Economia Titulo Retrospectiva
Montadoras investem na região e dão fôlego ao setor

Após amargar 2016 com forte crise e muitas demissões, vendas de veículos reagem e fábricas apostam em novos modelos

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
31/12/2017 | 07:21
Compartilhar notícia


O ano de 2017 para o setor automotivo no Grande ABC foi marcado por uma palavra: recuperação. O baque da dobradinha de intensa crise econômica entre 2015 e 2016 foi forte, e muita gente perdeu trabalho em indústrias da região, que voltou a contratar em janeiro deste ano, após 23 meses só demitindo.

Este ano começou um pouco inseguro, ainda amargando os impactos decorrentes do alto desemprego – 244 mil pessoas nas sete cidades – e da consequente queda nas vendas de veículos. Mas, no segundo semestre, as exportações dispararam em todo o País, atingindo volumes históricos, e as montadoras começaram a anunciar investimentos em suas plantas da região – que, juntos com o da Pirelli, somam R$ 8,3 bilhões até 2022 –, além de trazer novos modelos para cá, o que deu novo fôlego.

Com isso, as seis fabricantes (General Motors, Volkswagen, Ford, Mercedes-Benz, Toyota e Scania) que, inclusive, têm suas sedes brasileiras no Grande ABC, detiveram, por mais um ano, o título de carro-chefe da economia regional.

A primeira a anunciar investimento foi a General Motors, de R$ 1,2 bilhão, até 2020, para a modernização e continuidade de sua planta em São Caetano. No entanto, a companhia condicionou o aporte à retirada de direitos dos operários. Para que a unidade tivesse funcionamento garantido até 2028 – a expectativa era de vida útil, até então, de mais quatro anos –, foi necessário abrir mão de benefícios, como a redução do adicional noturno de 30% para 20% e ausência de reajuste neste ano, em troca de abono. Já em 2020, os contracheques terão 100% da inflação registrada no ano anterior, com prêmio de assiduidade para evitar faltas.

A empresa também abriu PDV (Programa de Demissão Voluntária) e demitiu em torno de 50 pessoas. Diante da baixa adesão, demitiu 385 trabalhadores após o fim do lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho), que vigorou por mais de dois anos.

Impulsionada pelas exportações, a Scania, que direciona a outros países cerca de 70% do que é produzido em São Bernardo, anunciou ainda no primeiro semestre o aporte de R$ 2,6 bilhões até 2020 para o desenvolvimento de produtos, além da modernização industrial e da rede de concessionárias. Adicionalmente, criou 500 postos de trabalho.

Em agosto, a Toyota concluiu ciclo de investimentos de R$ 70 milhões para revitalizar a planta são-bernardense e transferir a sede administrativa de São Paulo. Parte dele foi para construir o centro de visitas, que é uma espécie de museu da fabricante, que expõe modelos como o icônico Bandeirante, fabricado na região por 39 anos, até 2001. A partir de janeiro, é possível agendar visita ao local.

No mesmo mês, a Volkswagen divulgou aporte de R$ 2,6 bilhões até 2020 para produzir em São Bernardo o novo Polo e o sedã Virtus. Com a boa notícia, o terceiro turno, suspenso desde junho de 2015, foi retomado em outubro, o que favoreceu a reintegração de operários que estavam em lay-off e o total de afastados baixou de 687 para 167.

Ainda em agosto, a fabricante de pneus Pirelli, que passou a atender por TP Industrial do Brasil, anunciou aporte de R$ 80 milhões em sua planta de Santo André, e avisou que concluiu ciclo de investimento de R$ 30 milhões na linha agrícola da unidade. Ao todo, serão injetados R$ 110 milhões no local até 2019.

Perto de terminar investimento de R$ 530 milhões na planta são-bernardense iniciado em 2015, a Mercedes-Benz anunciou em outubro outro aporte, de R$ 2,4 bilhões, a ser partilhado com a unidade de Juiz de Fora (Minas Gerais) para melhorar a produtividade até 2022.

Em novembro, a montadora disse que realizaria horas extras dois sábados por mês até abril, a fim atender a demandas de clientes da Colômbia e de países localizados no Oriente Médio. E, neste mês, anunciou a contratação de 266 trabalhadores. O processo seletivo, inclusive, é para a área de logística e está aberto até 8 de janeiro.

EXCEÇÃO - A Ford foi a única que não realizou investimento em São Bernardo neste ano, porém, em visita à planta de Camaçari (Bahia), o gerente do complexo industrial da Ford Nordeste, Silvio Illi, afirmou que novo ciclo de investimentos está sendo preparado pela montadora, sem detalhar quando e em quais unidades.

Em agosto, a companhia enviou telegrama a 364 trabalhadores, mas, após paralisação e acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, readmitiu 80 e abriu PDV para 294.

REFLEXO - De acordo com dados do Boletim IndústriABC, divulgado pelo Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo e realizado em parceria com a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), os investimentos das montadoras contribuíram para reduzir a ociosidade das indústrias da região de 46% para 33%.

Isso significa que houve aumento no volume de pedidos. No entanto, o ideal é que o nível de atividade industrial, hoje em 67%, opere com 80% da capacidade instalada. Fica como missão para 2018.


Reforma trabalhista entra em vigor e ações despencam

A reforma trabalhista entrou em vigor em 11 de novembro e, até o fim deste ano, o maior impacto sentido foi no volume de ações trabalhistas na Justiça. No Judiciário do Grande ABC, a quantidade de processos despencou 93,04% nos dez primeiros dias após a reforma da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), se comparado com igual período imediatamente anterior, totalizando 343 ações, segundo dados do TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região).

Isso ocorreu devido às incertezas geradas pela reforma, que alterou 100 pontos da CLT. Tanto que, até então, embora as mudanças sejam vistas com bons olhos pelos empresários, uma vez que poderá gerar contratações sob regime intermitente, ou seja, somente quando houver necessidade da empresa, por exemplo, as admissões ainda não foram impulsionadas.

Dentre as principais alterações, destacam-se: parcelamento das férias em até três períodos, desde que um deles não seja menor do que 14 dias; horário de almoço de 30 minutos e, em contrapartida, saída meia hora mais cedo; regulamentação de home-office; trabalho de grávidas ou lactantes em locais insalubres permitido em ambientes de graus médio e mínimo, desde que haja laudo médico que autorize a atividade; sobreposição do acordado pelo legislado.


JANEIRO

Vendas de veículos têm pior resultado em 11 anos e produção retrocede a 2004. Desemprego é o maior desde 2005 e inflação atinge 6,29%, menor patamar desde 2013.

FEVEREIRO
Balança comercial da atinge maior saldo positivo desde 2012. GM condiciona investimento ao corte de direitos. Indústria contrata após 23 meses de cortes.

MARÇO
Região tem 244 mil desempregados; cortes superam admissões há 27 meses. Após dois anos em retração, varejo volta a crescer. Saab confirma fábrica em São Bernardo.

ABRIL
Remédios encarecem 4,76%. Prysmian fechará planta em Sto.André. Greve contra reformas trabalhista e previdenciária mobiliza 227 mil e operário fica sem festa na região.

MAIO
A cada R$ 100 gastos no País, R$ 1,72 ficam na região, quinto maior polo consumidor. IPCA fecha abaixo da meta após sete anos. Depois de 28 meses, região volta a contratar.

JUNHO
Inflação tem menor marca em 10 anos. Hospital São Luiz vai contratar 1.500 em São Caetano. Após 30 meses de demissões, construção volta a admitir.

JULHO
IPCA tem primeira deflação em 11 anos. Pioneiro no País, polo petroquímico completa 45 anos. Scania faz 60 anos e anuncia novo modelo em São Bernardo.

AGOSTO
Exportação de veículos tem maior marca da história. Pirelli investe R$ 110 milhões em Sto.André. Ford corta 364, readmite 80 e abre PDV. Venda de caminhão é a pior em 11 anos.

SETEMBRO
Mercedes é processa da em R$ 140 milhões pelo MPT. Produção de veículos atinge maior marca em 33 meses. Atlantica e Accor investem R$ 250 milhões em cinco hotéis na região.

OUTUBRO
Exportação de veículos é a maior em 12 anos. Ceasa de Santo André quer 50% do público da Ceagesp. Taxa de juros atinge segunda menor marca da história.

NOVEMBRO
Vagas para temporários crescem 14%. Polo de cosméticos de Diadema faz 15 anos e mira retomada. Reforma trabalhista entra em vigor. Casas Bahia faz 65 anos em S.Caetano.

DEZEMBRO
PIB da região perde peso, mas se mantém como o quarto maior do País. IGP-M deflaciona e aluguéis diminuem. Salário mínimo tem menor reajuste desde início do Plano Real. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;