Economia Titulo Mercado de trabalho
Metade dos aposentados
do ABC volta a trabalhar

Calcula-se que índice atinja 60% do total se considerar
os profissionais que atuam informalmente no mercado

Vinicius Gorczeski
Diário do Grande ABC
01/04/2012 | 07:30
Compartilhar notícia


O Grande ABC soma 262,87 mil aposentados, e metade deles continua trabalhando, garantiu o diretor da Associação de Aposentados e Pensionistas do ABC, Luís Antonio Ferreira Rodrigues. Ele calcula que o número atinge 60% se incluídos beneficiários hoje informais no mercado. No País, o índice é bem menor. Estima-se que 20% estejam na ativa.

Isso se explica porque a região tem média salarial maior que a média nacional. E o benefício acima do piso é reajustado em índice menor ao do salário-mínimo, hoje em R$ 622, o que leva à aproximação entre os dois pagamentos.

A necessidade de dinheiro para garantir o sustento tem sido a regra do cenário trabalhista na maioria dos casos da região, lamenta Rodrigues: "Idoso tem que voltar ao trabalho senão morre de fome."

O gerente da área de expertise da Hays Human Resources, André Magro, afirma que o recente apagão na mão de obra especializada no País também obrigou empresas a recrutarem quem acumulou mais anos de experiência no mercado de trabalho - caso de funções mais técnicas, como engenharia. Pesquisa feita pela agência mostrou que 20% das firmas contratam aposentados no País. Somado à falta de profissionais e ao baixo valor dos benefícios, o desejo da categoria forma a tríade que justifica o fato de as pessoas que deveriam estar em casa - pela lógica previdenciária - voltarem ao emprego.

POUCA RENDA

Segundo o dirigente sindical, só o fator previdenciário, que considera, entre outros, idade da aposentadoria e expectativa de vida, derruba em 40% o padrão de vida do aposentado. O que se vê, segundo Rodrigues, é a progressiva perda dos ganhos do idoso, que ao sair da empresa mantém planos de saúde, que, com a idade, ficam mais caros, comprometendo o orçamento e levando à rescisão desses contratos. "Quando eles mais precisam", assinala Rodrigues.

PADRÃO DE VIDA

É para comprar comida que o aposentado e porteiro Ismael da Rocha, 53 anos, foi trabalhar na recepção de um prédio comercial em Santo André. "O que ganho é para isso, e pagar contas. Sorte que não tenho despesa com aluguel, porque moro em lugar que pertencia ao meu sogro. Meu sonho era ganhar R$ 3.000. Dar entrada num carrinho, ter uma vida mais confortável."

Antes de pedir o benefício, Rocha ganhava, na ativa, quase R$ 1.000. Soube que receberia R$ 900 de benefício e recorreu a uma aposentadoria especial, da qual tira R$ 1.100. O valor poderia ser maior não fossem as carências e política de concessão previdenciária. Voltar ao trabalho significou manter o padrão de vida, já que seus gastos aumentaram. Seus filhos, que cursam universidades privadas, e sua mulher dependem dele.

A aposentada Marli Andrade, 55, é funcionária de empresa de confecções em Santo André e também atua como diretora no Sindicato dos Empregados no Comércio do ABC. Por conta da redução lenta, mas progressiva, do poder de compra, ela decidiu trabalhar dois anos além da carência necessária para retirar o benefício porque, caso contrário, ganharia menos. Mesmo assim, quando se aposentou, há oito anos, passou a receber R$ 1.300. Antes, na ativa, ganhava R$ 2.500 - 92% mais. "Aposentadoria hoje é simbólica, e a cada ano ela vai caindo."

COMÉRCIO

Um dos maiores setores a contratar aposentados é o de serviços (25%) - segundo pesquisa da Hays -, que inclui o comércio. Essa área reúne 120 mil. Não é possível precisar, mas grande parte deles são idosos, assegura o vice-presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio do ABC, Lourival Cristino Santos, 68 anos, ele próprio trabalhador de grande rede varejista (atua no sindicato por convênio). "A necessidade nos força a procurar emprego na área, que é mais fácil", afirmou Santos.

Diferentemente do que se imagina, trabalhadores rumam da indústria direto para o comércio, diz o representante. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC frisou que desde 2008, quando espalhou a crise, aposentados pediram as contas em programas de demissão voluntária. O Dieese regional mostra que 7% do total de 107,5 mil funcionários da base tinham mais de 50 anos em 2010. (Apenas 0,3% com idade acima de 65.)

Buscar vagas no comércio é mais fácil porque o traquejo adquirido por anos a fio cativa empregadores. E procurar oportunidade na área foi a saída do aposentado e trabalhador das Casas Bahia Sinesio Pereira de Sousa, que hoje também atua na diretoria do sindicato dos comerciários. A renda dele caiu mais da metade ao aposentar - de R$ 2.500 para R$ 1.032, 58,72% de queda. "Foram necessários dez anos para que esse valor dobrasse, para R$ 2.081 bruto", diz ele.

Pesquisa Oxford Economics junto à Hays prevê que, em 2030, 20% da força de trabalho será composta por profissionais com mais de 65 anos. Nesse ano, o País terá 16,2 milhões de pessoas a mais em grupo com idade maior que 65 - essa faixa vai representar 19,7% da população economicamente ativa no Brasil, destaca o estudo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;