Esportes Titulo No sufoco
Santo André escapa da
degola em jogo dramático

Volante Batata marca golaço na vitória de 1 a 0 contra
o União Barbarense e mantém Ramalhão na Série A-2

Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
02/04/2012 | 07:29
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O Bruno Daniel vazio foi palco de uma das vitórias mais emblemáticas da história do Santo André. Enquanto torcedores buscavam um jeito de acompanhar o jogo do lado de fora do estádio, dentro de campo jogadores se desdobravam para impedir o rebaixamento para a Série A-3. Foi então que surgiu um novo herói para a extensa galeria do clube: com chute forte da intermediária, o volante Batata marcou um golaço e definiu a vitória por 1 a 0 sobre o União Barbarense e a permanência da equipe da região na Segundona.

A salvação foi carregada de dramaticidade. Ao mesmo tempo em que o Ramalhão tinha dificuldades para superar os reservas do Barbarense, o Santacruzense, rival direto na luta contra degola, conseguia improvável virada (2 a 1) diante do ex-líder Audax, fora de casa. O drama não foi maior porque o São Bernardo facilitou as coisas para o Ramalhão e despachou o Palmeiras B (4 a 0) no 1º de Maio.

Com os resultados, a vitória diante do Barbarense era o suficiente, mas o empate levaria o Santo André pela primeira vez à Terceirona. "Sabíamos que se levássemos um gol estaria tudo acabado. Mas hoje (ontem) a bola não iria entrar de jeito nenhum. Estava disposto a morrer para impedir o gol e duvido que tinha um jogador do adversário com a mesma disposição", desabafou o goleiro Gustavo, que deixou o gramado do Brunão bastante emocionado.

ALÍVIO
O apito final do árbitro Wilson Luiz Seneme acabou com o martírio dos jogadores. Alguns se ajoelharem no gramado e comemoraram como se fosse um título. Outros chegaram a chorar.

"Senti um alívio muito grande no coração quando acabou. Uma sensação de dever cumprido, apesar de reconhecer que deveríamos estar brigando pelo acesso, porque esse grupo é forte e tinha condições para isso. Mas não é fácil. Passei 50 dias me recuperando de contusão (artroscopia no joelho esquerdo), voltei ainda sem firmeza e fui para o sacrifício, mas deu tudo certo", lembrou o volante Batata, autor do gol que garantiu a vitória.

O semblante antes carrancudo deu lugar ao sorriso fácil nos vestiários. O técnico Ruy Scarpino se mostrou bem mais tranquilo e comemorou a permanência na Segunda Divisão. "Estou aliviado. Só nós que estamos aqui sabemos o que passamos. Tivemos muitas contusões durante a competição e sabíamos que esse time não merecia ser rebaixado. Foi sofrido até o último instante. Perdemos o (meia) Luizinho na véspera desse jogo (quebrou o braço esquerdo no rachão), o que nos fez falta. Mas conseguimos a superação e conquistamos a vitória", comemorou o treinador.

A palavra da vez é aprendizagem. Todos, sem exceção, trataram o susto vivido na Série A-2 como lição para o futuro. "Temos de aprender para que isso não se repita. Vitórias como essa não acontecem muitas vezes. O Santo André tem de voltar a ser aquele time mediano e que pensava grande e isso, infelizmente, não acontece com alguns jogadores", assume o diretor de futebol, Sérgio do Prado.

FUTURO
Superado o risco de rebaixamento para a Série A-3, o Santo André começa hoje o planejamento para a Série C do Campeonato Brasileiro, que começa dia 27 de maio. Os jogadores vão tirar 16 dias de férias e devem se reapresentar apenas os que seguem nos planos da diretoria.

Outra definição é em relação à comissão técnica. O contrato de Ruy Scarpino com o clube terminou junto com o Estadual, mas ele manifestou interesse em ficar. "Vamos aguardar a decisão do clube, mas estamos apalavrados para permanecer até o fim da Série C", comentou.

Para Sérgio do Prado, só a união de todos pode fazer o Santo André voltar a ser grande. "Precisamos sim de reforços, mas temos de melhorar o relacionamento com a torcida, com a Prefeitura, entre a diretoria, enfim, todos lutando por um só objetivo que é o bem do Santo André", finalizou.

Torcedor apela para Santo e buracos no muro para ver o jogo

Ontem valeu de tudo pela permanência do Ramalhão na Série A-2. Com os portões do Bruno Daniel fechados - decisão imposta pelo Ministério Público por descumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta assinado pela Prefeitura em 25 de março de 2010 -, os torcedores apelaram aos buracos no muro do estádio para ver a partida. Um deles levou até uma a imagem do Santo André à praça esportiva.

E a torcida perdeu jogo dramático. O primeiro tempo foi equilibrado. Por necessitar da vitória, o Santo André dominou as ações diante dos reservas do União Barbarense, que já classificado apenas cumpriu tabela. Apesar do domínio, a primeira chance do Ramalhão aconteceu somente aos 25 minutos, quando Raul Diogo cruzou para Fábio Santos cabecear por cima.

Por muito pouco o Santo André não abriu o placar aos 29, em lance inusitado. A zaga recuou para Cleber, que tentou dominar, mas a bola passou por baixo dos pés do goleiro e saiu lentamente à direita. O gol saiu em momento oportuno. Aos 45, o volante Batata arriscou da intermediária e acertou um belo chute no ângulo: 1 a 0.

No segundo tempo, o Santo André valorizou a posse de bola, mas a tática quase foi por água abaixo. Caihame chutou forte e Gustavo mandou a escanteio. Aos seis, Gustavo cobrou falta e o goleiro andreense salvou outra vez. O Ramalhão só voltou a assustar aos 24, quando o zagueiro Luiz Paulo cobrou falta com perfeição e acertou a trave direita. Três minutos depois, quase sai o empate. O goleiro Gustavo deu rebote, Juliano chutou e a zaga afastou.

Nos instantes finais veio o drama. A final, pelos resultados da rodada, caso o Barbarense empatasse o Ramalhão estaria rebaixado. Mas o time segurou o resultado e comemorou a permanência na Série A-2.

Dirigente não esquece descaso da Prefeitura

A matemática é simples: foram sete pontos conquistados em nove disputados no Bruno Daniel. Com base nesses números, o diretor de futebol do Santo André, Sérgio do Prado, assegura que se o time estivesse com o estádio liberado desde o início lutaria por vaga nas finais da Série A-2.

"Grande parcela da culpa por essa situação é do poder público. Culpa do secretário de Esportes (Carlos Roberto Panini) e do diretor (Almir) Padalino que paralisaram a construção do muro pedido pela Polícia Militar, o que impediu o Santo André de jogar sete jogos em casa", desabafou.

Sergio do Prado agradeceu o apoio do Coronel Isidro Suita, vice-presidente da Federação Paulista. "Devemos muito a ele, que mostrou disposição e nos ajudou a liberar parcialmente o estádio."

Batata revela inspiração Divina antes do chute

Não foi o primeiro, mas seguramente o gol mais importante da carreira do volante Batata aconteceu ontem. Aliviado, no vestiário, o jogador explicou que teve inspiração Divina para acertar o chute que definiu o 1 a 0 sobre o Barbarense.

"Vi que o Raul Diogo estava passando livre, mas parece que ouvi Deus dizendo para eu chutar. Então resolvi arriscar e deu certo", comemorou. Já fiz outros gols daquela posição, até porque faz parte da minha característica, mas nenhum foi tão importante como esse", reconhece.

Batata disse que no Santo André não pôde desenvolver seu melhor futebol por causa da contusão no joelho esquerdo durante a competição. "Fiquei muito tempo parado, depois procurei readquirir o ritmo físico dos demais. Não sentia muita firmeza na perna, por isso evitava arriscar. Mas hoje (ontem) deu vontade e consegui acertar um belo chute no ângulo", comemora.

Além de inspiração Divina, Batata foi cobrado dentro de casa. O volante revelou que sua esposa Vanessa, com quem é casado há oito anos, pediu um gol na véspera da partida decisiva.

"Falei com ela ontem (anteontem) à noite e ela disse que eu faria o gol da vitória. Respondi que era difícil porque estava com função mais defensiva, mas depois que a bola entrou foi a primeira coisa que me veio à cabeça", recordou-se. "Fico feliz em poder ajudar o Santo André e retribuir o que fez por mim. Estou aliviado e posso dormir sossegado", completou.




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