Enquanto esteve no Brasil, o pianista, compositor, arranjador e violonista Tuti Fornari, de São Bernardo, passeou por vários estilos – do jazz ao eletrônico. Mas foi de 1996 a 2000, período em que morou na Califórnia, Estados Unidos, que redescobriu a música brasileira. Desse reencontro, nasceu o CD Saudobra, cujo título é uma alusão àquele seu estado de espírito, o de saudades do Brasil.

Teria sido um encontro comum, não fosse o fato de Fornari ter, com isso, aberto a porteira de seu trabalho como compositor. A criatividade jorrou, carregada de intuição e sentimento e o resultado foi um trabalho absolutamente visceral.

Fornari diz que, antes dessa experiência, seu processo de composição era mais racional – havia uma preocupação maior com a questão técnica. “Agora, abro o canal e deixo vir a música. Às vezes vem inteira. É como se estivesse esperando para fazer o download”, compara o músico, aos risos.

O disco traz de tudo um pouco: samba, bossa nova, interpretação suingada e até jazz. “Quando terminei a De Momento, falei comigo mesmo: ‘Acho que o fantasma do Cole Porter estava por perto‘. Depois, li num blog que a pessoa teve a mesma sensação de ouvir algo próximo de Cole Porter”, diz.

Isso não torna Saudobra menos brasileiro porque, segundo Fornari, a interpretação é carregada do sotaque nativo. Na leitura do músico, isso deu personalidade ao trabalho, a sua assinatura como intérprete e como compositor, principalmente.

O disco traz 24 faixas, num total de 77 minutos. Segundo Fornari, metade vem da fase em que morava no exterior; o restante é oriundo das fases anterior e posterior à época, mas que entraram no CD por combinar com a proposta. Com Agreste, por exemplo, o pianista ganhou um concurso, aos 12 anos. Ele toca desde os três.

Fornari, aliás, tem um trabalho multifacetado. Já trabalhou com trilhas sonoras de cinema (Albino Alligator, dirigido por Kevin Spacey), de teatro (O Pequeno Livro das Páginas em Branco, de Jaime Celiberto, estrelado por Gianfrancesco Guarnieri) e exposições (Reflexos, para a instalação Tenho Nuvem nos Olhos, de Carmen Novo). Além disso, tocou na Stanford Jazz Ensemble e é profundo conhecedor de música eletrônica.

No momento, tem dois projetos em andamento: um CD de músicas infantis e outro de música brasileira, também com cerca de 20 músicas. “Esse será do antichoque cultural, da minha readaptação no Brasil, pois quando cheguei aqui não entendia exatamente o que estava acontecendo e as expressões novas que as pessoas usavam”. Por enquanto, a única forma de adquirir o CD Saudobra é por meio da internet (http://tuti.garoa.com).