Por ordem expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, está definitivamente fora das articulações políticas do governo. Ele próprio avisou a aliados, na noite de quarta-feira, que, a pedido de Lula, não participaria mais de reuniões políticas. A partir de agora, ele terá de concentrar esforços na melhoria da gestão administrativa e nas relações intragovernamentais. Mas esta não será a única mudança na Esplanada dos Ministérios. Lula também está procurando cada um de seus ministros com uma determinação: "tenham cuidado com a língua para que a gente mesmo não volte a alimentar a crise".

Após passar quatro horas conversando com o núcleo político do governo na quarta-feira, avaliando a conjuntura e pedindo cautela máxima e todo o zelo com as palavras, Lula decidiu estender a recomendação ao ministério. "O melhor é que cada um cuide exclusivamente de sua área e só fale sobre os assuntos de sua Pasta", disse Lula pessoalmente a cada ministro que recebeu em audiência e também àqueles com quem se encontrou em solenidades dentro e fora do Palácio do Planalto. Ele avalia que o saldo da semana foi bastante positivo e que o capital ganho não pode ser consumido com declarações infelizes e muito menos com o chamado "fogo amigo".

Cancela – Foi a determinação presidencial que levou o ministro Dirceu a cancelar, à última hora, sua participação em um café da manhã na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), nesta quinta-feira. Em princípio, o ministro era a razão do café com as cúpulas petista e peemedebista, justamente por ter apadrinhado o ingresso do PMDB na base de sustentação do governo e no ministério Lula. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, acabou indo sozinho ao encontro, mas revelou que precisará de ajuda para a tarefa, considerada complexa sobretudo em ano de eleições municipais.

Na véspera, Dirceu havia telefonado ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), para assegurar sua presença no encontro. "Mas o presidente Lula pediu para que ele não participasse mais das conversas políticas e se dedicasse apenas à gestão administrativa", contou Calheiros. A ausência de Dirceu no café foi o primeiro sinal concreto da mudança de seu papel no governo. "O novo endereço dos parlamentares no Planalto agora é o gabinete do ministro Aldo", emendou o líder petista na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), para completar: "não é fingimento". Segundo ele, Dirceu vai mesmo se dedicar em tempo integral à eficiência da máquina administrativa – uma das principais críticas tanto dos aliados quanto da oposição.

Caso Diniz – A avaliação do presidente Lula e do núcleo palaciano é de que, agora, o ministro pode sair de cena e ir para o estaleiro sem parecer que está naufragando em função do caso Waldomiro Diniz. Depois da divulgação da fita que mostrou o subprocurador-geral da República, José Roberto Santoro, negociando com o empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o Planalto considera que o chefe da Casa Civil ganhou um discurso consistente.