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Cara de caminhão, conforto de automóvel
Por André Gomide
Agência AutoInforme/Molicar
22/05/2003 | 20:41
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Ao assumir o acento do motorista desse Mercedes-Benz você ajusta o volante em altura e profundidade, define a melhor posição do banco que pode ser regulado em altura e inclinação, fecha os vidros das portas e regula os retrovisores usando comandos elétricos e, depois de ligar o motor, ajusta o ar condicionado com o nível de resfriamento que deseja. Não, não estou falando do sedan C 280, ou de qualquer outro luxuoso modelo produzido pela marca. O modelo com todos esses recursos de conforto faz parte da nova linha de caminhões leves que o fabricante está colocando no mercado. E para aproximar ainda mais o caminhão do mundo dos automóveis a marca resolveu personalizar o modelo que foi batizado com o sonoro nome de Mercedes Accelo.

Durante o lançamento da nova linha, no pátio da fábrica da empresa em Campinas, Jornal Veículos colheu as primeiras impressões das duas versões que chegam ao mercado em dois momentos diferentes. O Accelo 915 C, com capacidade para nove toneladas (5.880 de carga útil), começa a ser vendido nos próximos dias ao preço sugerido de R$ 73 mil. Já o 715 C, credenciado para sete toneladas (4.360 de carga útil), e a grande estrela da linha, começa a ser vendido apenas no segundo semestre desse ano, mas seu preço ainda não foi definido. A exemplo da 915 C, seu preço também ficará acima dos produtos que a marca oferece atualmente nessa faixa de tonelagem. Os Mercedes 710, 712 e 914 têm preços em torno de R$ 56 mil.

Mas é bom que se esclareça que os caminhões que estão sendo vendidos hoje são dinossauros perto desse novo projeto. A Mercedes, ao que se nota, não aplicou apenas uma medida paliativa, de rejuvenescimento da linha, como acontece algumas vezes. A empresa afirma que investiu US$ 160 milhões para criar, desenvolver e colocar na linha de produção o modelo Accelo. É tudo novo nele. E isso é possível ver e notar quando se experimenta o caminhão. O resultado, de uma maneira geral, está de acordo com a postura e imagem da Mercedes, que sempre foi referência nos seus produtos.

Mais abrangente também na sua visão de mercado, a empresa quer conquistar os autônomos, um consumidor que era desconsiderado pela marca em anos passados. É claro que a postura dos concorrentes, em especial a Volkswagen Caminhões e a Ford Caminhões, ambas em fase progressista, "ajudaram" a Mercedes se mexer e mudar alguns de seus conceitos. E garantir volume nessa faixa de mercado, significa que a marca estará bem na foto quando se anunciam os fechamentos mensal e anual de vendas. Nos cinco primeiros meses desse ano, segundo dados da Anfavea, os leves representaram 28% (6.016 unidades) do total de caminhões vendidos (21.604 unidades). Nos leves, a Volkswagen aparece na frente com 39% das vendas do segmento (2.885 unidades). Então, no fechamento total, a Volkswagen surge como líder com 6.885 caminhões vendidos, contra 6.828 da DaimlerChrysler (Mercedes-Benz). E ser citado como líder de mercado faz bem para qualquer empresa.

Embora os caminhões Mercedes estejam aí, prontos para serem vendidos, a reação da empresa para enfrentar esse novo quadro do mercado começou há alguns anos. O projeto do leve Accelo começou a nascer em 1997, quando surgiram os primeiros esboços do desenho. Em 1999 os rascunhos começaram a tomar forma nos primeiros protótipos. Desde então, o modelo passou por uma longa bateria de testes de durabilidade (segundo a Mercedes foram rodados 2,7 milhões de quilômetros) até seu lançamento, no início de maio.

Voltando ao produto final, pode-se afirmar que o Accelo está inaugurando um novo conceito de veículo de transporte. Além dos itens de conforto, o projeto eleva sua qualidade também na linha de produção onde são usados sete robôs na linha de montagem da cabine e outros cinco na de pintura. Muitos fabricantes de automóveis, como a Honda por exemplo, não dispõem dos mesmos recursos nas suas linhas de montagem.

E tanto esmero e inovações não visam a enfrentar apenas os concorrentes do mercado interno. Com esse modelo, a Mercedes que alçar vôos internacionais incrementando seu programa de exportações. Inicialmente o Accelo será vendido também em países da América Latina como Argentina, Chile e Colômbia. A Mercedes não admite, mas com os recursos incorporados nesse produto para redução de emissões ele está credenciado para rodar também em países europeus.

Outro detalhe que chama a atenção são as portas que cobrem os degraus que dão acesso ao interior da cabine. Para os executivos da Mercedes, esse toque no design tem entre seus objetivos elevar o nível de segurança contra assaltos, pois entendem que o gatuno, dessa forma, não conseguirá abordar o motorista. Acredito mesmo que o melhor disso está no efeito estético, pois o larápio pode abordar o motorista estando no passeio público já que a janela não é muito alta.

Como caminhão do pequeno empresário (80% das vendas do segmento são para frotistas com até cinco unidades), e que vai atuar a maior parte do tempo na cidade, o Accelo oferece soluções bem interessantes. Além do conforto similar ao de um automóvel, criado pelo conceito "car like", a cabine possui o que chamam de Cab Office. Além do ponto de energia de 12 volts (para carregar celular ou ligar aparelhos elétrico-eletrônicos), os ocupantes têm ao seu dispor inúmeros porta-objetos espalhados pelo interior da cabine. O toque final no "escritório" é o encosto do banco central que pode ser rebatido, surgindo ali uma pequena mesa de trabalho.

Só o esforço para se chegar à cabine (são dois níveis) não está de acordo com a anunciada ergonomia do modelo. Os dois degraus vão se tornar cansativos nas entregas porta-a-porta que exigem um constante sobe e desce da cabine. Nas plataformas de carga e no trem de força, os modelos estão sugerindo um novo parâmetro para o mercado. Pela demonstração da Mercedes, os modelos superam quase todas as capacidades dos seus concorrentes (leia-se Volks e Ford). Os Accelo levam mais carga útil e oferecem maiores volumes frente aos seus concorrentes. Isso significa que a briga nessa faixa de mercado vai ficar nos detalhes.

Ambos os modelos são equipados com motores eletrônicos e freio a disco no eixo dianteiro e traseiro, todos ventilados. O motor do Accelo 715 C, o primeiro a ser avaliado pelo Jornal Veículos, é um cinco cilindros em linha com injeção eletrônica common-rail gerando 156 cv de potência a 3.800 rpm. Equipado com acelerador eletrônico, direção hidráulica e embreagem de acionamento hidráulico, entre outros recursos, sua condução é semelhante à de um automóvel. O motorista não faz o mínimo esforço para manobrar ou manter o veículo a uma velocidade constante de 100 km/h.

Outro detalhe que chamou a atenção nesse modelo foi a disposição do motor. Além de ágil e do baixo nível de ruído e vibração, o torque de 34 mkgf, de curva "retilínia", mantém a velocidade (às vezes aumenta) quando surgem elevações pela frente. Esse modelo é todo Mercedes. O câmbio, por exemplo, apresenta engates suaves e macios em todos as marchas. E foi exatamente dessa aceleração e agilidade que a Mercedes tirou a inspiração para o nome do modelo.

Já o Accelo 915 C, avaliado em seguida e que será oferecido primeiro ao mercado, deu uma ducha de água fria, se comparado com o modelo 715 C. Sua condução lembra o velho estilo dos caminhões. O motor (quatro cilindros) de 152 cv (a 2.300 rpm) tem elevado nível de vibração e sua faixa de torque (59 mkgf) é limitada entre 1.200 e 1.500 rpm exigindo melhor planejamento para vencer subidas. O câmbio (única peça que não é Mercedes – fornecida pela Eaton) tem engates rústicos e pesados.




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