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Demissão surpreende trabalhador
William Glauber
Do Diário do Grande ABC
29/08/2006 | 22:20
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Entre os mais de 10 mil metalúrgicos que participaram terça-feira da assembléia no pátio da fábrica Anchieta da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo, destacaram-se na multidão aqueles que perambulavam, cansados, abatidos e desnorteados, com uma carta de demissão nas mãos. Todos personagens de uma vida não tão perfeita assim que, em poucas horas, dariam a desagradável notícia do desligamento aos seus familiares.

A esses trabalhadores, a montadora deu o seguinte recado: “Comunicamos à Vossa Senhoria que, após o prazo de estabilidade que se encerrará em 21 de novembro próximo, esta empresa o estará demitindo, com pagamento das verbas rescisórias e indenizando o aviso-prévio.” O signitário do documento é a direção de Recursos Humanos da Volkswagen do Brasil.

Por meio da carta, a Volks falou diretamente a empregados como o operário da montagem final Eli Gomes Diniz. Embora tenha recebido da chefia a carta de desligamento, ele garantiu, meio confuso, que não pode ser demitido por contar com restrição médica. “Não sei o que fazer agora, mas eu estou tranqüilo porque falta apenas um ano e meio para me aposentar. Vou entrar com processo para ser readmitido”, disse o metalúrgico, de 49 anos de idade e 21 de Volks.

Diversos colegas de Diniz reclamaram ter restrição médica, o que supostamente impediria a montadora de efetuar as demissões. Entre as inúmeras enfermidades ocupacionais, estão bursites, tendinites, hérnias e muitas outras. “Estou com processo por causa da minha coluna. Por 10 anos, trabalhei na fundição, carregando peças de 25 quilos”, contou o operário da armação Givaldo Luiz dos Santos, com 13 anos de “casa”.

Santos narrou o momento do anúncio. “O monitor me chamou na sala e entregou a cartinha. Eu não esperava, mas isso está acontecendo”, disse o metalúrgico. “Eu sempre dei o máximo de mim. Sempre trabalhei animado e hoje recebi esse baque”, lamentou Santos, um homem casado e pai de dois filhos. Para ele, a culpa das demissões é somente da Volkswagen. “Foi a mau administração da empresa”, disparou, desconsolado.

Na mesma situação de Santos, encontra-se o montador Marco Delmonte, de apenas 37 anos de idade, dos quais 17 deles dentro da Volkswagen. “Estou longe da aposentadoria, mas aqui no Brasil se passar dos 40 você fica velho”, disse o demitido, ao prever dificuldades para recolocação profissional. Ele também garante ter restrição médica.

“A empresa foi desleal, e ainda mandou muitos colegas que estão próximos da aposentadoria”, reclamou Delmonte. O montador disse que inevitavelmente trabalhará desmotivado ao longo dos próximos três meses por ter ciência de sua saída do quadro de pessoal da Volkswagen. De sua renda mensal, dependem a mulher e dois filhos.

Pai de dois filhos, o metalúrgico Cláudio da Conceição Cruz, com tendinite e bursite, também recebeu a “cartinha” da Volks. Com apenas 39 anos de idade e 17 deles nas instalações da Anchieta produzindo Gol, Polo, Fox, ele disse estar “triste”. “Foi horrível e muito triste. Espero alguma coisa para reverter as demissões”, torceu Cruz.



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