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'Noel Rosa Pela Primeira Vez' resgata a MPB
Por Joao Marcos Coelho
Especial para o Diário
30/12/2000 | 16:18
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Parece que finalmente a música popular brasileira começa a ser resgatada de modo digno e profissional com este magnífico Noel Pela Primeira Vez (Velas/Funarte). Esta é a gostosa e rara sensaçao que se tem ao ouvir os 14 CDs (sao 229 gravaçoes originais), todos acomodados em uma caixa, e folhear o encarte de 160 páginas contendo todas as letras e informaçoes como datas de composiçao, gravaçao, intérpretes etc. Parece até coisa de gringo.

Está certo, aquele papo de país desmemoriado já encheu, mas nao custa nada elogiar iniciativas como esta, que documentam com precisao toda a produçao discográfica de um de nossos maiores compositores populares. Noel Rosa, nascido em 1910 em Vila Isabel, no Rio, morreu antes de completar 27 anos de vida e nao mais do que seis de carreira musical. Ele só entrou em estúdio para gravar suas próprias composiçoes, e o pesquisador paulista Omar Jubran trabalhou durante 13 anos, desde 1987, para chegar a esse formidável resultado, colocado nas lojas por iniciativa da Funarte e da gravadora Velas.

O critério de apresentaçao é muito bom, pois registra cronologicamente as primeiras gravaçoes de todas as músicas de Noel. Tanto as que ele mesmo deixou gravadas até 1937, data de sua morte, quanto as que foram sendo redescobertas e gravadas, comercialmente ou nao, até o ano passado. Sim, porque, acreditem, há músicas de Noel que Ná Ozzetti gravou pela primeira vez.

Trabalho de monge o de Jubran, que incluiu até bolachoes 78 rotaçoes quebrados em três pedaços que ele cuidadosamente reconstituiu. E, como diz Joao Máximo, autor de uma biografia de Noel, no texto de apresentaçao da caixa, "os 14 CDs formam um painel ideal para o estudo de sua obra e da própria música popular da época". Assim, ele nos mostra como Noel começou bebendo nas modas caipiras (Minha Viola), descobriu os negros do morro, fez samba com criadores como Cartola e Ismael Silva e chegou às composiçoes mais elaboradas em fim de carreira, entre as quais cabem jóias sofisticadas como Três Apitos, Ultimo Desejo e a derradeira Eu Sei Sofrer.

Um exemplo dá a dimensao da importância dessa caixa. Falava-se muito em uma parceria de Noel com Donga no samba Nao Há Castigo. Pois Jubran resgatou a gravaçao, de 1932, que permaneceu inédita porque os cantores esqueceram parte da letra.

Vale ressaltar que, quando se fala que algo é culturalmente importante, as pessoas começam a achar que aquilo deve ser chato. Pelo contrário. É delicioso curtir o próprio Noel cantando suas composiçoes acompanhando com o encarte. Revisitar clássicos como Com que Roupa, Feitiço da Vila, Conversa de Botequim ou Fita Amarela. E conhecer dezenas de raridades. Veja nesta página, por exemplo, a atualidade da letra deste samba-denúncia que tem todo jeito de dedicatória ao juiz Lalau.




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