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Secretários de Saúde de Mauá e Sto.André se demitem do cargo

Márcio Chaves e Ana Paula, respectivamente, saem das administrações de Atila Jacomussi e de Paulo Serra

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
07/12/2017 | 07:00
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Montagem/DGABC


No mesmo dia, os secretários de Saúde de Santo André, Ana Paula Peña Dias, e de Mauá, Márcio Chaves (PSD), deixaram os cargos. Ambos já haviam comunicado aos prefeitos Paulo Serra (PSDB) e Atila Jacomussi (PSB), respectivamente, a vontade de sair da Prefeitura, mas só ontem as demissões foram assinadas.

Para o lugar de Ana Paula a administração tucana designou o superintendente da Unidade de Assuntos Institucionais e Comunitários, Carlos Bianchin, para comandar os trabalhos em Saúde de forma interina, até que seja definido titular definitivo. Em Mauá, nenhum nome foi anunciado pela gestão socialista.

Além da demissão no mesmo dia, Ana Paula e Márcio Chaves tinham em comum a pressão por administrar um setor cuja demanda cresce e o recurso recua (veja mais abaixo balanço do período dos dois à frente das Pastas de Saúde).

Ana Paula chegou a solicitar seu desligamento na semana passada, mas Paulo Serra pediu que ela aguardasse até o dia 15, quando ele pretende efetuar o pagamento da parcela do 13º salário aos agentes de Saúde. Porém, especula-se que o tucano estaria à procura de outro nome e que poderia incluir Ana Paula em uma minirreforma administrativa, o que teria acelerado a saída dela da função.

À tarde, ela encaminhou texto, via WhatsApp, a servidores da Pasta e políticos. “Agradeço a todos os funcionários da Saúde, aos respectivos movimentos sindicais, aos vereadores e aos demais secretários deste governo, a quem desejo toda felicidade na condução de suas Pastas. Tenho certeza de que o próximo gestor de Saúde encontrará uma estrutura bem melhor do que a que recebemos em janeiro deste ano.”

Ao Diário, Ana Paula afirmou que “a saída acabou sendo firmada em comum acordo”. “Para quem assumir a Pasta, deixo à disposição uma equipe técnica muito boa, com um trabalho já encaminhado. Ao longo desses 11 meses, embora tenha tido dificuldades com o orçamento, consegui plantar sementes que só tendem a crescer, como o QualiSaúde, o Fila Zero, a questão do abastecimento de medicamentos, que hoje conta com estoque 90% completo.”

Paulo Serra também divulgou carta de agradecimento ao trabalho da agora sua ex-secretária. “A doutora Ana Paula arquitetou todo o planejamento da maior mudança do sistema público de Saúde da história de Santo André, e não só isso: ela planejou as grandes mudanças que implementaremos na cidade a partir de 2018 (...). Hoje (ontem), depois de muitos pedidos por parte de Ana Paula, me vi obrigado a aceitar seu desligamento da Pasta e dos quadros da Prefeitura de Santo André (...). Deixo registrado, nesta oportunidade, meu agradecimento a Ana Paula, além de carinho e admiração por tudo o que ela fez pela Saúde de Santo André neste ano, marcando tempo em nossa cidade e na administração pública municipal.”

Márcio Chaves também entregou carta a Atila. “Aproveito para externar os meus agradecimentos a todos colaboradores de todas as secretarias municipais, autarquias, gabinete do prefeito, assim como a todos vereadores e colaboradores da Câmara. Especialmente agradeço o empenho e apoio dos trabalhadores da Saúde, dos conselheiros da Saúde, dos parceiros da sociedade civil. Tenho esperança que todos continuem resistindo neste trabalho diário de construção do SUS, para que tenhamos um SUS universal, humano e eficiente, como prevê a Constituição.”

O governo Atila não se pronunciou sobre a demissão.


Ana Paula acusou agressão e conviveu com forte pressão

Os 11 meses da médica neurologista Ana Paula Peña Dias à frente da Secretaria de Saúde de Santo André foram marcados pela pressão em torno de sua atuação, cujo ápice aconteceu em agosto, quando ela participou de audiência na Câmara para detalhar o programa QualiSaúde.

À ocasião, ela dava explicações sobre o fechamento de sete unidades de Saúde, que passariam por reformas no âmbito do programa, quando houve tumulto. A titular da Pasta acusou vereadores de agredi-la e saiu do prédio legislativo escoltada. Depois, protagonizou ato no Paço em protesto pelo ocorrido na manhã daquele dia 24.

O andamento desse projeto era alvo constante de críticas de moradores e de vereadores, inclusive da base de sustentação. A ideia da administração é modernizar a rede e reformar prédios com estrutura precária, porém muitos questionavam o fato de ser necessária a interrupção de serviços de sete unidades de uma só vez.

Ana Paula também gerenciou o programa Fila Zero, cujo mote era trocar dívidas que empresas privadas da área da Saúde tinham com a Prefeitura por atendimentos para a rede pública, além de buscar redução do tempo de espera por exames e consultas de especialidades. No sábado, aliás, houve mutirão do projeto no Centro de Especialidades e no CHM (Centro Hospitalar Municipal). O governo anunciou, à ocasião, que 85 mil atendimentos foram realizados neste primeiro ano.

As especulações sobre o substituto de Ana Paula começaram assim que ela mesmo confirmou seu desligamento. Nomes políticos são cogitados – dois circularam no Paço: Márcio Chaves (PSD), de Mauá, e Nilson Bonome (PMDB), hoje em Paulínia. Porém, o núcleo duro sempre apontou a Saúde como área estratégica do governo e que dificilmente apostaria em secretário com perfil estritamente político para a vaga.


Relação com FUABC marcou passagem de Márcio Chaves

Quarto colocado na eleição à Prefeitura de Mauá em 2016 e apoiador do então candidato Atila Jacomussi (PSB) no segundo turno, Márcio Chaves (PSD) aceitou convite para ser secretário de Saúde com discurso de reestruturação da área na cidade, cujos problemas se avolumavam.

Porém, logo de cara sentiu que a relação entre a Prefeitura de Mauá e a FUABC (Fundação do ABC) seria seu maior desafio à frente da Pasta. A Fundação foi contratada ainda no governo de Donisete Braga (PT) para fazer a gestão de equipamentos de Saúde do município, em especial do Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini, porém, trocas mútuas de acusações estremeceram o dia a dia.

A FUABC reclamou que a administração municipal não pagava integralmente os repasses mensais. Do outro lado, Atila apontava que o contrato estava superdimensionado e superfaturado.

Além disso, processo de demissão de centenas de funcionários da entidade que trabalhavam em Mauá só acentuou o clima de animosidade. A FUABC indicava que, sem os pagamentos regulares de Mauá, não poderia efetuar a quitação de pendências trabalhistas. O Paço jogava toda responsabilidade à instituição.

O clima ruim provocou duas mudanças de superintendentes no Hospital Nardini. O primeiro gestor do equipamento foi Ricardo Carajeleascow, que pediu demissão acusando ingerência da diretora administrativa e financeira do complexo, Lucy de Souza Lima. Renata Martello foi contratada para seu lugar, mas ficou apenas um dia, com as mesmas críticas. Vanderley da Silva Paula foi o terceiro superintendente, mas já pediu demissão e está no aguardo de seu sucessor.

Outro fato que marcou a passagem de Chaves foi o pronto-socorro do Hospital Nardini, cuja reforma era para ser entregue no primeiro semestre, mas só será finalizada nesta semana. 




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