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Cientistas políticos analisam vitória do PT
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
08/10/2002 | 22:07
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Cientistas políticos sacaram três principais conclusões de dentro das urnas de 6 de outubro:

1) O Brasil se despede de velhas lideranças feudais e vai para a esquerda, em companhia principalmente do PT, mas ainda mantém um pé no centro; não houve, portanto, uma vitória definitiva da esquerda;

2) A morte do ex-prefeito Celso Daniel e as denúncias de extorsão que envolveram o primeiro escalão da Prefeitura de Santo André ainda oferecem muitas dúvidas e poucas conclusões para abalar o voto da maioria dos eleitores da região, que optaram por fortalecer a bancada de parlamentares do PT do Grande ABC.

3) O malufismo parece cirurgicamente morto, mas pode voltar à vida, como o personagem Jason de Sexta-Feira 13;

Ao examinar o resultado das urnas, o analista político Gaudêncio Torquato tem um diagnóstico preciso: o Brasil caminha para a centro-esquerda e se despede das “tradições corroídas da política feudal” e seus “velhos caciques”. Para exemplificar, ele cita a vitória no primeiro turno do “filho de lavradores” Wellington Dias (PT), que derrotou Hugo Napoleão (PFL), um dos símbolos do “caciquismo” decadente.

O cientista político Rogério Antunes é reticente, em relação a suposta “vitória da esquerda”. Os números revelam, assinala Antunes, que houve apenas um crescimento significativo da bancada do PT. “Isso não significa que a esquerda venceu, uma vez que o PFL se mantém mais ou menos no mesmo patamar da eleição anterior.”

Tanto Antunes como o professor do Departamento de Política da PUC Cláudio Couto entendem que o PT beneficiou-se do crescimento do candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva que superou sua margem histórica de votos. “O PT está bem estruturado em todo o país e cresceu nas urnas junto com Lula”, diz Couto, lembrando que a eleição de uma grande bancada de parlamentares petistas para a Câmara Federal (provavelmente 92) pode ser decisiva para dar a Lula a vitória no segundo turno.

Malufismo – O professor Couto, que há dois anos em entrevista ao Diário considerava prematuro decretar o fim do malufismo, continua quase na mesma posição: “O Maluf lembra o personagem Jason, daquele filme Sexta-Feira 13. Você acha que está morto e ele sempre volta à vida.” Couto lembra que Maluf obteve 4 milhões de votos. “O capital político do malufismo está em depreciação, mas não pode ser menosprezado”, observa.

Para Torquato, a derrota do candidato Paulo Maluf (PPB) representou “mais um ato de condenação ao velho perfil do cacique político”. “O Brasil não aceita mais esse jogo.”

Denúncias – Em relação às denúncias de extorsão, que envolvem o primeiro escalão da Prefeitura de Santo André, Torquato diz que o eleitor tem uma atitude mais racional. “Ele não confunde alhos com bugalhos. Uma coisa são as denúncias e a outra, a eleição.”

O professor Couto afirma que as denúncias não abalaram a credibilidade do PT, porque o partido “tem ainda muita gordura para queimar”. Ao contrário de outros partidos, o PT conta com uma “folha corrida”, que ainda “não pesa tanto”.

O cientista político Antunes explica que os episódios de Santo André não foram suficientemente esclarecidos. “É um caso obscuro, carregado de ambigüidades. O eleitor aguarda uma resolução.”




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