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Aparecida: fé que move
Miriam Gimenes
05/10/2017 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Não há outra maneira de a aposentada Marli Santos Barros, 61 anos, se apresentar a Nossa Senhora Aparecida que não seja de joelhos. Esse é seu compromisso anual como forma de reconhecer as ‘graças que recebe diariamente em sua vida’. “Perdi meu primeiro filho no parto e não conseguia mais engravidar. Pedi a ela, debaixo de um cafezal, para me conceder a graça de ser mãe e fui atendida. Depois, tive mais quatro e, do primeiro, a escolhi como madrinha.”

O mesmo rapaz, batizado por uma moça morena para representar a santa, também não teve vida fácil. Aos 4 meses de vida quase morreu por conta de parada cardiorrespiratória durante uma cirurgia para retirada de hérnia. Quando moço, sofreu acidente de moto quase fatal e, há seis anos, teve um câncer agressivo no estômago. “Ajoelhei em frente ao seu leito de hospital e pedi a intervenção dela, que me atendeu. Nem sei se sou merecedora de tanta graça, mas Nossa Senhora é minha companheira”, relata, com lágrimas nos olhos e voz embargada, a devota, que não liga em viajar seis horas de ônibus de sua cidade, Elói Mendes, em Minas, para Aparecida.

E assim como a mineira, cerca de 12 milhões de pessoas visitam anualmente o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no Vale do Paraíba, maior do mundo dedicado a Maria, mãe de Deus. O número equivale a pouco mais que quatro vezes a população do Grande ABC, que conta com 2,7 milhões de pessoas.

O pico de visitação é aos domingos, quando passam por lá cerca de 200 mil pessoas, número também esperado para o dia 12, quando é comemorado o dia de Nossa Senhora e, em 2017, também os 300 anos do encontro da imagem pelos pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia no Rio Paraíba do Sul. 

O ano era de 1717 quando eles receberam a missão de conseguir peixe para o banquete que seria oferecido pela Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá a Dom Pedro de Almeida e Portugal, o Conde de Assumar. Ele era o governador da província de São Paulo e Minas Gerais e mandou avisar que passaria na região.

Os três foram, então, até o rio em questão e, após várias tentativas de pesca sem sucesso, eis que sentiram a rede pesar. Quando puxaram viram o corpo de uma santa. Mais para frente foi a vez de achar a cabeça, coincidência tida como milagre. Jogaram mais uma vez a rede e, o que antes subia leve, voltou a pesar com inúmeros peixes. A santa, que era Nossa Senhora da Conceição e ganhou o Aparecida no nome, pelo simples motivo de surgir das águas, passou a ser cultuada e a atrair peregrinos desde então. E lá se vão três séculos repletos de histórias emocionantes de fé e devoção.

Passeio noturno permite outro olhar sobre o templo mariano
Quem fica no Hotel Rainha do Brasil, a hospedagem oficial do santuário, além de toda estrutura proporcionada pelo local – inaugurado em 2012 –, tem um compromisso especial: partir às 18h50 rumo à Basílica para fazer o passeio noturno, que é gratuito.

Levado por um translado, o grupo encontra o guia que explica toda a arquitetura e arte do local. O tour, que tem início na imagem, dura cerca de duas horas e mostra, entre outras curiosidades, o significado das obras de Claudio Pastro, quantos tijolos foram usados para construção, a razão do formato dos portais (que representam a mão de Cristo) e até sobre o desenho do piso que circula a basílica, que imita o movimento das águas do rio, de onde surgiu Aparecida.

“Fiz este passeio o ano passado e resolvi participar de novo, porque a cada vez é um olhar diferente sobre este lugar. É maravilhoso”, relata a aposentada Helena Bordezan, 62 anos, da Capital. Embora seja para os hóspedes do hotel, nada impede que quem esteja neste horário na basílica possa acompanhar o grupo, que se reúne de segunda a sexta-feira, às 19h. Para consultar as tarifas do hotel o telefone é (12) 3104-1010.

HISTÓRIA
A fim de ir a fundo na história do santuário, duas atrações do Memorial da Devoção Nossa Senhora Aparecida ganham destaque: o Cine Padroeira e o Museu de Cera. No primeiro, dá para assistir ao filme A História de Nossa Senhora Aparecida, com efeitos holográficos em 3D – sem a necessidade de óculos – e 15 minutos de duração. Em seguida, o visitante pode conhecer os personagens que fizeram parte da história de fé e devoção no museu. Ao todo, são 68 estátuas em tamanho natural – tem desde a Princesa Isabel até Renato Aragão –, divididas em 20 cenários. O ingresso conjunto custa R$ 10.

Tour pelas áreas sagradas da basílica
Foi em 3 de outubro de 1982 quando a imagem, que antes ficava na Antiga Basílica, foi para a nova. No ano seguinte, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) declarou, oficialmente, a Basílica de Aparecida como Santuário Nacional.

A área específica da basílica tem 72 mil m² – inclui pavimentos inferior e térreo, arcada e tribuna Sul, a cúpula central (que poderá ser visitada a partir do dia 11), as capelas da Ressurreição e do Batismo, além da torre Brasília. No seu interior fica o nicho da imagem da padroeira do Brasil (conforme decreto assinado pelo papa Pio XI em 1930), exposta em um retábulo de 37 metros de altura.

Ali próximo, mais precisamente à esquerda da porta santa, fica outro lugar bastante visitado, a capela das velas. Logo ao alto é possível ver a cruz feita pelo artista sacro Claudio Pastro (1948-2016) – que assina a todas as obras de arte da basílica –, feita em aço. Mas o que chama atenção mesmo é a quantidade de velas, de diversos tamanhos, colocadas lá, geralmente, em sinal de agradecimento e pedido de proteção a Nossa Senhora. Em um fim de semana são retiradas, em média, dez toneladas de cera derretida. O local fica aberto das 6h às 19h.

Outro ponto crucial do santuário é a sala das promessas, onde são colocados objetos, cartas e testemunhos de fé à santa. Lá há desde fotos de família – são cerca de 87 mil delas –, até pertences de artistas, como o vestido da ex-miss Brasil Natália Guimarães, por exemplo. Em temporadas de movimento, são recebidos cerca de 25 mil objetos por mês.

Complexo turístico é pouco conhecido
Muitos dos que vão a Aparecida, para agradecer e rezar, não sabem, no entanto, que o Complexo Turístico Religioso do Santuário Nacional abriga também outros pontos, como, por exemplo, o Morro do Cruzeiro (onde é possível chegar de bondinho em um trajeto de 1,1 quilômetro ou por meio de via-sacra). A tarifa, para adulto ida e volta, custa R$ 26. Uma vez lá, dá para subir na torre, que tem 30 metros, para admirar vista privilegiada da basílica e da cidade, já que tem uma vitrine panorâmica de 360 graus.

Os visitantes também podem ir ao Morro do Presépio, localizado nos pátios do santuário e que abriga esculturas referentes ao nascimento de Jesus e outras representações, tudo com peças em tamanho natural feitas em cimento, como o encontro da imagem de Nossa Senhora.

Ainda ali, próximo à basílica, tem o Centro de Apoio ao Romeiro, que possui praça de alimentação, 380 lojas, além de parque de diversões e o Aquário de Aparecida, com diversos tanques onde habitam espécies marinhas, peixes de água doce e a atração que faz mais sucesso: uma piscina com tubarões. Com o pagamento do ingresso de R$ 10 é possível entrar e sair a hora que quiser.

Fora do complexo, já no Porto Itaguaçu, local onde foi encontrada a imagem no Rio Paraíba do Sul, é possível fazer passeio, com duração de 20 minutos, em embarcações ao estilo catamarã, que têm capacidade para 60 pessoas, todas sentadas e com coletes salva-vidas. Os passeios são das 8h às 17h ao custo de R$ 12 (adultos) e R$ 8 (crianças e idosos). 




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