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Rita Guedes, a Gilda da novela das seis
André Bernardo
Da TV Press
27/09/2005 | 08:20
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Rita Guedes está ávida por inaugurar uma nova fase na carreira. Depois de tantos anos emprestando beleza e sensualidade a tipos dominadores e fatais, como a Pinky, de Olho no Olho, e a Stella, de Uga Uga, ela gostaria de fazer personagens que explorassem menos os seus atributos físicos e mais os seus dotes artísticos. Por isso mesmo, a atriz de 33 anos adorou receber um convite do diretor Jorge Fernando para fazer Alma Gêmea, de Walcyr Carrasco.

Pela primeira vez na carreira, desde que estreou em Despedida de Solteiro, de 1992, faz uma novela de época e interpreta um personagem cômico. “Não quero ficar associada a um único tipo de personagem. Independentemente de ele ser sensual, cômico ou dramático. Não me incomodo de voltar a fazer tipos sensuais, desde que também possa me exercitar em outros papéis”, afirma a atriz.

Sorte dela não se incomodar, pois não foi dessa vez que abandonou a sensualidade. Logo na primeira prova de roupa, deu para perceber que Kátia não seria uma moça, assim, tão recatada. Muito pelo contrário. De comportado, o figurino da personagem não tem nada. Não por acaso, o figurinista Lessa de Lacerda buscou inspiração em divas de Hollywood para criá-lo, principalmente Gilda, personagem de Rita Hayworth no filme homônimo de Charles Vidor. “A Rita sempre foi exuberante, mas, nesse filme, se superou. Gostei tanto de Gilda que até baixei a musiquinha da internet. Não resisti”, brinca, referindo-se à canção Put the Blame on Mame, que embala a cena de Gilda em que a personagem-título faz um provocante strip-tease – na verdade, ela só tira uma luva.

Mas não é só o figurino de Kátia que faz a linha vanguardista. Para os padrões dos anos 40, a moça também pode ser considerada um tanto à frente de seu tempo. A começar pelo fato de ser mãe solteira e por manter a filha em segredo. “Se ainda hoje existe preconceito, imagina naquela época. Separou? Nem interessava o motivo, a mulher era sempre a culpada!”, diz. E não é só. Além de ser mãe solteira, Kátia também faz a linha namoradeira. Atualmente, a bonitona é disputada por nada menos que três pretendentes: Seu Rodriguez, Crispim e Gumercindo, personagens de Carlos Gregório, Emílio Orciollo Neto e Kayky Brito, respectivamente. “No começo, duvidei se a Kátia seria bem-recebida pelo público. Mas as pessoas perceberam que ela não faz o que faz por maldade, é por necessidade mesmo. Felizmente, ela caiu no gosto popular”, festeja.

A todo instante, Rita repete que não poderia ter voltado às novelas em melhor ocasião. Ela já estava de malas prontas para uma temporada de seis meses nos Estados Unidos, onde pretendia estudar interpretação em Los Angeles, quando recebeu o telefonema de Jorge Fernando. Desde Uga Uga, em 2000, Rita não fazia uma novela do início ao fim. De lá para cá, só participações em Desejos de Mulher, Da Cor do Pecado e Sítio do Picapau Amarelo. “Por melhor que seja uma participação, nunca é a mesma coisa. É como chegar no meio da festa dos outros”, compara. Ainda assim, Rita Guedes não se queixa de ostracismo ou algo parecido. Convites não faltaram, garante ela. Faltou mesmo foi conciliar os trabalhos na TV com o espetáculo Qualquer Gato Vira-Lata Tem Uma Vida Sexual Mais Sadia que a Nossa, que ela produziu e estrelou por três anos. “Minha peça estava dando certo, não tinha porque parar”, justifica.

Foi na peça de Juca de Oliveira, aliás, que Rita percebeu que talvez levasse jeito para a comédia. “Só agora entendi porque falam tanto que fazer rir é mais difícil do que chorar. Na comédia, se você perde o timing, se respira um tanto a mais, já perde a piada. Quem faz humor faz qualquer coisa”, afirma. Por essas e outras, a atriz se mostra tão decidida a só aceitar papéis que mostrem algo mais que o seu belo corpanzil. “Se tiver de ficar nua novamente para contar uma história, não vejo o menor problema. Agora, gratuitamente, não tiro mais nem o sapato”, avisa.

Pela estrada afora – Uma Viagem do Capitão Tornado Pós-moderna. É com o filme de Ettore Scola, sobre uma companhia de saltimbancos que atravessa a França renascentista, que Rita Guedes compara os três anos de sua adolescência em que passou a bordo de um trailer. Na época, ela tinha 17 anos quando integrou a Sia Santa, companhia teatral que existe até hoje.

Desde os 9, porém, Rita de Cássia de Souza Guedes já se interessava por teatro. Ainda em sua cidade natal, Catanduva, no interior de São Paulo, ela deixava de ir a festinhas ou sair com os amigos para passar o dia inteirinho no teatro, fazendo exercícios de corpo, voz e interpretação. “Chegava no teatro às 14h e só saía de lá depois das 22h. Quando disse para minha mãe que entraria para a companhia, ela já sabia que não era fogo de palha da minha parte. Era vocação mesmo!”, orgulha-se.

Durante quase três anos, Rita Guedes mambembou na Sia Santa. Nesse período, a trupe, formada por 12 saltimbancos, percorreu capitais brasileiras com os mais variados tipos de espetáculo: de teatro de fantoches a commedia dell’arte. De segunda a sexta-feira, a companhia se apresentava em colégios e, nos finais de semana, em teatros propriamente dito. Certa vez, a Sia Santa resolveu aventurar-se no Nordeste, em três dias ininterruptos de viagem. O trailer em que a trupe viajava não funcionava apenas como meio de transporte, mas, principalmente, como uma espécie de hotel ambulante. Dentro dele, tudo de que precisavam: fogão, geladeira, beliche... “Mas, ao contrário do que as pessoas podem imaginar, o clima era familiar. Ninguém aceitava baderna. Bebida alcoólica, por exemplo, era terminantemente proibida”, ressalva, saudosa.




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