao, tempo para estudar e melhores salários. Essas sao as reivindicaçoes dos professores brasileiros, que neste domingo comemoram o seu dia. Só no ensino médio e fundamental, eles sao 2,2 milhoes. Quase metade, 48%, nao tem curso superior e enfrenta uma jornada estafante, marcada pela necessidade de superar, muitas vezes, a falta de estrutura para trabalhar. Mesmo assim, nao perdem a esperança e apostam em um futuro melhor.

Todos os dias, os professores Arnaldo Aredes Alves, Daniel Camillo, Lilian Novaes e Adriane Pereira do Nascimento reúnem-se por volta das 5h30. O encontro ocorre no ônibus, a caminho da Escola Estadual Adriao Bernardes, na Zona Sul de Sao Paulo, onde os quatro lecionam. "Se nao saio de casa cedo, perco o horário", conta Camillo, um ex-metalúrgico que há dois anos tornou-se professor de matemática e ciências.

Sao necessárias duas horas para o ônibus percorrer o trajeto de cerca de 30 km entre o Largo do Socorro e a escola, no bairro de Bororé. Nao bastasse a duraçao da viagem, os professores ainda têm de cruzar a Represa Billings de balsa, pois a escola fica numa península às margens do reservatório.

"Quando o ônibus ou a balsa nao quebram, tudo dá certo, mas já aconteceu de eu ter de fazer mais de metade do percurso a pé", relata Lilian. Quando o defeito é na balsa, o tempo da viagem aumenta em pelo menos uma hora, pois o ônibus é obrigado a usar uma estrada alternativa. Nesses casos, os alunos correm o risco de ficar sem aula.

Mas o cansaço nao tira a vontade de trabalhar desses profissionais. "A rotina é desgastante, mas acredito no meu trabalho, o que dá forças para lutar e fazer alguma coisa para tentar melhorar", diz Lilian. "Nunca pensei em desistir", conta ela, cujo desgaste é intensificado pelo fato de ser professora eventual, substituindo os professores que faltam.

Para ela, estudar sempre e mais é o único meio de que o professor dispoe para se manter atualizado e, assim, manter a qualidade da aula e atrair a atençao dos alunos, "cada vez mais rebeldes". A lógica é a seguinte: se o professor dominar métodos diferentes da tradicional dobradinha giz e lousa, terá mais estratégias para ensinar. Camillo já percebeu isso e, hoje, aplica quase um terço do salário de R$ 1.800 em cursos de especializaçao de matemática e física.

Antônio Onofre dos Anjos, também professor da Adriao Bernardes, acha que, além de investimentos estatais em capacitaçao, sao necessários mais tempo livre e um salário melhor para manter-se atualizado.




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