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Risco de indexaçao de salários preocupa o governo
Do Diário do Grande ABC
27/10/1999 | 18:10
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O risco da volta da indexaçao dos salários preocupa o governo, disse nesta quarta-feira o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Edward Amadeo. Ele alertou, porém, que as condiçoes da economia, nesta quarta-feira, nao sao as mesmas que vigoravam nos tempos de inflaçao alta, quando a política de correçao automática de salários esteve em seu auge. "A preocupaçao existe e é legítima; em tese, o risco da volta da indexaçao é inegável", disse ele. "Mas os fatos talvez possam dizer o contrário."

Amadeo fez essas observaçoes ao comentar os acordos celebrados pelos bancários e pelos funcionários da Sabesp, que obtiveram aumentos salariais acima da inflaçao. Até antes do Plano Real, os acordos fechados pelos bancários serviam de referência para as outras categorias trabalhistas do País. O secretário disse que o "efeito farol", ou seja, uma categoria servir de guia para as demais, pode ocorrer. "Na Alemanha, sao os metalúrgicos; basta eles negociarem, e as outras categorias simplesmente repassam o mesmo índice", exemplificou.

Ele acredita, porém, que as condiçoes da economia brasileira, nesta quarta-feira, sao muito diferentes das do final da década de 80. "Em primeiro lugar, nao temos mais uma política salarial em vigor, que estabeleça reposiçoes automáticas e lineares aos salários", observou. Amadeo lembrou que a existência de uma política salarial desse tipo nao é garantia de ganho para o trabalhador. "Quando os mecanismos de reposiçao estiveram mais sofisticados, foi quando o salário real mais perdeu", lembrou.

Além disso, está em curso um processo de descentralizaçao nas negociaçoes salariais que nao prevê mais os mesmos índices de reajustes salariais para um conjunto de empresas. "Hoje pesam muito mais as particularidades de cada uma", comentou. Isso porque, atualmente, as empresas precisam ser muito mais competitivas para sobreviver. Por isso, o custo de produçao de cada uma é levado em consideraçao.

Na avaliaçao de Amadeo, a tendência é que uma ou outra categoria consiga reajustes acima da inflaçao. "Mas deverao ser situaçoes localizadas", disse.

Inflaçao reprimida - A ausência de indexaçao salarial foi um dos fatores que impediu a volta da inflaçao logo após a desvalorizaçao do real, e foi um dos elementos levantados pelo secretário para mostrar que nao há inflaçao reprimida no Brasil, como afirmam alguns analistas.

Eles baseiam-se no fato de que os índices de inflaçao medidos no atacado estao abaixo daqueles medidos nos preços diretos ao consumidor. Haveria, portanto, um pedaço de inflaçao a ser repassado do atacado para o varejo.

Amadeo acredita, porém, que nao há inflaçao a ser repassada. Em primeiro lugar, por razoes metodológicas: os índices de atacado têm, em sua composiçao, uma quantidade muito maior de produtos comercializáveis com o exterior e sao, por isso, mais sensíveis às variaçoes de câmbio.

Já os índices de preço ao consumidor pesquisam principalmente os preços de serviços, que nao sao afetados pelo câmbio. Por isso, a diferença entre a inflaçao medida por cada um. Além disso, acredita ele, nao haverá aumento de preços quando a economia voltar a aquecer-se, como acreditam alguns analistas, porque há capacidade ociosa na indústria. "A disputa pelo mercado tende a prevalecer sobre o reajuste nos preços", disse.




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