A evolução da imprensa se deu por ciclos associados à tecnologia disponível para a captação das notícias e a
A evolução da imprensa se deu por ciclos associados à tecnologia disponível para a captação das notícias e a formatação dos produtos. Mas o jornalismo independe da forma. Historiadores admitem as atas romanas como um gênero de notícia. O papel pode até desaparecer um dia, mas o jornalismo não. Por isso, o que importa é o conteúdo.
Até o final do século 19, predominava o jornalismo inspirado na literatura, política e informações mercantis. Depois, em paralelo à invenção da fotografia e o rádio, o jornalismo evoluiu e tornou-se mais parecido com os parâmetros atuais, mesclando interpretação e opinião. A internet, ao veicular notícias imediatas sobre cotações das bolsas e moedas, decisões governamentais, competições esportivas, utilidades públicas e iminências como acidentes e mortes, entre outros assuntos, selou aquilo que se prenunciara com a televisão: os jornais impressos não são mais o espaço exclusivo para abrigar as chamadas notícias quentes.
O furo jornalístico tornou-se raridade. Apesar de a agilidade continuar sendo valorizada pelo leitor, num mundo frenético, competitivo e de transformações múltiplas, pesa muito mais a qualidade da apuração do que sair à frente. Mas para isso existe a internet associada à credibilidade do veículo tradicional impresso. Isso torna ainda mais difícil a tarefa dos jornais impressos. Antes, segurava-se uma boa história na gaveta por alguns dias. Hoje, a exclusividade pode durar minutos. Por isso, o impresso não pode depender do ineditismo.
O PAPEL DO JORNAL LOCAL
As fontes passaram a ser produtoras da notícia bruta, pulverizada com rótulo de jornalismo. Instituições governamentais, empresas e pessoas físicas divulgam informações de interesse próprio com o mimetismo dos parâmetros jornalísticos. São releases disfarçados de notícia definitiva, checada. Cabe ao jornalismo autêntico um novo papel nessa nova realidade: o de pesquisar o que esteja encoberto nos fatos relevantes divulgados oficialmente. Alimentar as versões do natural conflito de interesses. O jornalismo, então, parodoxalmente, se torna ainda mais relevante para a sociedade porque filtra e hierarquiza. É útil quando quebra o monobloco da fonte única e pretensamente dona da verdade, seja uma prefeitura, uma universidade ou uma indústria.
Numa cidade, só o jornal tem a independência, a força e a capacidade de juntar as peças do quebra-cabeças informativo. O poder público, a Justiça e todas as pessoas que geram notícias da comunidade fazem parte do todo. O jornal também é parte, não é uma bolha. A diferença é que é sua por natureza a missão de organizar o debate. A verdade absoluta é utópica, mas o jornalismo local ainda é o mais apropriado para buscá-la todos os dias, com as suas ferramentas de investigação e reposição permanente dos fatos.
TENDÊNCIAS
Por tudo isso, o cardápio dos jornais vem se alterando gradativamente. Os conceitos são atualizados ao sabor dos novos tempos. É uma exigência dos leitores. O jornal não pode mais se limitar ao que aconteceu na véspera. Deve, no mínimo, dizer o que está acontecendo e o que vem por aí. As notícias deixaram de ser meras observações com depoimentos e descrição de cenas materiais e passaram a incluir, além desse factual que a televisão e a internet já exploraram, as explicações e implicações dos fatos. O jornal impresso caminha mais para um jornalismo de tendências - compreender o presente, com um pé na atualidade e outro no futuro.
GLOBALIZAÇÃO
A globalização provocou a ingênua sensação de que a imprensa poderia ser pasteurizada à semelhança do McMundo, num planeta com tendências a padrões culturais uniformes, independentemente de barreiras geográficas ou geopolíticas. Mas a massificação e o poder global interferem de maneira diferente em relação à produção de soja transgênica. A informação não é commoditie porque é local, regional. Ao mesmo tempo em que a globalização avança, os valores locais se tornam mais importantes para o indivíduo se situar no novo mundo oferecido pela televisão e internet.
Muita coisa mudou desde Gutenberg no século 15 e o advento do celular e da internet nos anos 1990. Mas os grandes jornais continuam ignorando o que se passa no interior do país porque não dão conta nem da cobertura das metrópoles onde estão situados. E a imprensa continua sendo regional. Já é possível fazer compras, cirurgias e conferências virtualmente, mas não se inventou ainda o jornalismo à distância. Bom para a imprensa regional, que se fortalece e amplia os vínculos locais. Bom para as comunidades, que sabem onde procurar para defender suas ideias. A imprensa, definitivamente, não pode ser produzida como se fabrica um big mac. Há que existir o sabor local, temperado com a tradição, a realidade e a atuação dos jornalistas de cada cidade.
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