Economia Titulo Representatividade
Cegonheiros representam até 50% das vendas do Demarchi

Motoristas receiam perder entregas da Volks, e comércio e serviços do bairro temem efeito em cadeia

Flavia Kurotori
Especial para o Diário
08/12/2017 | 07:15
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


Os trabalhadores de caminhão-cegonha do Grande ABC são responsáveis por movimentar, aproximadamente, 50% das vendas dos comércios e serviços localizados no bairro Demarchi, em São Bernardo. Isso se deve ao fato de grandes empresas de logística, como Brazul, Transzero, Tegma e Transauto, estarem instaladas nele, onde também se situa a Volkswagen.

A equipe do Diário percorreu ontem 11 estabelecimentos, entre mecânicas, autopeças, lanchonetes, bares, restaurantes, escola e até pet shop no bairro, e constatou que a maioria deles depende em grande parte do consumo da categoria ou de seus familiares.

Os carreteiros estão há nove dias com os braços cruzados como forma de protesto frente ao receio de perder o contrato com a Volkswagen, que já dura cerca de 50 anos. A montadora teria ameaçado, segundo motoristas, concentrar suas entregas em apenas uma empresa de logística de fora do Estado cujo nome não foi revelado. Além disso, eles relatam que a fabricante não reajusta o valor do frete há três anos. Caso o temor se concretize, em torno de 5.000 trabalhadores diretos e 20 mil indiretos serão afetados.

“Se ela retirar o frete do pessoal, vai prejudicar diretamente o comércio do bairro, porque os caminhoneiros dependem disso para consumir. Como irão gastar se não têm mais empregos?”, pondera Elza Goulart, proprietária da Lanchonete Tenda dos Amigos.

“Muitos cegonheiros estão com medo de perder seus empregos e, se isso acontecer, impactará o comércio e os serviços de toda região”, avalia Domingos Domiciano, vendedor da Dynamus Autopeças, onde metade dos clientes é de motoristas de caminhão-cegonha.

“Os cegonheiros movimentam toda uma cadeia, não apenas aqui, mas nos bairros próximos também”, complementa Carlos Roberto de Souza, gerente operacional do Auto Posto Shell Cinadis, onde 35% dos consumidores são carreteiros.

Embora não saiba estimar quantos dos seus frequentadores atuem no setor, Rômulo Cezare Carriel, proprietário do Dogfish Petshop e Material para Pesca, avalia que a categoria tem grande peso para o local. “O bairro Demarchi gira em torno dos cegonheiros, e seria uma grande perda para região caso eles não tenham mais o contrato com a Volks.”

“Eles sempre tomam café e comem pão na chapa na padaria e pagam estacionamento dos carros particulares enquanto trabalham. Toda a cadeia sofreria bastante”, afirma funcionário do SD Alimentos, que pediu para não ser identificado. “Tomara que não façam isso”, complementa Valdecir da Silva Lopes, gerente da Lanchonete Encontro dos Amigos, onde 20% dos frequentadores são cegonheiros.

IMPACTO INDIRETO - Funcionária do Colégio Terra Nova, onde boa parte dos alunos é de filhos de cegonheiros, que também pediu sigilo, confirma que haveria impacto nas matrículas caso os profissionais perdessem o contrato com a Volks.

“Não vendemos muitas coisas para os caminhões, mas, às vezes, eles compram alguma coisa para o veículo pessoal. Não dependemos exclusivamente deles”, relata Raimundo Ferreira da Silva, proprietário da Autopeças e Chaveiro Joia, que também reconhece o consumo, mesmo que indireto.

Mesmo que os fretistas não estejam entre seus clientes, José Gomes, proprietário da Padaria Colônia, reconhece a importância dos trabalhadores para a economia da região. “Não impactaria muito aqui na padaria, mas são muito importantes para o comércio como um todo”, explica.

EFEITO DA GREVE - Vale lembrar que 30% do volume total transportado pelos profissionais provêm da Volks e que, nesses nove dias de paralisação, mais de 2.000 carros zero-quilômetro deixaram de ser entregues. Os carreteiros também transportam veículos da Ford e GM (General Motors).

Questionada novamente, a Volkswagen informou que não irá comentar o caso. Procurado, o Sinaceg (Sindicato Nacional dos Cegonheiros) não se pronunciou até o fechamento desta edição. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;